Este debate sobre Chávez e os novos movimentos da esquerda na América Latina tem sido interessante de acompanhar e teve o condão de, pelo menos, trazer um novo fôlego para o debate político na blogosfera. Gostaria de centrar este meu post na esquerda. De um lado, temos a postura cautelosa que torce o nariz perante as ambivalências de Chávez (o populismo carismático, o egocentrismo, os tiques autoritários…) e questiona se de facto este representa uma real alternativa ao modelo neo-liberal; do outro lado, temos uma adesão ao suposto processo revolucionário de transformação socio-económica que está ocorrer em alguns países da América Latina. Segundo esta perspectiva a figura de Chavez não é o mais importante, como também não é importante centrar o debate na questão democrática. Contudo, devo confessar que tenho alguma dificuldade em entender a perspectiva de José Neves (defensor desta última posição): não percebi se a sua crítica é ao modelo liberal de democracia ou se é à democracia em si enquanto sistema.
Na minha opinião qualquer processo reformista ou até revolucionário deve ser enquadrado e constituído por intermédio de uma sistema democrático representativo (e não me refiro somente aos partidos, mas também, aos sindicatos, às associações – inclusive às patronais). Aliás, um dos grandes problemas das actuais democracias liberais (americana e também europeias) tem sido, quanto a mim, a limitação do campo representativo da democracia quer a nível micro - nas empresas, nos sindicatos, na administração pública, nas universidades; quer a nível macro, por exemplo, na construção da União Europeia.
Por outro lado, entendo que a suposta revolução de Chávez tem por base um imenso barril de petróleo. Este facto não displicente, pelo contrário, para mim é central. Para a esquerda mais esclarecida o petróleo significa um dos grandes males do mundo: gera oligarquias, ditaduras, guerras, e, sobretudo, gerou um sistema económico insustentável que urge substituir. O que seria deste capitalismo não fora o petróleo? É claro que enquanto o barril perdurar, Chávez terá toda a liberdade e todos os recursos para eternizar a seu processo revolucionário. Mas o curso deste processo assenta em grande medida no curso do ouro negro.
Defendo que um dos grandes objectivos da esquerda contemporânea é o de propor e de lutar por um sistema económico que acabe com a dependência e, sobretudo, com o monopólio do petróleo. Não consigo conceber qualquer forma de socialismo viável cuja infra-estrutura se fundamenta num forte desequilíbrio económico: o monopólio de um recurso. Em última instância podemos dizer que este socialismo de Chávez só é possível porque existe este capitalismo que tanto criticamos. Ao sustentar toda a economia interna e toda a sua política social no petróleo, Chávez está a ser um forte contribuinte para a reprodução de um sistema capitalista gerador de enormes desigualdades. Por isso, não comungo da exaltação de alguma esquerda face à actual Venezuela: a desvalorização da democracia e a indiferença face ao uso (abuso?) de uma matéria-prima nefasta como monopólio económico, não representam para mim os pilares de uma esquerda com futuro.
Na minha opinião qualquer processo reformista ou até revolucionário deve ser enquadrado e constituído por intermédio de uma sistema democrático representativo (e não me refiro somente aos partidos, mas também, aos sindicatos, às associações – inclusive às patronais). Aliás, um dos grandes problemas das actuais democracias liberais (americana e também europeias) tem sido, quanto a mim, a limitação do campo representativo da democracia quer a nível micro - nas empresas, nos sindicatos, na administração pública, nas universidades; quer a nível macro, por exemplo, na construção da União Europeia.
Por outro lado, entendo que a suposta revolução de Chávez tem por base um imenso barril de petróleo. Este facto não displicente, pelo contrário, para mim é central. Para a esquerda mais esclarecida o petróleo significa um dos grandes males do mundo: gera oligarquias, ditaduras, guerras, e, sobretudo, gerou um sistema económico insustentável que urge substituir. O que seria deste capitalismo não fora o petróleo? É claro que enquanto o barril perdurar, Chávez terá toda a liberdade e todos os recursos para eternizar a seu processo revolucionário. Mas o curso deste processo assenta em grande medida no curso do ouro negro.
Defendo que um dos grandes objectivos da esquerda contemporânea é o de propor e de lutar por um sistema económico que acabe com a dependência e, sobretudo, com o monopólio do petróleo. Não consigo conceber qualquer forma de socialismo viável cuja infra-estrutura se fundamenta num forte desequilíbrio económico: o monopólio de um recurso. Em última instância podemos dizer que este socialismo de Chávez só é possível porque existe este capitalismo que tanto criticamos. Ao sustentar toda a economia interna e toda a sua política social no petróleo, Chávez está a ser um forte contribuinte para a reprodução de um sistema capitalista gerador de enormes desigualdades. Por isso, não comungo da exaltação de alguma esquerda face à actual Venezuela: a desvalorização da democracia e a indiferença face ao uso (abuso?) de uma matéria-prima nefasta como monopólio económico, não representam para mim os pilares de uma esquerda com futuro.
5 comments:
Muito bem.
Só para adicionar uma coisa: acho que o teu ponto é mais forte se, mais do que ligar o "petróleo" ao "capitalismo" (mas é um facto que, ao valer-se do petroleo, Chavez tem um comportamento tipicamente capitalista, de extracção de uma renda; nem ele nem ninguém precisa de produzir nada de novo, de criar, de inovar, basta vender o jorra do chão) virmos as coisas do ponto de vista da sustentabilidade. Qualquer que seja o modelo de desenvolvimento que Chavez tenha para o pais, das duas uma: ou se baseia no petroleo e é de uma completa perversidade, porque insustentável a médio prazo e apenas reprodutor da sua oligarquia (o que marca o capitalismo venezuelano é o seu carácter oligárquico); ou se baseia na capacidade de inovação e empreendedorismo, e aí Chavez tem que escolher entre o seu poder ou a capacidade de acção dos inovadores e dos empresários, que são quem podem por o motor de uma economia no século XXI a funcionar pela inovação tecnologica e organizacional, mesmo que enquadrado, regulado e incentivado por um Estado economicamente inteligente (coisa que eu duvido que o Chavismo consiga ser, mas ok). Como suponho que "socialismo do século XXI" vai escolher a primeira via, a Venezuela vai-se meter num beco sem saída, ao melhor estilo das economias rentistas do Médio Oriente; e depois de concretizada a catástrofe económica, por favor, que ninguém venha culpar os americanos.
Sim, se matar por completo a iniciativa privada é isso que vai acontecer. Devo dizer que não entendo esta paixão da esquerda dita revolucionária por Cháves. A mesma esquerda que defende formas alternativas de participação democrática como o orçamento participativo ou o reforço do papel dos sindicatos e do movimento associativo, para não falar da liberdade de imprensa e por aí fora.
Cháves pode representar uma espécie de contraponto ao discurso neoliberal, também personifica uma ruptura face às tradicionais nomenclaturas que governavam a América Latina. Neste sentido, ele corporiza uma emancipação das classes populares e trabalhadoras e também das populações indígenas. Mas tê-lo como referência para um modelo ideológico da esquerda vai um grande passo. De facto, é um modelo insustentável que não se coaduna com muitas das preocupações que têm dinamizado a esquerda, nomeadamente, as de índole ecológica. A defesa de uma economia sustentável não se coaduna com o apoio a um modelo económico assente na exploração desenfreada e monolítica do petróleo.
Um abraço.
De facto não se percebe porque não escolhem por exemplo Evo Morales a Hugo Chávez. Conheço pouco, mas pelo que ouço dizer Morales, ou Rafael Correa do Ecuador são políticos muito mais intessantes para a esquerda do que Chávez.
Concordo no essencial com o Renato Carmo e com o Hugo Mendes. Aliás, a exploração económica do petróleo é feita na Venezuela em regime de «capitalismo de Estado», a exemplo do que aconteceu na URSS. Modelo económico que deu o desastre ecológico de Chernobyl.
Também não vejo como é que se separa, em termos analíticos, a avaliação do processo revolucionário venezuelano do «culto de personalidade» de Chávez, quando o processo revolucionário conduz a um referendo que visa perpetuar Chávez no poder. É como avaliar uma omelete sem ter em conta os ovos.
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