Há exatos 40 anos nascia o que poderíamos chamar de Manifesto Tropicalista. O “Tropicália ou Panis Et Circensis” foi gravado sob a efervescência de Maio'68 e se opôs frontalmente à retórica conservadora e nacionalista dos produtores culturais tupiniquins. Foi um disco emblemático, rico em critica social e de costumes da época. Queiram ou não, foi a Tropicália que propôs uma ruptura estética e comportamental. Musicalmente, soube como mesclar a contracultura dos anos de 1960 com as vanguardas artísticas mais radicais, como a “antropofagia” do Modernismo Brasileiro (década de 1920) e a Poesia Concreta (década de 1950). Com uma linguagem bem alegórica, não teve o menor pudor em valer-se de várias vertentes e estilos musicais. "Tropicália ou Panis Et Circensis" foi a obra-prima que marcou definitivamente a MPB, diga-se.
Criada pelo artista plástico Rubens Gerchman (1942 – 2008) e com a fotografia de Oliver Perroy , a capa do Tropicália foi uma paródia da capa do “Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band” ( Beatles) com pitadas tropicalistas. Na foto aparecem Tom Zè vestido com terno e segurando uma maleta, o penico como xícara nas mãos de Rogério Duprat, Gilberto Gil “fantasiado" de sgt. pepper, a saia e o penteado caipira de Gal Costa, o retrato de formatura do curso normal de Capinan, a seriedade dos “palhaços” Os Mutantes, a boina de Torquato Neto e Caetano Veloso segurando o retrato de Nara Leão. A contracapa traz um texto de um suposto roteiro cinematográfico escrito por Caetano Veloso, onde as personagens são os próprios tropicalistas travando um diálogo caótico e irreverente, que mistura Celly Campelo, Pixinguinha, Jefferson’s Airplane, a "the apple boutique” (a loja dos Beatles) e João Gilberto.
Depois do lançamento do disco, Caetano Veloso se apresenta em São Paulo, em setembro, no 3° Festival Internacional da Canção (FIC) com a canção “Proibido Proibir”. O uso de guitarras elétricas não agrada o público, que responde com uma forte vaia e lança tomates no palco. O cantor reage com um inflamado e emocionado discurso. Depois disso, em 27 de dezembro, ele e Gilberto Gil são expulsos do Brasil. Eram dias de chumbo da ditadura militar e o fim da Tropicália.
Ouça aqui a integra do discurso de Caetano Veloso.
As músicas do disco: os arranjos são de Rogério Duprat com produção de Manuel Berembeim.
01- Miserere Nóbis (Gilberto Gil/Capinan) Gilberto Gil 02- Coração Materno (Vicente Celestino) Caetano Veloso 03- Panis Et Circensis (Gilberto Gil/Caetano Veloso) Os Mutantes 04- Lindonéia (Caetano Veloso) Nara Leão 05- Parque Industrial (Tom Zé) Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Os Mutantes 06- Geléia Geral (Gilberto Gil/Torquato Neto) Gilberto Gil 07- Baby (Caetano Veloso) Gal Costa e Caetano Veloso 08- Três Caravelas (A. Algueiró Jr./G. Moreau/ Versão João de Barro) Caetano e Gilberto Gil 09- Enquanto Seu Lobo Não Vem (Caetano Veloso) Caetano Veloso 10- Mamãe, Coragem (Caetano Veloso/Torquato Neto) Gal Costa 11- Bat Macumba (Gilberto Gil/Caetano Veloso) Gilberto Gil 12- Hino ao Senhor do Bonfim (João Antonio Wanderley) Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Os Mutantes.
2 comments:
E o Tropicalismo continua a não ser reconhecido no Brazil?
http://avezdopeao.blogspot.com/2007/09/o-esplio-tropicalista.html
putz, Zéd.
os brazis muitas vezes não entendem o Brasil. pior: condenam sem ao menos conhecê-lo.
Enviar um comentário