(assim em jeito de epígrafe) "... a esperança é a última a morrer" - adágio popular
E por falar em erro metodológico, João Miranda que é um excelente bloguer conhecido pela sua prosa clara, concisa, directa e objectiva comete sistematicamente um erro metodológico: omite sempre qualquer argumento que possa justificar as afirmações acertivas que faz amiúde. Assim é bem mais fácil ser claro conciso, directo e objectivo. Por exemplo seu acabasse aqui o post seria um post à João Miranda, mas não, vou dar dois exemplos:
A propósito da ministra da defesa espanhola que passa revista às tropas grávida, João Miranda acha que só pode tratar-se de usar a imagem de uma mulher como bibelot. E se alguém achar que se calhar a dita ministra até foi nomeada para o cargo por ser competente João Miranda diz que pode até ser mas continua a ser um bibelots. Mas porquê um bibelot? Porque sim! Quando se faz uma afirmação dessas deve ter-se uma boa razão, não? Sim, e João Miranda tem seguramente uma boa razão, mas se perdesse tempo a explicar deixaria de ser claro, directo, conciso e objectivo, e isso é que não pode ser. E ademais uma mulher só pode ser um bibelot, é tão Lapalaciano que nem é preciso justificar. É preciso explicar?
E volta à carga com o 25 de Abril, em resposta a este texto de Rui Tavares (por sinal das coisas mais hilariantes que li nos últimos tempos). Para João Miranda o 25 de Abril é tão responsável pela universalização das pensões, do sistema nacional de saúde, das férias pagas, como pelo aparecimento do iô-iô, do cubo mágico e das cassetes do Tomás Taveira. Umas e outras apareceram depois do 25 de Abril, e portanto umas são tão consequência do 25 de Abril como outras. O elo causal, a relação causa-efeito não dizem nada a João Miranda. Que tenha havido leis (como refere Rui Tavares) que tornaram tornado possíveis as férias pagas, ou as pensões, que se tenham feito reformas do serviço nacional de saúde, e já agora do sistema de ensino, não lhe diz nada. Que eu saiba não houve lei nenhuma que implementasse o iô-iô nem o cubo mágico, e muito menos foram direitos consagrados na Constituição de 1976. Leis e Constituição que não seriam possíveis sem o 25 de Abril (digo eu). João Miranda afirma apenas que o 25 de Abril não criou riqueza. Terá João Miranda algum estudo que permita afirmar uma coisa dessas? Não, mas isso não o impede de fugir para a frente. João Miranda afirma ainda, categoricamente, que no exemplo da mortalidade infantil essa já tinha começado a diminuir antes, portanto a evolução dos últimos 30 anos não tem nada a ver com o 25 de Abril, vem de trás. É óbvio (pelo menos para João Miranda) que sem o 25 de Abril a evolução teria sido exactamente a mesma. Porquê? Porque sim!
Aliás isto até desencadeou uma conversa curiosa entre umas vozes na minha cabeça*:
- Sabes?, o 25 de Abril não teve nada a ver com a descida da mortalidade infantil.
- Não? Então como é que se explica esta descida nos últimos 30 anos.
- É uma dinâmica que começou antes, em 1970 já se morria muito menos que em 1940.
- Quem é que disse isso?
- O João Miranda.
- Ah!, se é o João Miranda que diz, deve ser verdade.
- Mas pensando bem em 1910 já se morria muito menos do que em 1830, portanto a I República também não fez nada.
- E o mesmo é verdade para a alfabetização.
- E na realidade em 1830 estava tudo muito melhor que em 1650.
- Portanto os liberais também não nos trouxeram nada, já vinha de trás.
- E a bem dizer em 1650 estava-se muito melhor do que em 1500.
- Eu sempre achei que a Restauração tinha sido um desastre, não tinha trazido nada de bom.
- Mas em 1500 já se vivia muito melhor do que em 1390.
- Portanto não foi a chegada à Índia que nos veio trazer melhorias.
- Claro que não, já vinha de trás.
- Mas espera lá, voltando ao 25 de Abril, o 25 de Abril trouxe-nos melhorias, ou não?
- ... o João Miranda diz que não?
- E a democracia? E a universalização dos serviços públicos, que eram só para alguns? Isso só veio depois.
- Mas a dinâmica já vem de trás, mesmo sem 25 de Abril tudo isso teria acontecido.
- Ai é?
- Claro que é! A ala liberal, as conversas em família, e o caraças..., o regime estava em mudança, era inevitável.
- É verdade! Agora percebo! Até o próprio 25 de Abril teria acontecido naturalmente, mesmo que não tivesse havido 25 de Abril.
- Mais, o 25 de Abril ACONTECEU de facto sem 25 de Abril. Se vires bem o Movimento das Forças Armadas e o Movimento dos capitães começaram a conspirar antes do 25 de Abril, prepararam e executaram o golpe de estado antes do 25 de Abril.
- Coisa que, aliás, jamais teria acontecido depois do 25 de Abril.
- Ora depois do 25 de Abril todos os passos que vinham sendo dados no sentido de fazer para a transição para um regime democrático foram abruptamente interrompidos.
- E o mesmo e passou com a Guerra d'África.
- Depois do 25 de Abril é que nunca mais se avançou na direcção da Democracia.
- É verdade...
-O 25 de Abril e a Democracia só foram possíveis graças ao antigo regime.
-Genial esse João Miranda.
*Não vos preocupeis, estou devidamente medicado.
E por falar em erro metodológico, João Miranda que é um excelente bloguer conhecido pela sua prosa clara, concisa, directa e objectiva comete sistematicamente um erro metodológico: omite sempre qualquer argumento que possa justificar as afirmações acertivas que faz amiúde. Assim é bem mais fácil ser claro conciso, directo e objectivo. Por exemplo seu acabasse aqui o post seria um post à João Miranda, mas não, vou dar dois exemplos:
A propósito da ministra da defesa espanhola que passa revista às tropas grávida, João Miranda acha que só pode tratar-se de usar a imagem de uma mulher como bibelot. E se alguém achar que se calhar a dita ministra até foi nomeada para o cargo por ser competente João Miranda diz que pode até ser mas continua a ser um bibelots. Mas porquê um bibelot? Porque sim! Quando se faz uma afirmação dessas deve ter-se uma boa razão, não? Sim, e João Miranda tem seguramente uma boa razão, mas se perdesse tempo a explicar deixaria de ser claro, directo, conciso e objectivo, e isso é que não pode ser. E ademais uma mulher só pode ser um bibelot, é tão Lapalaciano que nem é preciso justificar. É preciso explicar?
E volta à carga com o 25 de Abril, em resposta a este texto de Rui Tavares (por sinal das coisas mais hilariantes que li nos últimos tempos). Para João Miranda o 25 de Abril é tão responsável pela universalização das pensões, do sistema nacional de saúde, das férias pagas, como pelo aparecimento do iô-iô, do cubo mágico e das cassetes do Tomás Taveira. Umas e outras apareceram depois do 25 de Abril, e portanto umas são tão consequência do 25 de Abril como outras. O elo causal, a relação causa-efeito não dizem nada a João Miranda. Que tenha havido leis (como refere Rui Tavares) que tornaram tornado possíveis as férias pagas, ou as pensões, que se tenham feito reformas do serviço nacional de saúde, e já agora do sistema de ensino, não lhe diz nada. Que eu saiba não houve lei nenhuma que implementasse o iô-iô nem o cubo mágico, e muito menos foram direitos consagrados na Constituição de 1976. Leis e Constituição que não seriam possíveis sem o 25 de Abril (digo eu). João Miranda afirma apenas que o 25 de Abril não criou riqueza. Terá João Miranda algum estudo que permita afirmar uma coisa dessas? Não, mas isso não o impede de fugir para a frente. João Miranda afirma ainda, categoricamente, que no exemplo da mortalidade infantil essa já tinha começado a diminuir antes, portanto a evolução dos últimos 30 anos não tem nada a ver com o 25 de Abril, vem de trás. É óbvio (pelo menos para João Miranda) que sem o 25 de Abril a evolução teria sido exactamente a mesma. Porquê? Porque sim!
Aliás isto até desencadeou uma conversa curiosa entre umas vozes na minha cabeça*:
- Sabes?, o 25 de Abril não teve nada a ver com a descida da mortalidade infantil.
- Não? Então como é que se explica esta descida nos últimos 30 anos.
- É uma dinâmica que começou antes, em 1970 já se morria muito menos que em 1940.
- Quem é que disse isso?
- O João Miranda.
- Ah!, se é o João Miranda que diz, deve ser verdade.
- Mas pensando bem em 1910 já se morria muito menos do que em 1830, portanto a I República também não fez nada.
- E o mesmo é verdade para a alfabetização.
- E na realidade em 1830 estava tudo muito melhor que em 1650.
- Portanto os liberais também não nos trouxeram nada, já vinha de trás.
- E a bem dizer em 1650 estava-se muito melhor do que em 1500.
- Eu sempre achei que a Restauração tinha sido um desastre, não tinha trazido nada de bom.
- Mas em 1500 já se vivia muito melhor do que em 1390.
- Portanto não foi a chegada à Índia que nos veio trazer melhorias.
- Claro que não, já vinha de trás.
- Mas espera lá, voltando ao 25 de Abril, o 25 de Abril trouxe-nos melhorias, ou não?
- ... o João Miranda diz que não?
- E a democracia? E a universalização dos serviços públicos, que eram só para alguns? Isso só veio depois.
- Mas a dinâmica já vem de trás, mesmo sem 25 de Abril tudo isso teria acontecido.
- Ai é?
- Claro que é! A ala liberal, as conversas em família, e o caraças..., o regime estava em mudança, era inevitável.
- É verdade! Agora percebo! Até o próprio 25 de Abril teria acontecido naturalmente, mesmo que não tivesse havido 25 de Abril.
- Mais, o 25 de Abril ACONTECEU de facto sem 25 de Abril. Se vires bem o Movimento das Forças Armadas e o Movimento dos capitães começaram a conspirar antes do 25 de Abril, prepararam e executaram o golpe de estado antes do 25 de Abril.
- Coisa que, aliás, jamais teria acontecido depois do 25 de Abril.
- Ora depois do 25 de Abril todos os passos que vinham sendo dados no sentido de fazer para a transição para um regime democrático foram abruptamente interrompidos.
- E o mesmo e passou com a Guerra d'África.
- Depois do 25 de Abril é que nunca mais se avançou na direcção da Democracia.
- É verdade...
-O 25 de Abril e a Democracia só foram possíveis graças ao antigo regime.
-Genial esse João Miranda.
*Não vos preocupeis, estou devidamente medicado.
1 comments:
Absolutamente brilhante.
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