Há mais de uma semana que parte da imprensa nacional e estrangeira gasta tinta e energia a tentar resolver um enigma: que raio é que quis dizer Manuel Pinho quando levou os dois indicadores espetados à testa, em plena sessão parlamentar?
Este poste é um subsídio para tentar resolver a magna questão que inspirou uma peça de antologia da BBCnews aqui. Li o texto imaginando-o recitado por um daqueles apresentadores vestidos com uma camisa de mangas curtas e calções que costumam aparecer nos documentários da National Geographic e com um daqueles esplêndidos sotaques adquiridos nas public schools. Neste caso o objecto documentado é uma particularidade dos costumes da fauna mediterrânica. Não falta o douto comentário do correspondente da BBC em Roma nem o depoimento de um editor de política do Diário de Notícias.
O texto não esgota no entanto todas as interpretações possíveis de um gesto que em Portugal possui grande densidade simbólica. Há uns anos um aluno de Direito de Lisboa, em pleno em exame, virou-se para o professor e perguntou-lhe: «O professor está a marrar comigo? Por que é que não vai antes marrar com o comboio de Chelas?» Apanhou um ano de suspensão. Neste caso o aluno sentiu-se acossado, tal como Pinho. A diferença é que o ministro da Economia, ao contrário do aluno, ocupava o lugar de poder. O gesto para Bernardino Soares, dirigente do PCP, pode também significar que Pinho lhe chamou «diabo». Se foi essa a intenção, a ofensa é ambígua, pois O Diabo foi um justamente prestigiado jornal da esquerda intelectual nos anos 30. Se Pinho chamou a outra pessoa diabo é porque se viu a si mesmo no lugar de Deus. Bendita portanto a demissão, em nome do Estado laico.
Muito haveria a reflectir sobre o sentido dos cornos e apercebo-me agora a falta que me fez não ter lido Nos Cornos da Vida, de Beatriz Costa, um relato autobiográfico com o qual certamente todos teríamos a aprender e que desde já recomendo a eventuais correspondentes da BBC que voltem a escrever sobre o tema.
1 comments:
No que diz respeito a cornos, acho que o problema se coloca no facto de estarem ou não embolados.
Por outro lado os cornos do Pinho (salvo seja) são genuínos, enquanto os do Caimão são falsos, tal como a prótese capilar e a protuberância do viagra...
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