sexta-feira, 24 de julho de 2009

Senhores projectos



Uma casa de papel para um ser de palavras, um projecto de arquitectura para uma, ou várias, personagens dos livrinhos de «O Bairro» de Gonçalo M. Tavares. Foi este o desafio colocado a um grupo de alunos universitários de arquitectura. O resultado está patente ao público no Lx Factory, em Alcântara.
Gonçalo M. Tavares na «poética» que tem desenvolvido sobre «Bloom Books», declara, aqui, que na ficção não faz sentido a perguntar: onde? Ou, se o fizermos, não devemos levantar os olhos do texto. A história que estamos a ler acontece mesmo na página escrita. Mas como também escreve noutro lugar qualquer da sua «poética» que o texto não deve imitar a fotografia, temos a liberdade de construir as nossas imagens das histórias e de compará-las com as imagens que outros criaram. O senhor Valery, o senhor Kraus, o senhor Brecht podiam mesmo habitar as maquetes em exposição no Lx Factory? Para responder a esta pergunta é mesmo preciso levantar os olhos do texto, sair de casa e ir lá ver. Aqueles projectos de habitação podiam tornar-se reais e povoar Alfama, o Bairro Alto, etc? Na minha opinião de leigo alguns tinham pernas para ficar de pé frente ao rio.
Quanto à «poética» de Gonçalo M. Tavares, Borges escreveu que o valor de qualquer «poética» reside não em ser mais verdadeira do que outra, mas em ser mais estimulante para o escritor que a inventou ou adoptou. Que lhe faça, pois, bom proveito.

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