Tenho passado as últimas semanas a tratar de uma complicada logística. Eu não acredito na mudança. Ou melhor: não acredito que a gente controle a mudança (também é por isso que não acredito na revolução e, pensando bem, nunca acreditei, o que não é motivo de vaidade nem de arrependimento, é só assim). Acredito, sim, que a mudança é aquilo que passa por nós, pelos outros, pelo mundo, sem que a gente a sinta imediatamente ou compreenda, sem que possamos agir sobre ela de modo consciente e ao nosso compasso. O tempo da mudança é o da mudança, não é o nosso. Claro que isto daria azo para uma grande conversa com os meus amigos e colegas historiadores do peão. Mas o que eu queria dizer é outra coisa.
Nas últimas semanas, estivemos a fazer mudanças — processo incontrolável, maior do que nós, que parece não acabar nunca, mesmo no fim, já depois da epopeia de meter tudo em caixas, carregar as caixas, tirar tudo das caixas. Mesmo depois disso, há um móvel cujos parafusos ficaram por apertar, há outro que tem de ser mudado de sítio — e dos livros por meter nas estantes nem falemos... Até ao momento em que diremos: afinal a mudança era isto, meu, a mudança foi aquilo que passou, e agora já passou, e só agora é que nos apercebemos da sua passagem.
A logística da mudança é, como disse, complicadíssima. Para não soçobrarmos sob o seu peso, o melhor mesmo é, antes de recomeçar a trabalhar, voltar rapidamente às velhas rotinas. Como preguiçar de vez em quando, um pouco pelo menos, ou mesmo muito, nem que seja na cabeça.
segunda-feira, 10 de setembro de 2007
A mudança
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