Futebol e política sempre mantiveram relações promíscuas, principalmente depois das Eliminatórias para a Copa de 70, quando a Ditadura Militar, ao som da canção brega e irritante de “Pra Frente, Brasil”, exigiu a saída do comunista João Saldanha do comando técnico da seleção para pôr no seu lugar o “patriota” Zagallo, homem de confiança do general Médici, o maior facínora do regime militar. De lá pra cá, políticos mal-intencionados e oportunistas têm se infiltrado na esfera futebolística com o único objetivo de garantir vantagens eleitorais. Sem qualquer proposta política e extremamente fisiológicos, eles se aproveitam de uma das maiores paixões do brasileiro para se elegerem e fazerem do Congresso Nacional um rendoso balcão de negociatas e falcatruas.
Assim como a política, o futebol brasileiro também está há um longo tempo carcomido pela malandragem e negócios obscuros. O exemplo maior dessa analogia é o recente escândalo que está abalando o Corinthians, clube detentor da segunda maior torcida do país – a primeira é do Flamengo. Durante meses, dirigentes, jogadores e integrantes da MSI [1] conspiraram, fizeram ameaças (algumas até de morte) a seus opositores e tramaram planos diabólicos para lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, evasão de divisas e desvio de dinheiro clube. Um esquema monstruoso que só veio à tona graças às escutas telefônicas, realizadas pela PolíciaFederal com a autorização da Justiça brasileira.
Segundo o contrato firmado entre as parte, a MSI iria investir no clube por um período de dez anos (o capital inicial seria de 100 milhões de dólares), construir um estádio moderno e contratar grandes jogadores para fazer do time um number one, como dizia Kia Joorabchian, o laranja [2] do poderoso chefão Boris Berezovski, russo condenado em seu país mas que anda livremente na Inglaterra. No início, até que as coisas andavam bem com a contratação de jogadores de peso e a conquista do título brasileiro em 2005, uma isca que fisgou facilmente toda a “Nação Corintiana” .
Iludidos por promessas mirabolantes e eufóricos pela conquista do campeonato, torcedores corintianos fazem vistas grossas a todo esse jogo de interesses escusos, sem se darem conta que estavam sendo as maiores vítimas de uma trama camuflada e perigosa. E o previsível aconteceu. O time de “galáticos” foi desfeito, o dinheiro dos cofres do clube sumiu e, pior, a equipe está agora prestes a cair para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, pois o maior objetivo dessas velhas raposas (que esses simpáticos mamíferos me perdoem pela comparação) foi o de só engordar as suas já robustas contas bancárias. E assim como acontece na política, pagamos um preço muito alto quando nos iludimos com o ouro-de-tolo.
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[1] Em 2004, o Corinthians firmou uma parceria com a MSI (Midia Sports Investiment) para tentar superar uma longa crise. Foi aí então que entrou em cena o tal Kia Joorabchian (iraniano radicado em Londres), dizendo-se representante de um grupo de investidores internacional interessados em investir pesado no clube paulista e único gestor da MSI. Como se suspeitava, o avanço das investigações do Ministério Público Federal demonstrou que o magnata russo Boris Berezovski era o principal dono da MSI e Kia o seu laranja-mor.
[2] Gíria que denomina uma pessoa (nem sempre ingênua), cujo nome é utilizado por outro na prática de diversas formas de fraudes financeiras e comerciais.
6 comments:
Por terras lusitanas, em vez do «laranja» temos as «massagens» especiais, a «fruta», e o Apito Dourado, processo judicial que está para dar e durar.
A ganância não tem fronteiras.
Sê bem-vindo Manolo!
Caro Daniel, é como dizemos aqui em terras brasilis: "só mudam as moscas, pois a merda é a mesma". Ou seja, estamos feitos.
Um abraço.
A MSI não é a mesma que comprou o Beira-Mar e fez voltar o Jardel?
"Ouro-de-tolo" é uma excelente expressão, engraçada e certeira, brasileira imagino...
E é um pena ver o Corinthians nestas confusões.
Olha, zèd, não creio no envolvimento direto da MSI no caso Beira-Mar/Jardel, mas não descarto a possibilidade dos russos Roman Abramovich (dono do Chelsea) e seu "afilhado" Boris Berezovski estarem, direta ou indiretamente, à frente de qualquer operação internacional que envolva a compra de clubes e jogadores de futebol. Na América do Sul já conseguiram lançar seus tentáculos no Brasil e Argentina.
Já sobre a expressão "ouro-de-tolo", não sei muito sobre a sua origem. Ela vem de tempos bem antigos, quando os garimpeiros novatos e inexperientes tomavam como ouro um mineral também muito reluzente. Aqui, ela ganhou muita popularidade lá pelo final dos anos 70, quando o roqueiro e "místico" Raul Seixas fez grande sucesso com uso dela em uma de suas músicas, como uma tentativa de crítica simplória aos valores pequeno-burgueses.
Afinal enganei-me, foi a Inverfutebol que investiu no Beira-Mar, mas curiosamente o padrão é o mesmo, e o Beira-Mar foi mesmo para a segunda liga. Ouro-de-tolo :-)
Ou seja, a diferença entre eles é somente a língua: no caso português, o vendedor de ilusões fala castelhano.
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