segunda-feira, 15 de junho de 2009

Um post (ligeiramente) contra-corrente, para relativizar

No seguimento dos dois posts anteriores do Manolo, ocorre-me uma questão: Será realmente impossível Ahmadinejad ter ganho as eleições no Irão com mais de 60%? Será que a única explicação possível para este resultado é uma gigantesca fraude eleitoral? Ou será que estamos (nós no ocidente) a projectar os nossos desejos no eleitorado iraniano? Essa é pelo menos a ideia defendida neste texto (escrito logo no sábado), que, concorde-se ou não, vale a pena ler.
O facto é que não vi em lado nenhum provas convincentes de que houve fraude. O facto é que as prisões de opositores e a proibição das manifestações demonstram que Ahmadinejad, e o resto do poder, não gosta de contestação, mas não demonstra que a houve fraude eleitoral. O facto é que no ocidente (quase) todos desejamos que Ahmadinejad não seja re-eleito, mas isso não prova que a maioria dos iranianos pensa o mesmo. O facto é que há enormes manifestações em Teerão, mas número de manifestantes e número de votantes não são a mesma coisa. O facto é que não somos nós no ocidente quem escolhe o presidente do Irão, pelo menos no caso de ser uma eleição democrática, e seja qual for a decisão do povo iraniano teremos que viver com ela. Dito isto, e porque continuo sem saber quem ganhou realmente as eleições no Irão, desejo sinceramente que tenha sido Mousavi, ou melhor, que não tenha sido Ahmadinejad, e que tendo sido essa a vontade expressa dos iranianos, que ela seja respeitada. Nunca esquecendo que entre o que eu desejo, e o que deseja o povo iraniano há uns quantos milhões de votos de diferença.

3 comments:

Daniel Melo disse...

Olá Zèd, a coisa realmente está bem indefinida, a crer na informação mais recente disponível (nos media internacionais e na Internet), ainda que limitada, concerteza.
Tal como já referi em comentário ao anterior post do Manolo, deixo uma chamada de atenção para o facto da actual informação disponível dar a entender que a situação política no Irão está assaz complicada, e o confronto entre fracções da elite está ao rubro, sendo que grande parte do clero declarou já apoio às declarações do candidato Moussavi (a este propósito, sugiro a leitura do post «http://arrastao.org/sem-categoria/direito-por-linhas-tortas/»).
Em todo o caso, uma situação a seguir com atenção, e, seja qual o desfecho, com apreensão. É que a actual situação trará mais instabilidade no Médio Oriente, e pode degenerar em guerra civil, um fenómeno sempre trágico, doloroso e triste.

Sappo disse...

Salve, Zéd.

É bem oportuno este seu post. E de fato, cabe somente aos iranianos decidirem o que querem, mesmo porque o sr. Mousavi até agora só jogou merda no ventilador e não apresentou qualquer indício que comprove a suposta fraude. Nunca é demais lembrar que foi ele quem levou o país a uma guerra contra o Iraque quando primeiro-ministro. Entretanto, não tenho dúvidas de que ele seria bem melhor que o lunático Ahmadinejad, principalmente se nos detivermos em suas promessas de campanha: de abrir o diálogo com o Ocidente. Internamente creio que ele não faria muita diferença, pois não teria força pra fugir do que estabelece a cartilha dos aiatolás. Na verdade, são eles os que mandam e desmandam no país.

João Miguel Almeida disse...

Saudações,

Seja qual for o resultado eleitoral, parece-me que Mousavi se está a portar melhor do que Al Gore face a George W. Bush. Mostra que há uma componente democrática do islamismo, que leva a sério o princípio da legitimidade eleitoral. O pior é que também há democratas não islâmicos que não podem formar partidos não islâmicos e concorrer a eleições.
Mousavi, se for primeiro-ministro, poderá representar uma inflexão na política xiita, mas não creio que possa liderar uma transição de regime para um Estado garante de uma real liberdade religiosa e liberdade política.