Para quem tem uma posição de esquerda, e embora não seja certo que o eleitorado europeu tenha votado sobretudo pela divisão esquerda/ direita, tudo indica que os resultados destas eleições abarcando um território com 375 milhões de habitantes, tenham sido algo decepcionantes. Durão Barroso lá se manterá à frente da Comissão Europeia, o que é mau para uma reforma progressista das estruturas da UE e da sua governação. Esse é o efeito negativo mais directo. Mas antes disso, o parlamento europeu continuará a ter como corrente liderante o PPE, que é o representante da direita/ centro-direita. Ou os eleitores europeus acharam que a culpa da crise económico-social não era das políticas que esses partidos preconizaram, ou acham que estão a tentar resolver os problemas do melhor modo. Ambas as opções são, porém, para reflexão séria. Quer dizer que os partidos socialistas europeus não são vistos na Europa como materializando uma escolha válida.
Os partidos de centro-direita que lideram nos principais países europeus mantiveram-se na frente (Alemanha, França, Itália, etc.), enquanto noutros países com governos de centro-esquerda, estes tiveram derrotas significativas: são o caso do Reino Unido, Espanha e Portugal.
Em Portugal, a coisa vai ser dura para o partido no governo, o PS, pois o centro-direita (PSD) conseguiu um resultado liderante forte, o socratismo foi muito penalizado e os anti-Bloco central (partidos de esquerda e direita: BE, PCP e CDS) obtiveram quase 1/3 dos votos.
O PS de Sócrates vai penar muito nos próximos meses: primeiro, porque a performance de Paulo Rangel arrebanhou uma dinâmica de vitória que coloca o PSD na pole position para as eleições legislativas a ocorrerem já daqui a 3 meses. Depois, porque essa dinâmica se reforçará nas locais de entremezes, pois os «laranjinhas» são campeões autárquicos.
A votação do BE e PCP é auspiciosa e reforça a ideia de que a esquerda pode ser uma alternativa de médio prazo (em aliança pós-eleitoral ou liderando mesmo), caso a esquerda do PS tenha a ousadia de se juntar numa coligação de verdadeira alternativa ao rotativismo sem saída que imperou nas últimas décadas em Portugal.
Oxalá também aí se consiga criar uma dinâmica de convergência capaz de ser uma opção de poder e governação, e já não só de oposição séria e combatente. Que supere as inevitáveis prudências de Alegre e da sua corrente da esquerda socialista, atendendo à campanha presidencial de esquerda para que trabalha desde o milhão e cem mil votantes que obteve nas presidenciais de 2005.
PS: para quem quiser ver resultados globais e por país vale a pena ir ao site do Euronews, onde um mapa permite fazer as várias pesquisas.
4 comments:
Arre, Daniel!
Infelizmente, as minhas sombrias previsões se confirmaram. O único saldo positivo das Europeias portuguesas a meu ver foi ascensão do BE, que deverá se firmar definitivamente como terceira força política do país com amplas possibilidades de avançar ainda mais, o que será muito bom pra saúde político-partidária lusa. Tim-tim.
Ressalto e subscrevo totalmente o que disseste: “A votação do BE e PCP é auspiciosa e reforça a ideia de que a esquerda pode ser uma alternativa de médio prazo (em aliança pós-eleitoral ou liderando mesmo), caso a esquerda do PS tenha a ousadia de se juntar numa coligação de verdadeira alternativa ao rotativismo sem saída que imperou nas últimas décadas em Portugal”.
O problema agora será dormir com o barulho que farão Berlusconi, Zarkozy, Rajoy, Manuela e cia. Haja! Enfim, a luta continua.
Olá Daniel,
A vaga vitoriosa de direita é muito preocupante, até porque engloba uma componente de extrama-direita - o 2.º lugar da extrema-direita na Holanda, a conquista de um lugar pelo Partido Nacional Britânico que defende a proibição da imigração, etc.
O discurso de vitória de Paulo Rangel foi arrepiante. No «zapping» que fiz na televisão só o Miguel Sousa Tavares notou o carácter «revanchista» da intervenção. Mais perturbante foi Rangel sublinhar que a sua vitória foi a vitória de um partido europeu onde se encontram (referiu expressamente os nomes) Sarkozy e Berlusconi. Quando a autodenominada «direita séria» se põe em bicos de pés por ficar lado a lado com Berlusconi algo vai mal.
Lado positivo: Portugal dá o seu contributo para uma esquerda que vai fazer falta no Parlamento Europeu. O Bloco lá elegeu o Rui Tavares que em minha opinião é o melhor dos três candidatos e andou um bocado esquecido na campanha bloquista. A CDU elegeu dois bons eurodeputados e estou à vontade para afirmá-lo, pois não sou fã da CDU. Mesmo o Vital, que fez uma péssima campanha, tem qualidades intelectuais indiscutíveis e pode dar um contributo importante no PE.
Um entendimento à esquerda do qual possa sair uma solução governativa é o grande imbróglio. A saída não passa só por mudanças em atitudes do PS, mas também dos outros partidos de esquerda. As eleições europeias tornam ainda mais distante a hipótese de uma nova maioria absoluta do PS e desvanecem de vez a miragem de um bloco central. Corremos o risco de ter um eleitorado à esquerda e um governo PSD/PP mais forte e mais de direita do que o de Santana Lopes e sem dar nenhuma vontade de rir.
O meu comentário está consubstanciado no penúltimo parágrafo.
Mas não tenhamos ilusões, o PS pode "partir-se" que a sua direita vai cumprir o papel histórico de sempre.
Caros Manolo, João Miguel e jrd:
concordo com as vossas observações, que valorizam a reflexão que deve ser feita sobre estes resultados.
Até por isso, decidi fazer um novo post, onde adito aspectos que não tinha desenvolvido neste.
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