segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A Beira revisitada - Guarda

Não tinha uma imagem nítida da Guarda, que conhecia de passagem, e trouxe de lá uma memória refrescada da Sé. O largo da Sé foi reabilitado e convida à frequência de um dos bares, à noite. No cume das montanhas circundantes perfilam-se, elegantes, moinhos que produzem energia eólica. Visitei o novo centro comercial de vários andares. Esperava mais da capital de um distrito onde abundam aldeias e vilas surpreendentes.
A Guarda pareceu-me uma cidade pacata, o avesso da sua imagem mais forte criada por uma cantiga de amigo atribuída a D. Sancho I, e que muitos conhecem dos compêndios de literatura, na qual a cidade surge como lugar inquietante, lugar de perigo e perdição:

Ai eu coitada! Como vivo
en gran cuidado por meu amigo
que ei alongado! Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!
Ai eu coitada! Como vivo
en gran desejo por meu amigo
que tarda e non vejo! Muito me tarda
o meu amigo na Guarda!

O que atrasou o amigo na Guarda – mau tempo, percalços, outra mulher, um salteador? Nesse tempo as pessoas acreditavam na intervenção sinistra de demónios, como o da gárgula que se vê na foto. Aprendi recentemente que a imagem terrível do diabo apareceu mais tarde e em regiões mais setentrionais. Descartes é que colocou a hipótese de um génio maligno que o enganava acerca de quase tudo. O diabo que deambulava em Portugal na Idade Média tinha poucos poderes, era mesmo um pouco ridículo. O povo ria-se dele. Se foi a mão de um destes diabos que atrasou o amigo na Guarda, não o impediu de chegar ao destino.

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