Em final de campanha, o corropio de palpites domina o espaço público. Há-os para todos os gostos. Evitemos os mais hipotéticos, porque só temos um post para isto (não, não é racionamento, é economia pessoal).
Os cenários mais prováveis são: 1) governo minoritário PS, com acordos pontuais; 2) Bloco central; 3) governo de direita. Tudo o resto é delírio ocioso, atendendo ao contexto.
Como o primeiro será o mais provável, aqui vai: Guterres I (1995-99) em versão reloaded. Ou seja, com acordos aqui e ali, mais à direita do que à esquerda (foi isso que então ocorreu, e repetiu-se em Sócrates I, mesmo tendo maioria absoluta), mas durando uma legislatura inteira e tendo obtido ganhos relevantes nas políticas social e cultural. Por muito que doa a Vital Moreira, que veio na 3.ª feira* anunciar o apocalipse no Público que o PS tanto incensa, é o melhor que lhe sairá na rifa (entretanto refez o sermão: é conforme o freguês e a quebra de lucidez).
Como inesperadas transferências de voto são pólvora rara (e, por estes tempos, estoirada nas europeias), a única certeza é que murchou de vez o Marquês de Pombal recauchutado. Na próxima reencarnação, quando muito, teremos um Intendente Pina Manique reloaded. E já não é mau, que o homem parece que também tinha uma costela benemérita... É o que há, por ora...
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*Vital Moreira, para a posteridade próxima: «embora seja possível a formação inicial de governos minoritários, a sua sustentabilidade é escassa [...] trata-se de governos enfraquecidos, sempre na iminência de serem desfeiteados no Parlamento e, até, de serem obrigados a executar políticas aprovadas pela oposição contra si. [...] Os únicos governos que garantem a estabilidades e consistência governativa são os governos monopartidários dotados de maioria parlamentar. Nenhuma outra solução governativa pode dar garantias iguais ou aproximadas. Ou são governos efémeros, ou governos fracos, ou ambas as coisas».
3 comments:
O primeiro cenário parece cada vez mais provável. O terceiro - vitória da direita - pareceu-me provável a seguir às eleições europeias e no início da campanha eleitoral, mas tem vindo a ser esvaziado. Não só por culpa do Presidente da República, mas também da má performance de MFL e dos contrapesos (António Preto, etc) que arranjou para o PSD.
O segundo - bloco central - sempre me pareceu improvável com «este» PS e «este» PSD. Apesar das semelhanças há demasiadas diferenças não só em matéria de costumes, mas também na estratégia económica para responder à crise, apostando o PS no investimento público e o PSD na redução da despesa do Estado. Uma terceira diferença é a «cultura política». MFl disse no debate com o Sócrates, quando interrogada sobre como é que ia governar, que, cito de cor, «não são precisas muitas leis para governar.» Com esta filosofia nem sequer a aliança com o PP seria necessária. Governava fazendo uma gestão corrente, produzindo legislação por decreto-leis e apoiando-se no PR. A esquerda arriscava-se a ter uma forte presença no parlamento e depois ficar a «falar para o boneco», pois MFL iria fugir do parlamento como o diabo da cruz.
Num governo minoritário do PS as leis de reforma serão discutidas, negociadas e votadas no parlamento, com uma participação relevante do BE e da CDU. Sócrates II terá de fazer acordos pontuais como Guterres I, mas este é um contexto ideológico, político, económico e social muito diferente. O «pensamento único» estilhaçou-se. As ideologias regressaram e têm uma forte representação no parlamento. A crise está aí e exige respostas à altura.
O primeiro cenário parece cada vez mais provável. O terceiro - vitória da direita - pareceu-me provável a seguir às eleições europeias e no início da campanha eleitoral, mas tem vindo a ser esvaziado. Não só por culpa do Presidente da República, mas também da má performance de MFL e dos contrapesos (António Preto, etc) que arranjou para o PSD.
O segundo - bloco central - sempre me pareceu improvável com «este» PS e «este» PSD. Apesar das semelhanças há demasiadas diferenças não só em matéria de costumes, mas também na estratégia económica para responder à crise, apostando o PS no investimento público e o PSD na redução da despesa do Estado. Uma terceira diferença é a «cultura política». MFl disse no debate com o Sócrates, quando interrogada sobre como é que ia governar, que, cito de cor, «não são precisas muitas leis para governar.» Com esta filosofia nem sequer a aliança com o PP seria necessária. Governava fazendo uma gestão corrente, produzindo legislação por decreto-leis e apoiando-se no PR. A esquerda arriscava-se a ter uma forte presença no parlamento e depois ficar a «falar para o boneco», pois MFL iria fugir do parlamento como o diabo da cruz.
Num governo minoritário do PS as leis de reforma serão discutidas, negociadas e votadas no parlamento, com uma participação relevante do BE e da CDU. Sócrates II terá de fazer acordos pontuais como Guterres I, mas este é um contexto ideológico, político, económico e social muito diferente. O «pensamento único» estilhaçou-se. As ideologias regressaram e têm uma forte representação no parlamento. A crise está aí e exige respostas à altura.
Concordo contigo em quase tudo, excepto na questão do bloco central: é que esse cenário foi concebido partindo do pressuposto que o líder perdedor do centrão sairia de cena (pelo seu pé ou afastado pela oposição interna).
Quanto ao parlamento, concordo que será revalorizado o seu papel (e ainda bem).
Já quanto à revalorização da questão ideológica, a ver vamos, este PS socratista fugia disso como o diabo da cruz.
Bom sábado de reflexão!
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