Um empate queirosiano obrigaria a invocar Fradique Mendes com uma pitada fatalista do género «O português não tem o impulso matador do seu vizinho ibérico». Mas não, é demasiado óbvio, rebobinemos. Deixemos o século XIX para outros escribas e fiquemo-nos despretensiosamente pelos tempos coevos.
Os tugas no seu labirinto. Ké ké isso, ó meu? Eu expilico, como diria Badaró.
O seleccionador português de futebol, Carlos Queirós, disse recentemente que os nativos têm um problema estrutural de finalização. Queria dizer que não sabemos rematar à baliza e marcar golos. Não subscrevendo o excesso essencialista, aceite-se que a formação de avançados-centro não é o forte dos tugas. Para tentar atenuar o problema, recrutou um português recém-naturalizado, o ex-brasileiro Liedson. O banzé que por aí se levantou, como se fosse um atentado à pátria.
Pois bem, aqui Queirós fez muito bem, parabéns (eu, que sou benfiquista, tenho orgulho em ter um jogador como Liedson nas quinas, tomara que outros fossem como ele). O problema veio a seguir.
Queirós enredou-se na teia do fado nacional: como temos muitos bons jogadores centro-campistas, toca de os enfiar lá todos. Resultado: jogou meia partida (ou mais) sem avançados-centro!!! Um alien piscaria os olhos de espanto, mas foi assim mesmo. Sucumbiu duplamente ao conservadorismo indígena: temeu colocar Liedson como titular, e, pior do que isso, abdicou de jogar com um avançado-centro desde início. Pequeno detalhe dispiciendo: os «patrícios» estavam obrigados a ganhar o jogo! Nuno Gomes lá ficou a ver o jogo do banco, quase até ao fim... Os restantes avançados (Danny, Hugo Almeida) estavam lesionados.
É verdade que a equipa portuguesa teve azar, foi a que mais procurou o golo e falhou muitas oportunidades. A selecção dinamarquesa pareceu inferior, mas jogou bem tacticamente e foi mais objectiva. O empate sabe a pouco, mas não nos podemos queixar. Também ajudámos à festa, com uma táctica, no mínimo, arriscada. Com a entrada dum avançado-centro lá marcámos um golo de consolação. Com a cabeça do «levezinho». Ao menos valeu isso. Isso, e o tinto açoriano que em boa hora arrebalhei.
Agora resta-nos um milagre, se é que ainda existem. E viva o Liedson!!!
Nb: cartoon de GoRRo, já publicado neste blogue há uns meses atrás, mas infelizmente ainda actual...
3 comments:
O Hugo Almeida icou a ver o jogo do banco do hospital. Foi operado há dias...
Ainda bem que há leitores atentos ;)
Foi um lapso, já corrigido.
E, infelizmente, não altera o sentido do post.
«E, infelizmente, não altera o sentido do post.»
Bem verdade.
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