Com os resultados das eleições parlamentares de ontem, Portugal acordou com um ambiente menos abafado. Muitos resumos taxativos foram já emitidos, todos redutores, claro. Proponho um exercício diferente: a aplicação da teoria do «copo meio cheio, copo meio vazio» (que até condiz bem com a vivência destes momentos...).
Assim, na versão «copo meio cheio» todos venceram: o PS porque ficou na frente; o PSD porque teve +deputados (3), votos (c.6 mil) e percentagem (29,1%, em vez de 28,8); a CDU idem (1/ c.14 mil/ 7,9% em vez de 7,6); o CDS idem (9/ c.177 mil/ 10,5% em vez de 7,3); o BE idem (8/ c.93 mil/ 9,9% em vez de 6,4).
Assim, na versão «copo meio cheio» todos venceram: o PS porque ficou na frente; o PSD porque teve +deputados (3), votos (c.6 mil) e percentagem (29,1%, em vez de 28,8); a CDU idem (1/ c.14 mil/ 7,9% em vez de 7,6); o CDS idem (9/ c.177 mil/ 10,5% em vez de 7,3); o BE idem (8/ c.93 mil/ 9,9% em vez de 6,4).
Na versão «copo meio vazio», o PS vence, mas por pouco (perde a maioria absoluta e meio milhão de votos e tem a 2.ª vitória mais baixa desde 1975); o PSD porque assumiu a derrota dum modo que revelava expectivas injustificadas, dada a péssima campanha (arrebanhando um dos piores resultados do seu historial); a CDU porque desce para 5.ª força; o CDS porque não consegue fazer uma coligação maioritária de direita; o BE porque não conseguiu ser a 3.ª força, nem formar maioria com PS e porque ficou aquém das expectativas íntimas de muitos.
Algures, o veredicto de cada um de nós combinará partes disto. Já o dos comentadores encartados dos media tem tendência a inclinar-se para o conservadorismo e os «srs. responsáveis», como lhes chama Rui Tavares.
Além disso, em termos factuais, a bipolarização erodiu-se bastante, e com ela o «voto útil» (embora este ainda tenha funcionado à esquerda, sobretudo quanto às expectativas existentes); a maioria eleitoral continua de esquerda, c.57% dos votos e 60% dos deputados (isto, claro, se inserirmos o PS neste segmento), ligeiramente menor mas mais à esquerda (como realça o Renato, esta teve +de 1 milhão de votos), devendo ser aí que se deveria procurar entendimentos (por muito difíceis que sejam, e devendo ser o PS a fazer convites); e a direita radicalizou-se, com o CDS a reforçar-se significativamente, permitindo-lhe ser parceiro para maioria absoluta.
Além disso, em termos factuais, a bipolarização erodiu-se bastante, e com ela o «voto útil» (embora este ainda tenha funcionado à esquerda, sobretudo quanto às expectativas existentes); a maioria eleitoral continua de esquerda, c.57% dos votos e 60% dos deputados (isto, claro, se inserirmos o PS neste segmento), ligeiramente menor mas mais à esquerda (como realça o Renato, esta teve +de 1 milhão de votos), devendo ser aí que se deveria procurar entendimentos (por muito difíceis que sejam, e devendo ser o PS a fazer convites); e a direita radicalizou-se, com o CDS a reforçar-se significativamente, permitindo-lhe ser parceiro para maioria absoluta.
Outro mito que ruiu: muitos insistiam em dizer que o sistema eleitoral português é anti-maioria absoluta. Discordo: ele é sobretudo a favor da bipolarização. Ora, vejam-se os resultados eleitorais e o modo como os partidos mais pequenos têm muitos menos deputados.
Nb: faltam apurar os resultados dos círculos da emigração, mas que não deverão alterar significativamente este panorama; a imagem é de miss red.
3 comments:
muito bem, bem visto.
mas a próxima curta legislatura vai ser outra bipolarização? é preparar a eleição presidencial - essa é a guerra - governo á espera de ser demitido pelo presidente, presidente a tentar empurrar governo para fora do seu espaço. Em poucos meses se verá, com ps a tentar a presidência e maioria absoluta.
É possível, sim, mas seria um cenário bem politiqueiro.
Amanhã de manhã, o PR vai falar. A ver vamos no que dá.
Uma correcção ao meu comentário anterior: a declaração que o PR fará amanhã será às 20h (vd. http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1402774&idCanal=12).
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