terça-feira, 6 de outubro de 2009

Peão escrutina os programas eleitorais para Lisboa

Também nós fomos vasculhar os programas dos principais candidatos à capital portuguesa, e a coisa dá pano para mangas. Infelizmente, grande parte das propostas que o blogue Peão apresentou em 2007, ainda antes de se saber de eleições intercalares nesse ano, cairam em saco roto. É pena: havia aqui boas propostas para várias áreas, desde a mobilidade à política cultural (e aos equipamentos de ensino). Isso mesmo foi reconhecido por outros, como a Alkantara, no seu concurso Lisboa ideal, que premiou as nossas propostas. Depois disso, continuámos a apresentar propostas, novamente em distintas áreas (vd. aqui). Por isso, sentimo-nos à vontade, e na obrigação (cívica), de não só fazer uma avaliação do que se promete em tempos de eleições como de repropor aquilo que já apresentáramos, dado a fraca adesão:
Em 1.º lugar, a salvaguarda física dos infantários e escolas, tanto públicas como particulares: deve ser criado um programa especial único, concertado com o governo, para este tipo de equipamentos colectivos, pois o RECRIA manifestamente não serve.
Em 2.º lugar, tornar novamente acessível o Arquivo Histórico municipal, fechado há 7 anos!!! É uma prioridade absoluta na área cultural. Para isso, e enquanto se espera pela construção do edifício do futuro Arquivo e Biblioteca Central no Vale de St.º António (se for adiante esta opção), devia-se proceder à adaptação dum dos muitos edifícios da CML para Arquivo provisório. Apesar da relevância do tema e da existência de soluções, é com surpresa que se constata a sua ausência nos programas dos candidatos. A insistência certamente dará frutos.
Em 3.º lugar, é necessário actualizar o Museu da Cidade, cuja exposição permanente fica-se por 1910.
Em 4.º lugar, urge salvaguardar certos edifícios municipais para equipamentos públicos que possam funcionar como pólos dinamizadores a nível comunitário (por ex., o Museu da Criança e do Brinquedo na Quinta de N.ª Sr.ª da Paz). Também a Alta do Lumiar carece de equipamentos colectivos.
Em 5.º lugar, estabelecer modelos transparentes de contratualização com as associações sócio-culturais da cidade, com vista a desenvolverem actividades úteis à comunidade.
Em 6.º lugar, salvaguardar a existência de bibliotecas públicas fixas com boas condições nos bairros mais populosos (até agora Benfica ainda não tem nenhuma!), enquanto os restantes deviam ser servidos com bibliotecas itinerantes (actualmente só existem 2 carrinhas, sem possibilidade de ter horários que atendam às necessidades das populações de todos estes bairros).
Recentemente, comparei os 4 principais programas recorrendo ao trabalho do site Lisboa 2009. Quanto ao que estes prometem, por vezes, é demais. O PS, na propaganda volante que anda a distribuir, promete a criação de 76 novas creches para 2717 crianças em 4 anos!! Mas alguém acredita nisto?! Neste momento, não há nenhuma creche municipal!!! No programa, entretanto, precisa-se que esta medida será realizada em articulação com as IPSS... Pois, mesmo assim, é demais. E de menos: significam, quando muito, 76 novas salas (vd. o rácio creche/ crianças).Na questão habitacional, questão fulcral, as melhores propostas são, de longe, as do BE (já agora, neste item, sugiro o cotejo com as propostas do famoso geógrafo catalão Jordi Borja).
O programa do PS surpreendeu-me pelas debilidades notórias (em contraste com a verve propagandística que nos assola). Antes de mais, na cultura, não faz referência à reabertura do Arquivo Histórico Municipal, promessa de António Costa constante do plano de actividades prioritários para 2008, nem quanto ao Museu da Criança e do Brinquedo, aprovado em Assembleia Municipal. Quanto a questões relevantes para o ordenamento da cidade e AML, como o aeroporto, a 3.ª travessia do Tejo e o novo terminal de Alcântara, fica em branco, ou seja, dá carta branca ao que o governo PS decidir, numa clara demissão de direitos e numa sujeição aos ditames do centralismo dos lobbies. E, depois, há propostas mirabolantes como as da «interajuda» entre estudantes jovens e idosos: os primeiros ficam na casa dos segundos («a preços módicos») a troco do acompanhamento destes (no programa para a freguesia de N. Sr.ª Fátima, pelo menos). Mas isto é sério?!!
O programa da direita (PSD/CDS/PPM/MPT) tem algumas medidas que me surpreenderam pela positiva (em contraste com a campanha desastrada de Santana Lopes, assente em túneis, Portelas e anulações de projectos de direcção do poder central). Na área cultural, propõe a reinstalação do Museu da Cidade no Terreiro do Paço (mas depois erra quando diz: «ou Museu das Descobertas em alternativa?») e a criação [de edifício] do Arquivo e Biblioteca centrais (aqui, tal como a CDU); na social, propõe o reforço da rede de creches e jardins-de-infância em articulação com as IPSS, mas sem quantificar (o que o PS copiou, mas mal!), cooperação essa extensiva aos «bairros problemáticos». Quanto aos erros, são tantos que é melhor irem ver.
O do BE, globalmente bom, é omisso quanto à reinstalação do Arquivo histórico municipal e à criação do Museu da Criança e do Brinquedo, e erra na questão Parque Mayer, ao propor a recuperação dos sobreviventes 3 teatros ainda existentes. Ó meus amigoze: o teatro de revista transferiu-se para a tv: vd. Gato Fedorento esmiúçam os sufrágios. A versão 'original' da revista apenas resiste no Maria Vitória e já é sorte (enfim, se as Produções Fictícias estivessem para aí viradas, ficariam com outro, mas apenas outro, dos teatros).
O da CDU é também globalmente bom, mas é mais parcimonioso na questão habitacional, uma questão fulcral no governo das cidades. E também não fala do Museu da Cidade, nem do Museu da Criança e do Brinquedo, etc..
Dito isto, os melhores programas são, obviamente, os do BE e da CDU.
Por isso, quanto ao «voto útil» que os acólitos do PS-União Nacional da Capital nos pretendem impôr, estamos conversados. A menos que se esteja disposto a dar um voto em branco...
PS: para que não restem dúvidas quanto ao «voto útil», as sondagens para Lisboa dão vitória ao PS (esta sondagem, da Intercampus, é particularmente relevante, pois este é o centro de sondagens que costuma ficar mais próximo da votação).

1 comments:

Daniel Melo disse...

A sondagem da Intercampus (de 28-30/IX) dá as seguintes tendências:
>PS: 41,4%
>PSD/CDS-PP/MPT/PPM:33,1%
>CDU: 10,4%
>BE: 8,3%.

Outras sondagens, mais antigas, foram oportunamente divulgadas no blogue Margens de Erro (que, infelzimente, não tem etiquetas; sorte a deles!!).