A propósito da conferência “Psicologia e Trabalho: conclusões no âmbito da pesquisa em psicologia social no Brasil"a ser proferida por Leny Sato cabem aqui algumas notas de apresentação que julgo de interesse dos peões e simpatizantes.
Leny Sato é professora de Psicologia Social do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, no Brasil. A sua trajectória como pesquisadora tem sido construída a partir de investigações sobre Saúde, Subjetividade e Trabalho, fortemente marcada pela abordagem qualitativa, sendo pioneira na adopção da abordagem etnográfica no campo da psicologia social.
O seu estudo do mestrado, sobre as representações sociais dos motoristas de ônibus urbanos em São Paulo, aponta para a importância de se considerar a linguagem no trabalho. Daí a atenção dada ao vocabulário construído pelos motoristas para designar o seu universo. Um exemplo é a palavra “misturar”, que, originalmente, é empregada para expressar uma analogia entre o motor do carro que gripa ― quando a água mistura com o óleo ― e a situação vivida pelo trabalhador que “pira” quando os contextos de trabalho lhe exigem além do limite do suportável (passageiros muito exigentes, itinerários com trânsito muito intenso, jornada de trabalho sem pausas).
A sua tese de doutoramento que foi feita no “chão de fábrica” resultou de muito tempo de convivência com os operários de uma fábrica de sorvetes na cidade de São Paulo. Sua intenção foi identificar os processos de negociação quotidiana entre pessoas colocadas em posições diferentes com vistas a replanificar o trabalho das linhas de produção. Um dos casos relatados é o protagonizado por grupos de operários de duas linhas de produção diferentes que mantêm relação de dependência: a “linha de baixo” carimbava vasilhames que deveriam ser envasados com sorvetes pela “linha de cima”. Para superar o descompasso entre as linhas, os operários tiveram que negociar mudanças na organização do processo de trabalho, de modo a evitar a repetição do trabalho e suas consequências tanto para a qualidade do produto, como para a carga de trabalho exigida aos operários da “linha de baixo” quando a “linha de cima” atrasava o envasamento do sorvete.
A seguir, a feira livre foi o objecto de estudo da sua tese de Livre Docência em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, o que lhe conferiu o grau de Professor Associado. Dando continuidade ao seu programa de pesquisa sobre Psicologia Social do Trabalho empregando a abordagem etnográfica, conviveu com feirantes, freguesas e habitués. O objectivo foi o de apreender a lógica de organização da feira livre construída no dia-a-dia pelas pessoas.
Actualmente acontecem cerca de 900 feiras livres por semana na cidade de São Paulo, gerando renda para aproximadamente 40 mil pessoas que trabalham directamente nessa actividade. A feira é um comércio itinerante e a cada dia “fecha” um ou mais quarteirões. Ao ser instalada, a feira livre cria um universo particular, no qual as regras de convivência são peculiares. A comercialização de géneros alimentícios in natura, utensílios domésticos, roupas, calçados, flores etc., acontece em meio a relações de amizade, de competição e de negociação.
A autora considera que os processos que organizam a feira livre devem ser compreendidos à luz da posição da feira livre no processo de urbanização dos países subdesenvolvidos, o que nos faz lembrar outras experiências de “bagunça organizada” como o mercado Bandin de Bissau ou os mercados “Roque Santeiro” de Luanda ou “Sucupira” da cidade da Praia, baptizados com nomes retirados de telenovelas brasileiras.
Embora reconheça-se a importância destes lugares para as economias e as novas sociabilidades do pós-independência desses países, é necessário, ainda, compreendê-los como mundos rituais e espaços de convivência social, como propõe Leny Sato em relação às feiras livres de São Paulo. Estas experiências sociais acontecem no espaço público e caracterizam-se por se estruturarem em amplas redes de relações sociais que misturam diversas gramáticas sociais e se valem de regras tácitas de convivência. Tal como a feira livre, também a rede criada nesses mercados se alarga para além dos mesmos e corporifica-se no quotidiano, no burburinho e nos debates mais amplos dos centros urbanos e dos países.
Leny Sato pertence ao grupo de investigadores sociais do Brasil que se debruçam, com grande competência sobre o tema dos contextos de trabalho e de sociabilidade do Brasil contemporâneo e urbano. No seu caso, as investigações levadas a cabo ilustram a forma inovadora como vem utilizando a etnografia em psicologia social e como elege a interacção social como objecto de análise sem a descolar do seu contexto estrutural.
O seu estudo do mestrado, sobre as representações sociais dos motoristas de ônibus urbanos em São Paulo, aponta para a importância de se considerar a linguagem no trabalho. Daí a atenção dada ao vocabulário construído pelos motoristas para designar o seu universo. Um exemplo é a palavra “misturar”, que, originalmente, é empregada para expressar uma analogia entre o motor do carro que gripa ― quando a água mistura com o óleo ― e a situação vivida pelo trabalhador que “pira” quando os contextos de trabalho lhe exigem além do limite do suportável (passageiros muito exigentes, itinerários com trânsito muito intenso, jornada de trabalho sem pausas).
A sua tese de doutoramento que foi feita no “chão de fábrica” resultou de muito tempo de convivência com os operários de uma fábrica de sorvetes na cidade de São Paulo. Sua intenção foi identificar os processos de negociação quotidiana entre pessoas colocadas em posições diferentes com vistas a replanificar o trabalho das linhas de produção. Um dos casos relatados é o protagonizado por grupos de operários de duas linhas de produção diferentes que mantêm relação de dependência: a “linha de baixo” carimbava vasilhames que deveriam ser envasados com sorvetes pela “linha de cima”. Para superar o descompasso entre as linhas, os operários tiveram que negociar mudanças na organização do processo de trabalho, de modo a evitar a repetição do trabalho e suas consequências tanto para a qualidade do produto, como para a carga de trabalho exigida aos operários da “linha de baixo” quando a “linha de cima” atrasava o envasamento do sorvete.
A seguir, a feira livre foi o objecto de estudo da sua tese de Livre Docência em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, o que lhe conferiu o grau de Professor Associado. Dando continuidade ao seu programa de pesquisa sobre Psicologia Social do Trabalho empregando a abordagem etnográfica, conviveu com feirantes, freguesas e habitués. O objectivo foi o de apreender a lógica de organização da feira livre construída no dia-a-dia pelas pessoas.
Actualmente acontecem cerca de 900 feiras livres por semana na cidade de São Paulo, gerando renda para aproximadamente 40 mil pessoas que trabalham directamente nessa actividade. A feira é um comércio itinerante e a cada dia “fecha” um ou mais quarteirões. Ao ser instalada, a feira livre cria um universo particular, no qual as regras de convivência são peculiares. A comercialização de géneros alimentícios in natura, utensílios domésticos, roupas, calçados, flores etc., acontece em meio a relações de amizade, de competição e de negociação.
A autora considera que os processos que organizam a feira livre devem ser compreendidos à luz da posição da feira livre no processo de urbanização dos países subdesenvolvidos, o que nos faz lembrar outras experiências de “bagunça organizada” como o mercado Bandin de Bissau ou os mercados “Roque Santeiro” de Luanda ou “Sucupira” da cidade da Praia, baptizados com nomes retirados de telenovelas brasileiras.
Embora reconheça-se a importância destes lugares para as economias e as novas sociabilidades do pós-independência desses países, é necessário, ainda, compreendê-los como mundos rituais e espaços de convivência social, como propõe Leny Sato em relação às feiras livres de São Paulo. Estas experiências sociais acontecem no espaço público e caracterizam-se por se estruturarem em amplas redes de relações sociais que misturam diversas gramáticas sociais e se valem de regras tácitas de convivência. Tal como a feira livre, também a rede criada nesses mercados se alarga para além dos mesmos e corporifica-se no quotidiano, no burburinho e nos debates mais amplos dos centros urbanos e dos países.
Leny Sato pertence ao grupo de investigadores sociais do Brasil que se debruçam, com grande competência sobre o tema dos contextos de trabalho e de sociabilidade do Brasil contemporâneo e urbano. No seu caso, as investigações levadas a cabo ilustram a forma inovadora como vem utilizando a etnografia em psicologia social e como elege a interacção social como objecto de análise sem a descolar do seu contexto estrutural.
A conferência é aberta a todos.
4 comments:
Salve, salve Iolanda.
Ai, ai, ai! Sou apaixonado pelas feiras livres de SP. Elas são um maravilhoso caos pictórico. Vou todos os domingos (tipos às 7 da manhã) pra comprar peixe e frutos do mar. Mas não antes de comer 2 "pastel" de palmito e beber meio litro de caldo-de-cana. É o melhor remédio contra a ressaca de sábado. Eu seria uma ótima cobaia pra esses assuntos.
Podes começar a escrever a tese Manolo, pelos vistos material não falta.
Ai,ai,ai Manolo que a Leny ainda te encontra numa das feiras, observa você a comer 2 "pasteu" e um chopssss e ainda pede uma entrevista já que você é um habitué da feira! Continue!
Boa malha, Iolanda, estás em forma!
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