quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Vá, agora podeis ser politicamente incorrectos

Quando James Watson gerou polémica há poucos meses por defender que os Africanos eram menos inteligentes e que isso era determinado geneticamente houve na direita um movimento de solidariedade para com Watson contra o politicamente correcto. Pouco importa que James Watson não tenha avançado qualquer dado científico para sustentar as suas afirmações (e lamento muito mas dizer - cito de memória - "quem já trabalhou com negros sabe que as coisas não são bem assim" não pode ser considerado como um dado científico, é preciso um bocadinho mais). Acontece que agora há dados científicos que comparam geneticamente americanos descentes de africanos e de europeus, e os resultados são ligeiramente diferentes do que o próprio Watson esperaria (mas a esperança é a última a morrer, sobretudo para Watson). Um artigo acabadinho de sair na prestigiadíssima revista Nature mostra que os descendentes de africanos têm maior diversidade genética, mas isso são trocos, e - surprise, surprise... -, muito mais importante, os descendentes de europeus têm mais mutações deletérias. O que me chateia no jargão técnico é que um gajo no meio do climax tem que fazer uma pausa para dar explicações (e peço desculpa a quem conheça o palavrão "deletério"). Uma mutação deletéria é uma mutação que provoca deficiências graves e em geral a letalidade, ou seja uma deficiência genética. Quer isto dizer: os europeus têm mais deficiências genéticas do que os africanos (OK, reconheço que a inteligência não foi tratada neste estudo, portanto não podemos dizer nada a esse respeito). Eu pessoalmente até não acho que o artigo seja muito bom, nem interessante, nem sequer muito relevante. Não dou para esse peditório. Mas espero ansiosamente que aqueles tão voluntariosos espíritos que defenderam James Watson e as suas teses eugenistas sejam igualmente pungentes e enérgicos agora a bradar a única conclusão eugenicamente aceitável deste estudo: os africanos são geneticamente superiores aos europeus! Vá lá malta do politicamente incorrecto, repitam cem vezes e em coro: os africanos são geneticamente superiores aos europeus!

2 comments:

Anónimo disse...

Ui, face ao artigo de tão prestigiada gente, nem sei como me sentir. Sendo neta de uma negra e de um branco, filha de uma mulata e de um branco, já vou a meio caminho da dita mutação genética! Caramba!Que evolução! A minha melhor amiga, branca de gema vai ter um ataque.Segundo ela, eu deveria correr como uma gazela, jogar basquete ou dedicar-me a qualquer outro desporto indicado para mestiços. Gaita! Licenciei-me duas vezes (matemáticas aplicadas e engenharia quimica). Será que a minha mutação tem a ver com o facto de estar na Europa? Mais valia estar em Africa, na minha terra, como sempre me é dito. A culpa é da minha mãe, essa tonta que é médica! Quem manda? Hein? Podia se mulher a dias para ser mais valorizada! Bem, pelo menos já me ri um bocado. Ah, um muito obrigada pelo artigo. Por causa dele, estamos (os amigos branquelas) a rir do facto de eu não gostar de melancia e de frango assado! Damme you! Um abraço por estar atento a coisas verdadeiramente importantes.E não, nem todos os africanos são geneticamente superiores aos europeus! Eu tenho 1,54 cm, okay? Clara B.

Zèd disse...

É um prazer escrever para leitores como a Clara B. Este artigo científico, para além de servir para chatear os eugenistas, e para divertir os não eugenistas até nem tem muito interesse.