sexta-feira, 20 de abril de 2007

Será assim tão dificil?

No início da semana eu ficava irritado. Agora acho que fico simplesmente triste. Triste por ver pessoas inteligentes escrever coisas como o Miguel Vale de Almeida, que insiste no discurso que esta "vergonhosa" campanha é "elitista", que se baseia na "ideologia dos doutores" e que quer promover a "ideologia capitalista do sucesso".

Miguel, vamos lá deixar os palavrões caros de lado: para quê tanto exagero quando falha tão redondamente o alvo? Não vê que não está em causa transformar ninguém em "doutor" (e se estivesse, qual era o problema?)? Apenas se pretende que o/as miúdo/as adquiram, pelo menos, a escolaridade mínima...Não vê que não se pretende catapultar ninguém para a estratosfera do turbocapitalismo de sucesso? Apenas se pretende garantir os recursos mínimos para o futuro de pessoas que sem eles ficarão entregues ao emprego precário ou ao desemprego crónico...Será que é assim tão difícil compreender este esforço? Será que não compreende o valor de uma certificação quando não se tem nenhuma? Será que não compreende a importância de transmitir a estes jovens a ideia precisamente de que eles podem e devem ambicionar ter algum sucesso na vida, para contrariar o fatalismo crónico que transportam de casa para a escola, e da escola para casa, que marca a sua existência quotidiana, que lhes limita fatalmente os horizontes desde criança?...

Sim, Miguel, estes jovens precisam mais do que ninguém de uma certificação e mais do que ninguém da confiança mínima que podem ter algum sucesso na vida. É disso mesmo que eles precisam. Porque tudo o resto na existência deles os puxa para baixo. Achar o contrário, achar que isso do "doutor" é um luxo, é apenas e só projectar a sua visão do mundo na "análise" (?) deste problema; e achar que isto é conversa delirante do "elitismo" e da "autocracia socialista" é a mais completa indiferença mascarada de preocupação por estas pessoas.

Há alturas em que eu perco esperança na lucidez das pessoas, na razão humana. Isto, felizmente, passa.

1 comments:

Anónimo disse...

eu tou rés vés de miuda, ainda dá pa falar daqui. a malta tem bolsas da caca, vai trabalhar praí e das duas três, ou não estuda ou não tem tempo para si ou faz tudo em estado robótico, ou fica á beira da família, essa sim, primeira geração que acredita piamente que canudo=emprego, muita gente conheci que não queria estudar exactamente nada do que supostamente estava a estudar, que o fazia para os "investidores", antes da universidade, escolas desequipadas (acho q já está melhor), universidades desequipadas a contar com a família, um sistema impergnado de cunhas, um trabalho num café, muito mesmo muito mal pago, sem irs....