domingo, 10 de junho de 2007

O meu mote para o 10 de Junho

"Não sou nem ateniense, nem grego, mas sim um cidadão do mundo". (Sócrates-o-original)

11 comments:

Renato Carmo disse...

Cosmopolitismo é mais um daqueles novos(?) chavões que encontramos à saída de uma qualquer estação de metro.

Hugo Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Mendes disse...

Também posso dar lista bibliográfica para credibilizar o conceito, já que o achas tão vago e populista; torná-lo-ia mais sério, não? :)
(por falar nisso, a frase do Sócrates está mesmo nas paredes do corredor de saída da estação de metro da Cidade Universitária)

Para além de que não é nada novo...E também podia ser "internacionalismo" - talvez gostasses mais, é mais de "esquerda".

Renato Carmo disse...

Pois está mesmo na saída da estação da cidade universitária, daí o meu comentário. Mas, agora fora de brincadeiras, desconfio que o conceito de cosmopolitismo se está a transformar numa espécie de substituto de outro conceito não menos politicamente correcto: o “multiculturalismo”.

Hugo Mendes disse...

Não é o substituto, é o contrário.

Renato Carmo disse...

Como é que é?

Hugo Mendes disse...

Para reduzir as coisas que fazem pare de uma dicussão complicada: é o "contrário" no sentido que cosmopolitismo defende que todos os indivíduos têm valor idêntico independentemente da sua pertença nacional ou cultural, e por isso assenta num universalismo moral. O multiculturalismo defende que as são as culturas - e não os indivíduos - têm valor igual, o que implica que os indivíduos são primeiro vistos como pertencendo a uma dada cultura e só depois entes portadores de direitos universais.
Por esta via, práticas que violam direitos individuais podem ser justificadas a partir de uma filosofia multiculturalista (ou [multi]comunistarista), dado que para esta são as culturas que são a unidade de análise, e não os indivíduos. Nesse sentido e no limite, uma política multiculturalista pode ser verdadeiramente reaccionária, porque obliteradora dos direitos que protegem os indivíduos. E pode legitimar exclusões múltiplas, amarrando, como se gosta de dizer, "os jovens às suas comunidades/terras/tradições", etc. As pessoas associam normalmente o multiculturalismo a fenómenos como o melting pot cultural, mas a real e problemática discussão entre cosmopolitismo e multiculturalismo não é essa, porque o cosmopolitismo vive e estimula todos os "melting pots" possíveis; aquilo a que o cosmopolitismo se opõe é a multiplicação das "culturas" e "comunidades" para respeitar o seu direito à reprodução das suas tradições e costumes, e defende, precisamente, uma mistura ou, se quiseres, uma "hibridização" dessas mesmas tradições e costumes.
De qualquer forma, a um nível mais fino de análise do problema, há naturalmente políticas defendidas à luz do multiculturismo que parecem razoavelmente benignas (por ex., a estatuto da língua francesa no Quebec); outras há, porém, que são verdadeiramente perversas (recordo aquele exemplo de há uns meses de uma juiza alemã que justificava a recusa em conceder o divórcio a uma mulher muçulmana porque o casal era de "cultura muçulmana" e o Corão autoriza os maridos a castigar as mulheres - este é um exemplo de como os direitos da cultura muçulmana se sobrepõem aos direitos do indivíduo).

Renato Carmo disse...

Hugo, proponho que transformes este comentário num post, para abrir a discussão.

Um abraço.

Zèd disse...

Hugo,
Quando falas de multiculturalismo falas "DO" multiculturalismo, ou de uma das concepções possíveis do multiculturalismo.
Parece-me (mas eu conheço muito pouco do assunto) que multiculturalismo se define por oposição ao monoculturalismo, que é quando os individuos têm que se submeter à culutra dominante de um país (que se reflecte no sitema político e legal). O multiculturalismo pode ou não ser compatível com o cosmopolitismo. Ou definem-se como incomptatíveis?
(nesse caso eu sou pelo cosmopolitismo, e mesmo pela miscigenação)

Hugo Mendes disse...

Olá Zèd, não é uma tanto uma questão de serem incompatíveis, mas de sob a filosofia do multiculturalismo, aparentemente benigna, se esconderem muitas perversões que são incompatíveis com o cosmopolitismo. Há, por isso, entre eles, zonas de contacto, mas zonas de distanciamento importante. Hibridização, miscigenação, tudo isso é compatível com, e desejável sob o cosmopolitismo, que - e é aqui que a porca toce o rabo - é mais exigente, do ponto de vista da protecção dos direitos indviduais que o multiculturalismo pode tolarar, em nome de uma concepção de "igualdade de culturas".

Hugo Mendes disse...

Olá Renato, agora não sei se tenho muito tempo para entrar numa discussão sobre um tema tão diferente, assim fico com as antenas todas trocadas com as outras coisas que estou a fazer :) Mas fica prometida para os próximos tempos uma discussão mais séria e longa sobre este tema.