quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Coincidências....E o buraco é mais embaixo.

Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o usuário de drogas no Brasil pertence à classe alta. A pesquisa "Estado da Juventude, Drogas, Prisões e Acidentes" feita com base em um estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2003, mostra que 62% dos usuários de drogas pertencem à classe A (com renda familiar acima de 9,5 mil reais por mês – aproximadamente 3,7 mil euros). Até , tudo bem e não apresenta novidade alguma, uma vez que outros estudos acadêmicos, realizados há muito mais tempo, tinham chegado à mesma conclusão.

O estranho dessa pesquisa é exatamente a “coincidência” (e eu não acredito em coincidências) de sua divulgação logo a seguir a polêmica criada em torno do filmeTropa de Elite”, que detonou uma forte campanha que responsabiliza os usuários de drogas pelo financiamento do arsenal do crime organizado e, por consequência, o aumento da criminalidade brasileira. O que sugere apenas ações policiais para combater a criminalidade, sem colocar em questão a necessidade de uma política pública de inclusão social. Será que não está na miséria e numa das piores distribuição de renda do mundo a mão-de-obra do narcotráfico? Pois bem, pensar não dói!

Não quero aqui fazer qualquer apologia às drogas, mas atribuir o grau de violência que se vive no Brasil somente ao seu usuário é uma visão muito simplista e moralista da questão . Pior. O que se pretende nas entrelinhas é desassociar a miséria da criminalidade urbana. É claro que todo o crime tem de ser combatido com rigor, mas mascarar a suas origens e tão criminoso quanto o crime em si, principalmente num Brasil hipócrita e cheio de preconceitos velados, onde o maior pecado é ser pobre.

Outracoincidência é que o filmeTropa de Elite começou a ser produzido logo depois de sancionada a lei que acaba com a prisão para usuários e dependentes de drogas. Lei esta, que abriu a discussão pra legalização total das drogas no Brasil.

Quanto à discussão sobre a legalização da droga, o problema maior é que ela está sendo profundamente ideológica e que depois de ouvirmos o lado favorável à legalização e o lado da proibição pura e simplesmente, não ficamos nenhum pouco mais esclarecidos. E o que precisamos é de um debate sem preconceitos moralistas e sem argumentos simplistas e rasteiros, pois assim não chegaremos a lugar algum.

O maior argumento entre os defensores da legalização é o de que atenuaria os índices de violência a que está exposta toda a sociedade. Tenho dúvidas sobre o resultado. Particularmente, acredito que a criminalidade tem de ser debatida sem colocar em causa o usuário de droga.

Em suma. Deixo aqui uma pergunta. Num país onde 10 mil crianças trabalham para o narcotráfico nas favelas do Rio de Janeiro, de quem é a culpa? Como se , senhores, parece-me que o buraco é mais embaixo.

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