quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O piquenique transformado em burocracia

Não sei se é um reflexo inevitável da idade (ou da esclerose gradual), da paternidade, da dita vida moderna - provavelmente é de tudo isso ao mesmo tempo –, mas sinto cada vez mais o peso do pragmatismo no modo de pensar e agir. É quase automático! No outro dia a mãe de uma colega de um dos meus filhos (a partir de certa altura deixamos de ter nome próprio e passamos a ser conhecidos como o pai ou a mãe de tal criança) sugeriu-me fazermos um piquenique. Uma coisa simples um piquenique: leva-se uma toalha, umas sandes, sumos… Lembram-se? Quando foi a última vez que fizeram um piquenique na zona de Lisboa ou arredores? Recordo-me há 25/30 anos atrás de “piquenicar” habitualmente debaixo de um qualquer descampado. Nessa altura não havia família digna desse atributo (o de ser família) que não ‘piquenicava’ de vez em quando. Epá, a malta sujava-se um bocado, é certo… mas ora corríamos à apanhada, ora fugíamos às escondidas, e nos intervalos procurávamos pinhas cheias que atirávamos aos troncos das árvores na esperança que explodissem milhares de pinhões. Andávamos inofensivamente à solta… enfim, éramos putos.
Mas, voltando à sugestão da tal mãe de uma colega do meu filho, não é que reagi como se ela tivesse proposto a coisa mais estrambólica deste mundo: “O quê, um piquenique! Onde, em Lisboa? Num jardim? A que horas? Como? O que se leva? Não irá chover?” A mãe (de uma colega do meu filho), olhou para mim e eu vi nos seus olhos o espelho da minha monstruosa ‘pragmatice’ aguda. Só faltou sacar da agenda e planificar o evento etapa por etapa. O que é que se passa? Será que me estou a transformar num autómato que só funciona na base dos relatórios de actividades e da projecção de cenários credíveis e prováveis? Parece que tudo se profissionaliza, até a merda do quotidiano! E neste já não há lugar para piqueniques.

5 comments:

Shyznogud disse...

tsc tsc... tens que ir passear para o Calhau de vez em quando e perceberás que a picnicagem ainda é praticada por muitos lisboetas.

Sofia Rodrigues disse...

O que está mal planificado é esse piquenique só com sandes e sumos e sem tachos de arroz de frango/valenciana e vinho :-)

Elisa disse...

Oh oh
estou com a Sofia, piquenique sem tachinho de arroz de tomate, não é piquenique. E o vinho, sim, o vinho!
:-) Mas afinal, Renato, o piquenique fez-se ou não se fez?

Renato Carmo disse...

Muito bem minhas caras amigas, ficam desde já responsabilizadas por organizar um piquenique à maneira. É só marcar a data na agenda.

Elisa o piquenique ficou adiado... veio a chuva.

Bjs

Shyznogud disse...

Não me desafies..Ah! e picnic sem bifes panados não é picnic.

(o Calhau fica em Monsanto, ao pé do Palácio de Fronteira, sooorry por ter presumido q sabias)