Sobre a mais recente beatificação massiva do Vaticano só se pode considerar que é um ataque directo a um país que está efectivamente a separar as águas estatais das espirituais, entre dois Estado laicos podia ser considerado uma declaração de guerra. Não deixa, contudo, de ser penoso ver que a Igreja a qualquer perda de poder temporal reaja sempre com ofensivas cheias de rancor contra os «culpados» que vai enumerando numa lista que já tem alguns séculos e que se pode enunciar mais ou menos por esta ordem: a Reforma; a Revolução Francesa; a Maçonaria; a Revolução Industrial; o Marxismo; o Capitalismo. Todos estes processos históricos geraram, então, golpes profundos no status quo católico e que podem ser sumarizados nalguns pontos como a emergência das dinâmicas urbanas; alteração dos modelos familiares; a modificação de relações profissionais; o feminismo.
A Igreja, de tanto atacar, feriu-se, perdeu-se, parece incapaz de reflectir sobre si própria, e, sobre a suas origens que são urbanas, que vão contra uma série de constrangimentos sociais e de leis morais, sobre as propostas iniciais de renovação e libertação do ser humano, sobretudo do que está mais desprotegido e longe do poder. E enquanto mais não fizer que promover uns beatos fascistas à espera de um milagre de retorno a um Franquismo global, «junto aos rios da Babilónia nos sentámos a chorar».
*Salmo 137 - Salmo colectivo de súplica, no âmbito do exílio do povo hebreu na Babilónia.
3 comments:
Quer-me parecer que o Ratzinger foi uma muito má escolha. Apesar de tudo a Igreja sempre teve uma boa capacidade de se adaptar às circunstâncias, Ratzinger parece querer que as circunstâncias se adaptem à Igreja. E os seus ataques ao laicismo desde que se tornou Papa (ou antes mesmo) são por demais gritantes.
É foi mesmo má escolha. Mas é esse adaptar às circunstâncias que também me entristece na Igreja, porque ela devia antes, em muitos casos, antecipar-se.
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