quinta-feira, 26 de março de 2009

A extrema-direita vai mostrando as suas garras

Le Pen e o Holocausto como detalhe da II Guerra Mundial. Nada de novo: apenas mais uma a juntar à sua já extensa colecção de execráveis bojardas retóricas. Em crescendo?

4 comments:

Sappo disse...

Ai, ai, Deniel.

E o pior é que eu prevejo uma onda turbulenta à direita a agitar ainda mais os mares europeus. Vamos ver o que dizem as uropéias. Elas serão bem sintomáticas.

Daniel Melo disse...

Esperemos que não, Manolo. Ignoro se há sondagens já feitas sobre as eleições europeias, mas estou em crer que a direita irá recuar significativamente. Pelo menos, faria algum sentido que assim fosse, pois são os mais responsáveis pela actual crise, dado o seu maior apoio ao neo-liberalismo sem freios nem regras.

Sappo disse...

Não sei se estou a ser muito pessimista, Daniel, mas não creio que haverá um recuo significativo da direita europeia, mesmo porque a esquerda que hoje governa se não é ré é cúmplice na atual crise, pois se desacostumou (ou desaprendeu) ao exercício crítico do capitalismo. É o caso, por exemplo, de Zapatero e Sócrates (só pra ficar em quem está a governar). Se de um lado a esquerda não é a responsável direta pela atual crise, ela falha em não apresentar alternativas efetivas para superá-la. Está a usar o mesmo mecanismo da direita: gastar o dinheiro público para socorrer empresas privadas.

Ainda não há qualquer sondagem sobre as euroepeias, mas o que me levou a este arriscado comentário foram algumas deduções:

A atual crise na realidade começou a ser desenhada e sentida já no início do ano passado. A resposta na Inglaterra foi imediata. Nas eleições locais de 2008, os trabalhistas (apesar de a rigor não ser um partido de esquerda é o melhor que o britânicos podem oferecer) sofreram a maior derrota de toda a sua história. Foram massacrados por conservadores e liberais. O partido de Gordon Brown não conseguiu ir além da terceira posição. Creio que este resultado se repetirá nas eleições futuras.

Na Espanha a resposta veio só agora com as autônomas. Na Galiza a direita (PP) venceu com maioria absoluta. Já no País Basco, os socialistas só vão governar porque estão a compor com a direita (PP). Detalhe: o Partido Nacionalista Basco (o vencedor de fato) não é de esquerda. É na melhor das hipóteses de centro-direita. Em Euskadi, quem mais perdeu foi a esquerda nacionalista. Em suma, o que se viu nessas autônomas foi um PP mais forte e um PSOE fragilizado, com um Zapatero acuado e sem qualquer resposta pra atual crise, tentando apenas manter a governabilidade. O que está difícil, pois perdeu o apoio parlamentar dos nacionalistas bascos, galegos e catalães. Tentará ganhar tempo pra se recuperar, pois sabe que qualquer tentativa agora de antecipar o processo eleitoral será fatal para os socialistas. Só não sei se ele conseguirá se recuperar. O PP está a morder os seus calcanhares.

Já em França também não vejo grandes possibilidades da esquerda. Ao contrário. O PS nacional não consegue se livrar da sua eterna crise de identidade e está ainda mais dividido do que nunca. Venceu em 2008 em inúmeras cidades e departamentos importantes, mas emperra quando disputa em nível nacional. Aliás, o PS francês é a Amy Anihouse da política: tem instinto autodestrutivo insuperável.

Já na Alemanha, tudo deve ficar como está. O esquerdista Die Linke vem ganhando força, mas ainda não tem como derrotar a coalizão conservadora composta pela social-democracia e democracia-cristã.

Também na Itália não vejo perspectivas imediatas pra esquerda. Enquanto Berlusconi aglutina a direita, a esquerda se divide (foi assim ano passado). É o caso do recém-nascido Partido Democrata, que até o momento tem se apresentado sozinho. O sistema eleitoral italiano favorece fortemente as coligações. A esquerda somente terá qualquer possibilidade se se unir e formar um bloco eleitoral amplo.O que não é lá muito provável.

Já quanto a Portugal sou mais otimista. Creio que PS só perderá as próximas eleições parlamentares se algo muito grave acontecer até lá, seja no campo político ou econômico. Vencerá mas não será por maioria absoluta como deseja Sócrates. O BE deverá “roubar” muitos eleitores socialistas mais à esquerda. A direita portuguesa continua no mesmo marasmo e no mesmo vazio político de 2005. Creio que não causará grandes danos às pretensões socialistas.

Cito apenas estes países porque não tenho muitas informações sobre os demais da UE.

Daniel Melo disse...

De facto, o cenário não é famoso, Manolo...
Ainda assim, parece-me que quem será mais penalizado será a direita. Embora, muitas vezes, se aproveitem as europeias para castigar os governos internos. Vão ser resultados mais imprevisíveis, isso é seguro.
A abstenção também é capaz de aumentar.
É importante que o Parlamento Europeu ganhe uma liderança mais progressista.
A ver vamos o que o futuro nos reserva.