Após a aprovação de manuais escolares dando apenas o lado positivo do estalinismo, e sugestões públicas de Putin no mesmo sentido, chegou a vez da censura ao pluralismo através do cerco à edição comercial e aos arquivos das ONG's.
A denúncia partiu do historiador britânico e russólogo Orlando Figes, após o processo de cancelamento da edição da sua última obra na Rússia, The whisperers: private life in Stalin's Russia, alegadamente por coacção política. A documentação de suporte ao livro depositada nos escritórios de São Petersburgo da organização internacional de direitos humanos Memorial Society foi entretanto confiscada por agentes "armados e encapuzados" do Comité de Investigações do gabinete do procurador-geral russo. "O raide à Memorial é parte de uma maior luta ideológica pelo controlo do que é publicado e ensinado sobre História na Rússia, e seguramente esse raide deve ter influenciado a decisão do editor russo em cancelar o contrato do meu livro"- denunciou Figes ao The Guardian, em Dezembro passado.
É verdade que o seu premiado livro A people's tragedy, sobre a revolução russa e o estalinismo inicial, é muito crítico daquela revolução, mas o eventual contraditório (vd., p.e., críticas ao uso das narrativas individuais como prova generalizável e à perspectiva adoptada aqui) e debate de ideias não passa obviamente pela rasura do pluralismo. E, lamentavelmente, é isso que está a ocorrer na Rússia de Putin, em vários campos da vida social. A tradição autoritária e nacionalista russa não olha a regimes.
2 comments:
nem de propósito, estou a ler o whisperers. merece tradução portuguesa.
abraço
Coincidências, Nuno, neste caso positivas. Ainda bem :)
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