Não sei que atenção tem merecido, fora de França o movimento de contestação universitário (de professores, em primeiro lugar) francês. Leva já praticamente dois meses de duração e dirige-se contra duas medidas fundamentais do governo: a reforma do estatuto da carreira docente e da formação de professores (para o ensino básico e secundário). Atrás disto está, como noutros países, o entendimento que os governos fazem do processo de Bolonha, e toda a política futura da universidade e da investigação científica.
O movimento tem, como todos, as suas contradições. Nalguns momentos, participo nele com o incómodo de poder parecer que estou a defender um sistema, o da universidade (e da escola) pública, com todos os seus defeitos. Mas peso os prós e os contras. E vejo que aqui, como em tantos outros casos, o problema não é reformar. É o conteúdo e o sentido da reforma. O governo Sarkozy está a torpedear o que existe - bom e mau - para criar uma mais que duvidosa selecção natural darwiniana.
O assunto daria pano para mangas. Deixo só este vídeo que ilustra uma das mais criativas manifestações em curso, de um simbolismo e uma dignidade impecáveis: a ronda infinita dos obstinados, na praça do município (noutros tempos, 'place de grève') em Paris. A ronda não pára, desde dia 23 de março passado. Como um carrocel, girando dia e noite. Já leva cerca de 150 horas, alimentada pela obstinação de cada qual. E promete só parar quando o governo perceber que é ele -- e não nós -- quem está a andar em círculos.
segunda-feira, 30 de março de 2009
A ronda infinita dos obstinados
Posted by andre at 20:11
Labels: França, processo de Bolonha, Universidades
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2 comments:
Post bem oportuno, André, numa altura em que o sistema universitário está em crise e as soluções que surgem parecem ser pior emenda que o soneto.
Ainda por cima, rareia a informação por aqui. Que me recorde, até agora apenas deparara com um texto sobre o assunto, creio que num blogue.
Mesmo sobre a aplicação do processo de Bolonha em Portugal, que me lembre só o Miguel Vale de Almeida tem aprofundado uma análise crítica no seu blogue.
Pois é, caro Daniel.
Eu, sobre as reformas universitarias portuugesas, também so acompanhei alguns comentarios do MVdA. Lembro-me também de um artigo recente do Medeiros Ferreira no DN.
Por aqui a situação esta bastante complicada. Nas universidades a fronda não da sinais de acalmar e o governo, claro, finge que cede sem ceder.
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