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Dos poucos filmes chineses que vi nos últimos tempos ficaram-me particularmente na memória dois, por serem muito bons: "
2046" de Wong Kar Wai, e "
Sanxia haoren" ("Still life" no título internacional) de Jia Zhang-Ke. Achei os dois filmes completamente diferentes. "2046" pareceu-me um filme baseado nos diálogos, muito bons, de onde sai uma enorme poesia. O cenário cria um ambiente de época, romântico, que suporta muito bem a trama e os personagens. Os personagens, esses pareceram-me bem construidos, e perfeitamente credíveis no seu contexto. Já "Sanxia haoren" os diálogos pareceram-me estranhos, os persongens inverosímeis, o argumento no limite, e o cenário vagamente surreal. Pareceu-me tudo de uma excelente concepção, para construir no extremo do real, ou para lá disso, uma espécie de metáfora sobre uma qualquer transformação social na China de tempos recentes.
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Entretanto conheci recentemente, por razões profissionais, um chinês radicado há poucos anos na Europa. Um cinéfilo convicto, amador e conhecedor do cinema chinês (e não só). Entre outras coisas aconselhou-me a ver o filme
original em que Scorcese se baseou para fazer "
The Departed (Entre Inimigos)", (ao que parece no original o filme tem um verdadeiro
final, ao contrário da versão Scorcese). Falando de "2046" e de "Sanxia haoren" achou-os também completamente diferentes. Em "2046" achou os diálogos estranhíssimos (ele tem a vantagem de perceber a língua original), o ambiente vagamente surreal, a trama e os personagens inverosímeis, mas tudo muito bem construído, de uma grande beleza e poesia, mas longe da realidade. Quanto a "Sanxia haoren" (pelo qual pareceu ter alguma preferência) achou o filme um quase-documentário. Um retrato perfeito de uma certa China que existe hoje, com diálogos e personagens realistas e credíveis, e um enredo bem conseguido. Aconselhou-me aliás a ver os outros filmes recentes de Jia Zhang-Ke, para ter uma imagem da China de hoje. Esses filmes vão na linha quase-documental de "Sanxia haoren", em que o realizador tenta até inserir o próprio espectador na tela.
Afinal é tudo relativo não é? Até a maneira como se vê os filmes...
7 comments:
pode ser q te apeteça passar os olhos neste artigo:
http://www.prospect-magazine.co.uk/article_details.php?id=6514
shyznogud
:-))
Acreditas que não vi nem um nem outro?
O 2046 estou para ver há muito tempo. O do Jia Zhang-Ke não sei se verei.
Só vi o Infernal Affairs e o The Departed e gostei dos dois. Lembro-me que o Infernal Affairs tinha uma epígrafe magnífica, tirada do Inferno de Dante: "O pior dos infernos é o continuo". Acreditamos..
Oh porra! E eu p'r'aqui a gastar o meu latim :-). Tenho que escolher melhor para a próxima vez.
Shyz,
Obrigado pelo link, muito interessante.
Belo latim, o teu! não só me apetece imenso ver o 2046, como me convenceste a ir ver o do Jia Zhang-Ke!
Tens o 2046 em DVD? se tiveres fazemos uma troca quando vieres cá: O 20046 pelo Gattaca (hehehe! eu é que fico a ganhar!)
Também gostei do link, Shyz
Não tenho o dvd do "2046" mas tenho o "House of Flying Daggers" (de que tanto fala o artigo linkado pela Shyz - mais uma vez obrigado), que é muito bom. Serve para a troca?
Num registo completamente diferente dos exemplos que apresentam, atrevo-me a sugerir-vos o "Ridding Alone for 1000 miles" http://www.imdb.com/title/tt0437447/
Merece visionamento, "acho eu de que".
Shyznogud
Ja que estamos no "vi esse filme e gostei", sugiro "stranger than fiction" que foi uma das ultimas boas surpresas que vi. Surpresa porque estava à espera dum mau filme (por causa do actor Will Ferrell) e porque encontrei uma pérola. Aconselho calorosamente.
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