Passou por cá o director do Le Monde diplomatique, Ignacio Ramonet, que deu uma palestra ontem em Lisboa. De uma forma geral o seu discurso não acrescentou muito aos seus escritos. Contudo, gostaria de pegar em dois pontos (um positivo o outro negativo) salientados pelo jornalista francês. O positivo tem a ver com a sua concepção sobre a União Europeia, para Ramonet a UE é uma brilhante invenção que une diferentes países em torno de um projecto de paz. Terá os seus imensos defeitos, é certo, mas apresenta-se como um projecto solidário em termos do empenhamento mútuo para o desenvolvimento. Este princípio, de que a EU é uma construção intrinsecamente boa, parece-me ser muito inovador no contexto de uma certa esquerda mais ortodoxa.
O aspecto mais negativo que retive da conferência de ontem relaciona-se com a sua concepção sobre a globalização da cultura. Para Ramonet esta representa uma espécie de consequência da globalização económica, na medida em que juntas tendem a impor aos quatro cantos do mundo um determinado modelo que deriva do modo de vida ocidental (ou seja, americano). Ora bem, penso que já foi relativamente demonstrado pelas ciências sociais que não se pode encarar a globalização cultural como um mecanismo essencialmente hegemónico. Pelo contrário, esta constitui-se cada vez mais por formas diferenciadas de apropriação e de produção de novos conteúdos e de novos estilos de vida. Em muitos contextos locais não se verifica uma formatação modelar vinda de uma qualquer esfera global, mas uma interconexão, muitas vezes híbrida, entre culturas e modos de ver e estar no mundo. Por exemplo, a Internet é um excelente palco onde se cruzam e se atropelam diariamente milhões de trajectos individuais, comunitários… É impossível olhar para a Internet como uma plataforma de hegemonia cultural.
Entendo que a esquerda, aquela que ainda mantém uma réstia de utopia (outros dirão alienação), deveria autonomizar as causas e os efeitos da globalização económica face aos processos que imanam da globalização da cultura. Em vez de reduzir tudo na mesma amalgama deveria encarar esta última como um recurso no qual se esboçam e se concretizam alternativas capazes de potenciar movimentos mais amplos. Já tivemos inúmeros exemplos disso. Em meu entender a emancipação social e cultural emerge e é constituída pela globalização.
O aspecto mais negativo que retive da conferência de ontem relaciona-se com a sua concepção sobre a globalização da cultura. Para Ramonet esta representa uma espécie de consequência da globalização económica, na medida em que juntas tendem a impor aos quatro cantos do mundo um determinado modelo que deriva do modo de vida ocidental (ou seja, americano). Ora bem, penso que já foi relativamente demonstrado pelas ciências sociais que não se pode encarar a globalização cultural como um mecanismo essencialmente hegemónico. Pelo contrário, esta constitui-se cada vez mais por formas diferenciadas de apropriação e de produção de novos conteúdos e de novos estilos de vida. Em muitos contextos locais não se verifica uma formatação modelar vinda de uma qualquer esfera global, mas uma interconexão, muitas vezes híbrida, entre culturas e modos de ver e estar no mundo. Por exemplo, a Internet é um excelente palco onde se cruzam e se atropelam diariamente milhões de trajectos individuais, comunitários… É impossível olhar para a Internet como uma plataforma de hegemonia cultural.
Entendo que a esquerda, aquela que ainda mantém uma réstia de utopia (outros dirão alienação), deveria autonomizar as causas e os efeitos da globalização económica face aos processos que imanam da globalização da cultura. Em vez de reduzir tudo na mesma amalgama deveria encarar esta última como um recurso no qual se esboçam e se concretizam alternativas capazes de potenciar movimentos mais amplos. Já tivemos inúmeros exemplos disso. Em meu entender a emancipação social e cultural emerge e é constituída pela globalização.
3 comments:
Bem visto Renato. Não conheço os estudos sociológicos, mas ideia de que a globalização promove a hegemonia e uma homogeneização da cultura parece-me uma pura "ilusão de óptica". As culturas de diferentes países podem até tornar-se mais semelhantes, mas isso deve-se às trocas e influências que as culturas exercem umas sobre as outras, e é na minha opinião algo de muito positivo. É o cosmopolitismo. O reverso da medalha é o aumento da diversidade cultural dentro de cada país, o que me parece igualmente bom. A diversidade é (ou devia ser) um dos valores da esquerda, e a globalização da cultura é de facto uma oportunidade a não perder.
Também concordo convosco neste tema da globalização cultural.
Só queria aditar 2 pontos e retomar os novelos, a partir da reflexão sobre a mesma conferência.
Além da UE, que subscrevo inteiramente, Ramonet tb. falou da ONU como uma aquisição civilizacional histórica e aqui tb. concordamos. Posto isto, achou que esta devia ser reformada, e que se perdera uma oportunidade única aquando dos 60 anos da instituição, em 2005), o que tb. é consensual.
Falou ainda da mudança histórica que é a ameaça de ruptura ecológica, pois esta pode ser irreversível.
Retomando a questão da diversidade cultural, houve de facto mudanças relevantes no último decénio que Ramonet descura: o contributo para a pluralidade política e cultural e a diversidade de posicionamentos e de acesso à informação, ao saber e à opinião trazidos por novas formas de comunicação, como a Internet, o telemóvel, o e-mail, o DVD, etc..
Apesar disso, persistem ou surgiram novas tendências homogeneizantes, patente no consumo, na moda, em parte dos mecanismos de certas indústrias culturais.
Mas aí, o estrangulamento reside na própria organização económica que condiciona a estrutura cultural, por ex., nas indústrias culturais.
Além do diagnóstico, estava à espera de mais propostas.
Fica para a próxima oportunidade.
É isso mesmo, Renato.
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