Uma nota prévia: Como já foi referido algures aqui no Peão, Cosmopolitismo e Multiculturalismo não são a mesma coisa (encontrei uma boa explicação da diferença aqui). Eu próprio confundi os dois em posts anteriores, fica aqui o esclarecimento, entre um e outro prefiro sem hesitações o Cosmopolitismo. O Cosmopolitismo cria pontes onde o Multiculturalismo ergue barreiras. Aliás, até mais do que pelo Cosmopolitismo sou mesmo é pela Misturas, pela Miscigenação.
E nas minhas deambulações (sobretudo por Paris, mas não só) cheguei à conclusão que o Cosmopolitsmo começa pelo estômago, ou se quiserem pelas papilas gustativas. Não conheço maneira mais fácil de começar a criar pontes entre comunidades do que a gastronomia. Veja-se o exemplo das Sanduíches Libanesas no Quartier Latin. Há várias casas que se dedicam ao negócio, mas a mais aconselhável é "Au Vieux Cèdre" (187 rue St. Jacques, ou 2 rue Blainville). Como quem não quer a coisa as sandes são baratinhas. Kefta ou Mahkaneke, ou melhor ainda Chiche Taouk (frango marinado em alho e lima), enrolado em pão tipo pita com salada e molho, e para quem quiser - o que é definitavamente uma boa ideia - um complemento de batata à la Libanaise. A sandes é depois tostada tipo panini - uma delícia! Em momentos de não rara simpatia o cliente tem o direito a um chá libanês - com menta e tomilho e mais alguns ingredientes, estamos em negociações para obter a receita - oferta da casa para compensar a espera (que é, em média, de 3m42s). Há ainda sobremesas como a irresitível Balohria, à base de flor de laranjeira. "Au Vieux Cèdre" é também um local de encontro com um pouco, por pouco que seja, da cultura libanesa, pelo menos a música, que toca em permanência. Mas pode ser também um ponto de contacto com a vida política do Líbano. Durante a Guerra do ano passado fez-se circular muita informação sobre as acções de solideriedade para com o Líbano decorridas em França, e blogues libaneses. Rentemente o "Au Vieux Cèdre" lançou uma nova sanduíche, a Fajita. E agora pergunta o leitor: Fajita? Mas isso não é mexicano? E responde este vosso bloguer: é mexicano, mas numa sandes libanesa é daqui (e aperta o lóbulo da orelha direita entre o polegar e o indicador), uma maravilha!
Sendo a concorrência na área das sanduíches libanesas díficil, uma outra família de libaneses decidiu diversificar. Abriram o "Pains, Salades et Fantesies" (22 rue Gay Lussac, mesmo ao pé do Jardin du Luxembourg). O nome diz tudo quanto ao tipo de comida que servem. Não se pode é dizer que seja um tipo de gastronomia calssificável pelos padrões canónicos. Não é libanês, nem francês, nem outra qualquer etnicidade, é uma misturada, e da boa. Paninis de salmão fumado, ou frango, ou vegetariano à base de beringela. Saladas "Californianas" ou de marisco, ou "Tropical". Uma variedade de escolha apreciável, e a confecção muito boa (só é pena ser tudo muito saudável). Nas sobremesas é absoulutamente imperdível o "Fraicheur", iogurte natural, com folhas e menta e passas. Tudo isto num ambiente muito tranquilo onde se ouve um Jazz muito "select" a décibeis reduzidos, numa decoração neo-eco soft vegi-friendly e onde se podem ler jornais escritos em árabe. Os preços são mais do que acessiveis, e o serviço é rápido (excepto quando a clientela bcbg exagera na especificações pós-modernas da condimentação; é um risco real), a degustação essa convém que seja lenta e "sur place".
E nas minhas deambulações (sobretudo por Paris, mas não só) cheguei à conclusão que o Cosmopolitsmo começa pelo estômago, ou se quiserem pelas papilas gustativas. Não conheço maneira mais fácil de começar a criar pontes entre comunidades do que a gastronomia. Veja-se o exemplo das Sanduíches Libanesas no Quartier Latin. Há várias casas que se dedicam ao negócio, mas a mais aconselhável é "Au Vieux Cèdre" (187 rue St. Jacques, ou 2 rue Blainville). Como quem não quer a coisa as sandes são baratinhas. Kefta ou Mahkaneke, ou melhor ainda Chiche Taouk (frango marinado em alho e lima), enrolado em pão tipo pita com salada e molho, e para quem quiser - o que é definitavamente uma boa ideia - um complemento de batata à la Libanaise. A sandes é depois tostada tipo panini - uma delícia! Em momentos de não rara simpatia o cliente tem o direito a um chá libanês - com menta e tomilho e mais alguns ingredientes, estamos em negociações para obter a receita - oferta da casa para compensar a espera (que é, em média, de 3m42s). Há ainda sobremesas como a irresitível Balohria, à base de flor de laranjeira. "Au Vieux Cèdre" é também um local de encontro com um pouco, por pouco que seja, da cultura libanesa, pelo menos a música, que toca em permanência. Mas pode ser também um ponto de contacto com a vida política do Líbano. Durante a Guerra do ano passado fez-se circular muita informação sobre as acções de solideriedade para com o Líbano decorridas em França, e blogues libaneses. Rentemente o "Au Vieux Cèdre" lançou uma nova sanduíche, a Fajita. E agora pergunta o leitor: Fajita? Mas isso não é mexicano? E responde este vosso bloguer: é mexicano, mas numa sandes libanesa é daqui (e aperta o lóbulo da orelha direita entre o polegar e o indicador), uma maravilha!
Sendo a concorrência na área das sanduíches libanesas díficil, uma outra família de libaneses decidiu diversificar. Abriram o "Pains, Salades et Fantesies" (22 rue Gay Lussac, mesmo ao pé do Jardin du Luxembourg). O nome diz tudo quanto ao tipo de comida que servem. Não se pode é dizer que seja um tipo de gastronomia calssificável pelos padrões canónicos. Não é libanês, nem francês, nem outra qualquer etnicidade, é uma misturada, e da boa. Paninis de salmão fumado, ou frango, ou vegetariano à base de beringela. Saladas "Californianas" ou de marisco, ou "Tropical". Uma variedade de escolha apreciável, e a confecção muito boa (só é pena ser tudo muito saudável). Nas sobremesas é absoulutamente imperdível o "Fraicheur", iogurte natural, com folhas e menta e passas. Tudo isto num ambiente muito tranquilo onde se ouve um Jazz muito "select" a décibeis reduzidos, numa decoração neo-eco soft vegi-friendly e onde se podem ler jornais escritos em árabe. Os preços são mais do que acessiveis, e o serviço é rápido (excepto quando a clientela bcbg exagera na especificações pós-modernas da condimentação; é um risco real), a degustação essa convém que seja lenta e "sur place".
4 comments:
Acho que o grande problema com o multiculturalismo é que significa coisas completamente diferentes para pessoas diferentes
É verdade que o termo Multiculturalismo se vulgarizou com um significado diferente do original, e que se confunde com Cosmopolitismo. Mas o importante é que existem duas concepções diferentes - independentemente dos nomes que dermos a essas concepções - de como lidar com a diversidade cultural. Uma trata os individuos como cidadãos, e os cidadãos são iguais à face da lei, outra que considera o individuo como fazendo parte de um grupo, e as leis podem ser diferentes para grupos diferentes. Uma une a outra separa.
Não vejo a hora de ir provar essas sandocas libanesas e miscigenadas.
Porque o copo de alvarinho bebo-o já amanhã, ao som dos Bassekou Kouyate (Mali) que tocaram na Torre de Belém na semana passada.
"É verdade que o termo Multiculturalismo se vulgarizou com um significado diferente do original, e que se confunde com Cosmopolitismo"
Não sei se isso será um significado "diferente do original" - a ideaia que multiculturalismo significa leis diferentes para grupos diferentes parece-me vir, sobretudo, dos críticos do multiculturalismo, não dos multiculturalistas propriamente ditos.
Creio que o conceito foi inventado no Canadá, e o Canada Multiculturalist Act de 1988 parece-me muito mais parecido com o aqui se chama de "cosmopolitismo" do que "multiculturalismo"
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