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Associamo-nos à homenagem, com um poema do Horto de Incêndio.
Lisboa
(1)
(1)
por trás dos muros da cidade
no seu coração profundo de alicerces
de argilas e de sísmicos arroios – cresce uma voz
que sobe e fende a brandura das casas
da escrita dos inumeráveis povos quase
nada resta – deitas-te exausto na lâmina da lua
sem saberes que o tejo te corrói e te suprime
de todas as idades da europa
mais além – para os lados do corpo – permanece
a tosse dos cacilheiros os olhos revirados
dos mendigos – o tecto onde um navio
nos separa de um vácuo alimentado a soro
plátanos brancos recortam-se luminescentes no olhar
de quem olha contra um céu desesperado – jardim
de íris açucenas palmeiras cobertas de rocio e
a ponte que nos leva aos campos do sul – Lisboa
lugar derradeiro do riso
que já não te pode salvar do cemitério dos prazeres
e morres
carregado de tristezas e de mistérios – morres
algures
sentado numa praceta de bairro – o olhar fixo
no inferno marítimo das aves
Al Berto, Horto de Incêndio, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, p. 41-42.
no seu coração profundo de alicerces
de argilas e de sísmicos arroios – cresce uma voz
que sobe e fende a brandura das casas
da escrita dos inumeráveis povos quase
nada resta – deitas-te exausto na lâmina da lua
sem saberes que o tejo te corrói e te suprime
de todas as idades da europa
mais além – para os lados do corpo – permanece
a tosse dos cacilheiros os olhos revirados
dos mendigos – o tecto onde um navio
nos separa de um vácuo alimentado a soro
plátanos brancos recortam-se luminescentes no olhar
de quem olha contra um céu desesperado – jardim
de íris açucenas palmeiras cobertas de rocio e
a ponte que nos leva aos campos do sul – Lisboa
lugar derradeiro do riso
que já não te pode salvar do cemitério dos prazeres
e morres
carregado de tristezas e de mistérios – morres
algures
sentado numa praceta de bairro – o olhar fixo
no inferno marítimo das aves
Al Berto, Horto de Incêndio, Lisboa, Assírio & Alvim, 1997, p. 41-42.
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