Tal como referi aqui aquando da sua exibição na Fábrica Braço de Prata, o SAAL (Serviços Ambulatórios de Apoio Local) foi uma estrutura estatal criada a seguir à revolução de 1974 para auxiliar logisticamente e financeiramente o processo de auto-construção de novas casas por comunidades interessadas em mudar os seus péssimos núcleos habitacionais. Rapidamente se estendeu por grande parte do país urbano: Porto, Coimbra, Lisboa, Montijo, Setúbal, várias cidades do Algarve, etc.. Além das próprias populações e suas associações representativas, este projecto envolveu arquitectos e outros técnicos destacados pelo Estado central.
Sobre o tema, já Cunha Telles tinha realizado Os índios da Meia-Praia, (1976), incidindo numa comunidade piscatória de Faro, a autoconstrução colectiva de moradias para si próprios e a criação duma cooperativa. Apesar de 31 anos separar os dois documentários, eles acabam por se complementar, o primeiro numa toada mais impressiva, imediata e política, o segundo já com uma maior carga reflexiva e 'técnica' sobre aquilo que foi uma experiência pioneira nas políticas públicas a nível internacional. Dada a tendência para os documentários em torno da arquitectura e do urbanismo serem à volta dos grandes 'arquitectos-artistas', cabe elogiar a extensa recolha de depoimentos de pessoas comuns dessas comunidades, para além da meticulosa recolha documental e do bom equilíbrio entre diferentes fontes, mesmo entre os arquitectos envolvidos, revelando assim as diferentes perspectivas ideológicas que eles próprios tinham da sua missão. O filme dura 75 m. e pode-se ter uma ideia do mesmo neste trailer.
Agora que tem estado na ordem do dia a questão dos «bairros sociais críticos», eis uma boa oportunidade para se repensar essa questão dum modo mais abrangente, dentro do quadro que mais sentido faz: a da indispensabilidade de políticas sociais de habitação/ habitat/ urbanismo envolventes e não reduzidas à replicação de guetos e à securitização da questão social.
Nb: na imagem, reprodução de autocolante duma associação de moradores, com uma «palavra de ordem» corrente na época e mote de canção do Grupo de Accção Cultural, registada no álbum «Pois canté!!» (1976).
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