Este é só mais um passo no afastamento gradual de Alegre em relação ao socratismo, mas é um passo muito simbólico. Só Sócrates finge não perceber, ironizando com a alegada desilusão para muitos por Alegre não ter optado pela criação dum novo partido. Ora, a questão é que ninguém quer um novo partido (pelo menos, no curto prazo), mas sim uma reconfiguração das esquerdas no sentido de criar uma alternativa governativa à esquerda (via coligação das esquerdas plurais) às soluções já gastas que existem: governos PS, de direita ou o anunciado novo «Bloco central» (PS+PSD).
Na reunião de despedida, Helena Roseta, vereadora independente na Câmara de Lisboa, propôs o lançamento duma iniciativa de cidadãos, a enviar ao parlamento, possibilitando candidaturas de movimentos independentes às eleições legislativas. Para o efeito será necessário mudar a lei eleitoral. Aí se verá se Sócrates é tão pluralista e democrático como alardeia.
3 comments:
Olá Daniel,
Nos últimos meses Manuel Alegre teria ganho em publicitar menos os seus estados de alma. Convinha que de vez em quando dissesse «a mim ninguém me obriga a falar», além do já conhecido e célebre «a mim ninguém me cala». Mas acabou por tomar a decisão certa. Sair do PS agora seria deixar mais isolada a esquerda do PS e empurrar o partido para o Bloco Central. Ficando no PS e renunciando às regalias e ambiguidade da posição de deputado reforça a sua autoridade para lutar pelas suas ideias no partido.
Olá João Miguel,
nem mais, e aproveito a deixa para acrescentar 3 pontos que não referi no post, por falta de tempo e para não o alongar demasiado:
1) subjacente à actuação alegrista está a sua candidatura presidencial de 2010;
2) a crise internacional implicou esforços de convergência e levou o governo a pôr uns pós keynesianos antes abjurados, com isso retirando margem de manobra a Alegre;
3) Alegre nunca criará um novo partido, por questões sentimentais e idiossincráticas (o PS é o seu partido-concha) e porque o seu discurso nunca se centrou em novos partidos mas sim em convergências, movimentos, coligações (tal como referiu o próprio e Roseta).
Só que, em Portugal, ainda não é permitido candidaturas de movimentos independentes às legislativas. Daí os contorcionismos a que são obrigados muitos daqueles que querem ter uma intervenção política e cívica e que vêm a Res Publica como coisa de todos e não só coutada das elites do costume.
Olá Daniel,
A autorização da candidatura de movimentos cívicos às legislativas não seria uma solução mágica que resolveria a crise de representatividade do nosso sistema político. Mas podia reduzir a abstenção política e estimular a reforma dos partidos políticos, colocando-lhes novos desafios e pedindo-lhes soluções que não passe pela repetição de fórmulas experimentadas e gastas. Enquanto a esquerda se consome em velhas querelas, o centro-direita, o centro-centro, ou seja lá o que for, parece ter mais iniciativa. Veja-se o aparecimento do MEP e do enigmático MMS.
PS Depois de meses de incursões muito irregulares na internet/blogosfera, voltei a ter ligação à internet em casa e vou seguir este blogue com mais atenção.
Enviar um comentário