É a hora dos balanços. Aqui fica um exame possível, a partir das leituras feitas, incluso os programas (estes um pouco na diagonal: imaginem que há programas com mais de 150 páginas!).
A má situação financeira foi admitida por todos.
A má situação financeira foi admitida por todos.
Costa acenou-a amiúde como a única prioridade, quiçá para justificar a chantagem da maioria absoluta. Uma prioridade que, assim, justificaria o olvido de graves problemas como os da deterioração do parque escolar e da inacessibilidade do Arquivo Histórico Municipal, mas que, paradoxalmente, viabilizaria novas ofensivas urbanísticas, como a da frente ribeirinha de St.ª Apolónia a Pedrouços. As confusões com o arq. Manuel Salgado e a provável vereadora dos Transportes e Mobilidade fazem temer a continuação da lógica da construção e da especulação imobiliárias. Nem o Pq. Mayer se salva: onde devia ficar só o cinema Capitólio e uma ligação ao Jardim Botânico, agora tb. haverá mais edificação, contrariando o preconizado (e bem) por Carrilho. Nem a proposta dum parque verde na Portela convenceu: ninguém acredita que Costa esteja à frente da CML quando houver essa possibilidade, se houver. Não esquecer que há um diferendo entre Governo e CML quanto a quem é o detentor desse terreno, que não foi resolvido quando Costa era ministro. A propósito: todos os restantes candidatos fizeram demagogia sobre o aeroporto, excepto Quartim Graça (MPT), que pôs em 1.º lugar a qualidade de vida dos munícipes.
Negrão, embora denunciando o corte de 5% feito por Costa-ministro nas transferências para a CML, aposta tudo num cavalo controverso: o da empresarialização da governação. Tudo se resume a uma boa gestão. Sabemos onde já conduziu esse caminho, à duplicação de estruturas e ao descontrolo com a multiplicação das empresas públicas. A nota positiva é a postura contra a existência dum Porto de Lisboa atentatório dos interesses da cidade. Em contrapartida, uma “via de ciclo-turismo da Expo até Algés” parece tão truque de magia como o parque verde de Costa na Portela. Fala na “renovação do parque escolar” muito laconicamente, deixando tudo para outra mirífica parceria público-privado.
Carmona, por sua vez, insiste em esburacar Lisboa até à exaustão, agora com o túnel das Colinas (uma obra baratucha: de Alcântara a Oriente) e outros desmandos similares. É mais do mesmo.
Outros candidatos, porém, preferem pensar nos problemas dos bairros já existentes, casos de Roseta, Sá Fernandes, Ruben de Carvalho e Quartin Graça.
Julgo que é aí que está o problema: não podemos continuar a sacrificar a qualidade de vida dos munícipes em prol duma concepção predadora das cidades, só a pensar na maximização do lucro com a construção, a densificação urbanísticas e o reforço de redes viárias favorecedoras do transporte particular e do êxodo populacional. Nesse sentido, recomendo o texto de Rui Tavares no Público de 3.ª feira. Não repitamos os erros das megapolis, busquemos antes ser uma capital cosmopolita de média dimensão.
Roseta tem trunfos fortes: a reabilitação do edificado (incluindo uma “via verde” para os proprietários aderentes) e a qualidade urbanística como novo paradigma; a “tarifa familiar” nos transportes; uma inovadora “rede de ruas amigas do peão”; a eficiência da aplicação do IMI; o apoio à salvaguarda de certos edifícios a que atribui valor patrimonial, como o ex-cinema Paris (Cp. Ourique) e a Qt.ª de N.ª Sr.ª da Paz (Lumiar). Em contrapartida, Roseta insistiu em aparentar equidistância com os restantes candidatos, caindo no risco de despolitizar o seu próprio programa político. Também na questão do direito ao sossego foi contraditória: apela à aplicação a sério da Lei da Ruído, mas depois é a favor da permanência do aeroporto da Portela.
Sá Fernandes tb. tem propostas valiosas: aposta nos transportes públicos, optando pela rede menos custosa, a dos eléctricos rápidos, em detrimento do metro, bem mais dispendiosa; reabilitação, mais casas para arrendar em Lisboa e maior taxação dos edifícios devolutos; reforma das empresas municipais; plano verde (com o arq. Ribeiro Telles); e o reforço da política social, nomeadamente no auxílio aos mais velhos (no que foi secundado por Telmo Correia, que propõe um passe da 3.ª idade). Se não fossem as suas acções judiciais seria menor a segurança rodoviária no túnel do Marquês e as negociatas com trocas de terrenos e especulações imobiliárias continuariam ainda mais impunes. Deu 2 tiros no pé ao dizer que ninguém quer ir viver para bairros como S. Domingos de Benfica e Cp. Ourique, dando-os como exemplos de desmazelo urbanístico. Tomara a muitos poderem viver em Cp. de Ourique. Ou mesmo em certos sítios de S. Domingos…
Ruben de Carvalho parece estar mais preocupado com os funcionários municipais, que julga terem sido desconsiderados e nos quais diz estarem as energias que poderão reanimar a cidade. Tal como Sá Fernandes, advoga a melhoria dos transportes públicos (defendendo mais mini-bus e a reordenação de percursos), defende a extinção de empresas municipais e a reforma da EPUL. Propõe combustíveis ecológicos na frota municipal e alertou contra o perigo de privatização de certas piscinas municipais (Olivais, Roma, Cp. Grande).
Negrão, embora denunciando o corte de 5% feito por Costa-ministro nas transferências para a CML, aposta tudo num cavalo controverso: o da empresarialização da governação. Tudo se resume a uma boa gestão. Sabemos onde já conduziu esse caminho, à duplicação de estruturas e ao descontrolo com a multiplicação das empresas públicas. A nota positiva é a postura contra a existência dum Porto de Lisboa atentatório dos interesses da cidade. Em contrapartida, uma “via de ciclo-turismo da Expo até Algés” parece tão truque de magia como o parque verde de Costa na Portela. Fala na “renovação do parque escolar” muito laconicamente, deixando tudo para outra mirífica parceria público-privado.
Carmona, por sua vez, insiste em esburacar Lisboa até à exaustão, agora com o túnel das Colinas (uma obra baratucha: de Alcântara a Oriente) e outros desmandos similares. É mais do mesmo.
Outros candidatos, porém, preferem pensar nos problemas dos bairros já existentes, casos de Roseta, Sá Fernandes, Ruben de Carvalho e Quartin Graça.
Julgo que é aí que está o problema: não podemos continuar a sacrificar a qualidade de vida dos munícipes em prol duma concepção predadora das cidades, só a pensar na maximização do lucro com a construção, a densificação urbanísticas e o reforço de redes viárias favorecedoras do transporte particular e do êxodo populacional. Nesse sentido, recomendo o texto de Rui Tavares no Público de 3.ª feira. Não repitamos os erros das megapolis, busquemos antes ser uma capital cosmopolita de média dimensão.
Roseta tem trunfos fortes: a reabilitação do edificado (incluindo uma “via verde” para os proprietários aderentes) e a qualidade urbanística como novo paradigma; a “tarifa familiar” nos transportes; uma inovadora “rede de ruas amigas do peão”; a eficiência da aplicação do IMI; o apoio à salvaguarda de certos edifícios a que atribui valor patrimonial, como o ex-cinema Paris (Cp. Ourique) e a Qt.ª de N.ª Sr.ª da Paz (Lumiar). Em contrapartida, Roseta insistiu em aparentar equidistância com os restantes candidatos, caindo no risco de despolitizar o seu próprio programa político. Também na questão do direito ao sossego foi contraditória: apela à aplicação a sério da Lei da Ruído, mas depois é a favor da permanência do aeroporto da Portela.
Sá Fernandes tb. tem propostas valiosas: aposta nos transportes públicos, optando pela rede menos custosa, a dos eléctricos rápidos, em detrimento do metro, bem mais dispendiosa; reabilitação, mais casas para arrendar em Lisboa e maior taxação dos edifícios devolutos; reforma das empresas municipais; plano verde (com o arq. Ribeiro Telles); e o reforço da política social, nomeadamente no auxílio aos mais velhos (no que foi secundado por Telmo Correia, que propõe um passe da 3.ª idade). Se não fossem as suas acções judiciais seria menor a segurança rodoviária no túnel do Marquês e as negociatas com trocas de terrenos e especulações imobiliárias continuariam ainda mais impunes. Deu 2 tiros no pé ao dizer que ninguém quer ir viver para bairros como S. Domingos de Benfica e Cp. Ourique, dando-os como exemplos de desmazelo urbanístico. Tomara a muitos poderem viver em Cp. de Ourique. Ou mesmo em certos sítios de S. Domingos…
Ruben de Carvalho parece estar mais preocupado com os funcionários municipais, que julga terem sido desconsiderados e nos quais diz estarem as energias que poderão reanimar a cidade. Tal como Sá Fernandes, advoga a melhoria dos transportes públicos (defendendo mais mini-bus e a reordenação de percursos), defende a extinção de empresas municipais e a reforma da EPUL. Propõe combustíveis ecológicos na frota municipal e alertou contra o perigo de privatização de certas piscinas municipais (Olivais, Roma, Cp. Grande).
Pedro Quartin Graça tb. tem um programa interessante, embora muito lacónico. Portagens, deslocação do aeroporto, hortas sociais, plano verde e turismo cultural são as apostas. Não se percebe como uma candidatura destas não aproveitou para se coligar com uma força de esquerda.
Sobre a questão da valorização patrimonial e sócio-cultural de várias zonas da cidade, também o Fórum Cidadania Lisboa avançou com 16 propostas concretas. Só tenho um reparo a fazer: discordo de se nomear determinada associação para ocupar certo edifício entretanto recuperado pela CML (casos do ex-cinema Paris e da Casa Almeida Garrett). Julgo que, a ser entregue a uma associação voluntária (ou várias), deveria ser por concurso público transparente, para dar igualdade de oportunidades a todos e, assim, possibilitar mais participação e melhores soluções. Embora não estando ligado a nenhuma candidatura, estas propostas são válidas e deveriam ser estudadas pelos políticos, tal como outras entretanto lançadas na imprensa e na blogosfera (para as quais tb. contribuímos: vd. etiqueta Propostas por Lisboa).
Sobre a questão da valorização patrimonial e sócio-cultural de várias zonas da cidade, também o Fórum Cidadania Lisboa avançou com 16 propostas concretas. Só tenho um reparo a fazer: discordo de se nomear determinada associação para ocupar certo edifício entretanto recuperado pela CML (casos do ex-cinema Paris e da Casa Almeida Garrett). Julgo que, a ser entregue a uma associação voluntária (ou várias), deveria ser por concurso público transparente, para dar igualdade de oportunidades a todos e, assim, possibilitar mais participação e melhores soluções. Embora não estando ligado a nenhuma candidatura, estas propostas são válidas e deveriam ser estudadas pelos políticos, tal como outras entretanto lançadas na imprensa e na blogosfera (para as quais tb. contribuímos: vd. etiqueta Propostas por Lisboa).
Nb: na imagem, a proclamação da República nos paços do concelho lisboeta (foto de Joshua Beloniel, AFML).
4 comments:
Em relação ao teu coemtário sobre o Quartim Graça "Não se percebe como uma candidatura destas não aproveitou para se coligar com uma força de esquerda." também me parece que sim.
E sobretudo acho que tanto Sá Fernandes como Helena Roseta e, noutra escala obviamente, Quartim Graça, se dirigem ao mesmo tipo de pessoas: pessoas maioritariamente de esquerda, mas não exclusivamente (veja-se a quantiade de monárquicos que os apoiam), com grande consciência ecológica, que estão fartas de tanto betão e túneis, e querem uma cidade com mais transportes públicos, com mais vida de bairro, com mais cultura, com mais vida, em suma.
Talvez tivesse sido interessante uma candidatura conjunta...
Mas será que a esquerda tem o monopólio do querer viver sem betão e túneis, e com mais vida de bairro, e cultura e espaço verdes? Mas o que é vocês acham que são as pessoas de direita? Gente inculta que quer viver em espaços agressivos e sem qualidade de vida, que só pensa em lixar o próximo mesmo dando tiros no pé? Enquanto os idealistas de esquerda olharem para as pessoas de direita com essa falta de respeito e humanidade, nunca será possivel a sociedade igualitária e de humanismo que apregoam. O MPT é um partido de direita. Se os ideais que defendem são bons, deviamos todos ficar mais descansados.
Absolutamente não! Um não redondo!
Longe de nós querer aqui insinuar maniqueísmos fáceis.
Aliás, quando referi o MPT não disse que era de esquerda, disse que não percebia porque não se aliava a candidaturas de esquerda (estava a pensar no BE, CDU e Cidadãos por Lisboa), porque mais nenhuma de direita me parece digna de querer alterar o actual paradigma político. Tão-só isto.
Ademais, há aí outras experiências de convergência nesse sentido, que o diga o arq. Ribeiro Telles. E outros.
O Zé ó faz falta para os tachinos da malta
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