Ao procurar um inimigo externo para mascarar graves problemas internos e, assim, tentar reaglutinar sua base política na Venezuela, Hugo Chávez praticamente declarou guerra à Colômbia e pôs a estabilidade de toda a América Latina em xeque. Ao contrário do que ele imaginou, sua popularidade, que vem despencando dia-a-dia, caiu mais ainda. A sua manobra intempestiva de levar o continente à guerra não foi bem recebida, principalmente entre os venezuelanos, que já se mostram aterrorizados com as atitudes cínicas e espalhafatosas de seu líder parlapatão. Pior, a sua resposta à crise estabelecida entre Colômbia e Equador foi muito mal-vista e condenada por todos as pessoas (estadistas ou não) de bom senso. Mais uma vez o tiro saiu pela culatra e a sua obsessão de se tornar um líder regional fica cada vez mais distante. Aliás, uma alternativa que se já foi possível num passado recente, torna-se hoje improvável e descabida. Prova disso, foi o seu total isolamento na reunião extraordinária da OEA (Organização dos Estados Americanos), que decidiu por unanimidade dar uma solução diplomática ao conflito, mas sem deixar de condenar a atitude colombiana.
Se o cenário não está às mil maravilhas pra Chávez, o mesmo não se pode dizer do presidente colombiano, Álvaro Uribe. Sua ação foi condenada por todos os países (exceto, é claro, pelos EUA de Bush). E não poderia ser diferente, pois nada justifica a violação de um direito internacional. Entretanto, internamente ele se fortaleceu ainda mais. Segundo sondagens divulgadas logo após a incursão militar realizada no Equador contra as Farc, a avaliação positiva de Uribe passou de 70% para quase 90%, o que o torna o presidente mais popular da América do Sul, dando condições políticas que lhe permita realizar uma reforma constitucional para ir em busca de seu ambicionado terceiro mandato. Parece-me que a moda de se perpetuar no poder voltou à América Latina. É como blue jeans que serve pra todas as ocasiões: um verdadeiro (ul)traje a rigor pra todas as estações do ano.
Neste imbróglio todo, quem demonstrou maturidade de chefe de Estado foi o presidente equatoriano, Rafael Correa, que buscou na via diplomática a solução da crise. Foi contundente nas palavras ao defender a soberania territorial de seu país (e não poderia ser diferente), mas não se fechou à intransigência de quem queria ver o circo armado por Chávez pegar fogo. Pecou no início ao ter dado ouvidos aos bufões peçonhentos do presidente venezuelano. Este foi este seu único erro. E se persistir futuramente nele terá muito a perder. Denunciou com muita propriedade e lucidez que usar o argumento da incursão preventiva, como fez Álvaro Uribe, é condenável sob qualquer aspecto e um péssimo precedente que poderá colocar em risco a estabilidade de toda a região. Ganhou respeito internacional (já que tem a sua popularidade interna bem alta) e se tornou uma alternativa viável para liderar as negociações que envolvam a libertação de reféns pelas Farc.
Nb: Foto-montagem da Reuters
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