quinta-feira, 17 de maio de 2007

É a anti-política, estúpido!

Sarkozy promete unir a França e romper com o passado
(...)
"Estou convicto de que no serviço a França há apenas um campo — o da boa vontade daqueles que amam o seu país".

Para quem quer "romper com o passado", nada como dar continuidade à retórica tipicamente a-política do gaullismo. Lá vamos ver essa entidade mítica que é a "França" - sendo que, para recordar as palavras do André Belo há mais de um ano, por alturas dos protestos em torno do CPE: "A 'França' não existe. É uma fantasia simétrica dos nacionalistas franceses e dos francófobos." - manipulada para isto e para aquilo, em particular quando alguém criticar qualquer reforma "urgente" de Sarkozy (e claro, já sabemos que um estrangeiro que não "amar" a França tem de sair: que liberalismo é este, com tamanho desprezo pela simples ideia de "indivíduo"? - que é, convém lembrar, o seu princípio primeiro).
E vamos ver o regresso da (anti-)"política da ordem" e da "autoridade". Resta saber se ela é possível da mesma forma hoje, 40 anos depois do Maio de 68. E saber se e como vão continuar os protestos pelo país fora. Se eles passarem o limite da violência, então Sarkozy pode sorrir, porque é isto mesmo que ele quer: não apenas falar de "ordem" e "autoridade", mas mostrar que está disposto a fazer o necessário para garanti-las na prática.

O mais angustiante disto é, para quem conhece um pouco a história do país, como tudo cheira a dejà vu.

0 comments: