Comemora-se hoje em França o fim da escravatura, em referência à segunda e definitiva abolição da escravtura em França. Segunda, a de 1848, porque já durante a Revolução Francesa a escravatura tinha sido abolida (1794) para depois ser re-estabelecida em 1802. Quem, senão o Bonaparte seria capaz de tamanha enormidade? Essa enormidade conduziu aliás à revolta dos escravos e independência do Haiti. A 27 de Abril de 1848 foi decretada então a abolição da escravatura no território francês, mas a data de 10 de Maio foi escolhida por a nesse dia de 2001 ter sido aprovada a lei Taubira, que declara a escravatura como um crime contra a humanidade. No entanto há um movimento que pretende a comemoração do fim da escravatura a 23 de Maio, e não a 10. Este movimento é composto essencialmente por franceses oriunudos das Antilhas, por regra franceses descendentes de escravos. A razão desta divergência é simbólica, e revela toda a importância dos "pequenos" simbolismos. Entre a aprovação e o decreto da abolição em Abril de 1848 e a sua aplicação efectiva passou algum tempo e os escravos tomaram conhecimento da abolição. A 23 de Maio, na Martinique, e a 24 de Maio, na Guadeloupe, e depois noutras colónias francesas, houve um levantamento popular dos escravos, o que levou os governadores das colónias a anteciparem-se aos procedimentos legais e admnistrativos e declararem a abolição sem serem cumpridos os trâmites, sob pressão popular. A questão que se discute é portanto a de decidir se se deve comemorar o dia em que as instituições da República, na capital, reconhecem o crime da escravatura ou se o dia em que os próprios escravos tomam consciência da sua liberdade, se erguem e ganham o seu primeiro dia de liberdade efectiva. Deve comemorar-se o ponto de vista do estado que foi esclavagista ou do ponto de vista do escravo que alcançou a sua liberdade? Pour moi c'est simple, c'est le 23 Mai!
Nota: O colectivo "Comité Marche du 23 Mai 1998" vai buscar o seu nome ao seu momento fundador, quando em 1998 pelo 150° aniversá do 23 de Maio, dezenas de milhares de pessoas, mais de 40.000 só em Paris, antilheses na maior parte, se manifestaram pela adopção de 23 de Maio como data para comemoração da memória da escravatura. A mobilização foi uma supresa para todos, a começar pelos organizadores.
Nota: O colectivo "Comité Marche du 23 Mai 1998" vai buscar o seu nome ao seu momento fundador, quando em 1998 pelo 150° aniversá do 23 de Maio, dezenas de milhares de pessoas, mais de 40.000 só em Paris, antilheses na maior parte, se manifestaram pela adopção de 23 de Maio como data para comemoração da memória da escravatura. A mobilização foi uma supresa para todos, a começar pelos organizadores.
2 comments:
Imagino que essa associação, indirectamente, quer protestar contra a escolha do 10/5 que foi um « golpe » do Jacques Chirac para tentar apagar um outro 10 de maio : o de 1981 e a vitória do Mitterrand. A propósito dessa data parece que há uma “revanche” da direita. Jean-Pierre Raffarin disse ao “Monde” que a vitória de Sarkozy era uma espécie de 10 de maio da direita. O antigo primeiro ministro não é muito simpático com o seu antigo presidente.
As decisão politica de comemorar a memória da escravatura a 10 de Maio é do Chirac. As razões dessa escolha, ot tal "golpe", vindo de quem vem não supreendem. O CM 98 manifesta-se não indirectamente mas abertamente contra essa escolha do 10 de Maio pelo Chirac. Mais aqui:
http://www.cm98.org/index.php?option=com_content&task=view&id=144&Itemid=116
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