sexta-feira, 11 de maio de 2007

Razões para dizer bem da candidatura de Helena Roseta

1. A candidatura de Helena Roseta merece ser notada a sério, não pelo habitual entusiasmo da «Esquerda» que festeja com as derrotas desse perigoso direitista que é Sócrates (mesmo quando as ditas derrotas foram vitórias pessoais decisivas sobre a oposição interna), a mesma esquerda que alinha em rigorosamente tudo contra o governo e depois diz querer alianças camarárias sem ser capaz de enunciar qualquer projecto politico positivo para elas. Que obviamente não tem, como se vê nos programas que apresenta nas eleições e que os seus resultados medíocres reflectem.
2. O que torna interessante a candidatura de Roseta é ser realmente independente. Tem currículo próprio, experiência política própria, passado autárquico, conhece os partidos e a actividade cívica fora deles, em suma, é credível. Quem não gostar dos candidatos partidários, tem em quem votar.
3. Ainda é cedo para avaliar, e os sinais são contraditórios. Nem uma referência ao défice da CML (por sinal problema idêntico ao do país, nada a acrescentar ao que escrevi no Esplanar), a conversa sobre uma união da Esquerda como se fosse o PS a impedi-la (idem, como agora se comprova), a sugestão de processos disciplinares que no PS não há mesmo quando deveria haver (Felgueiras), uma pessoalização vaga, sem indicar se é candidata só para o biénio intercalar ou se tem um projecto mais longo, o que fará diferença na hora de avaliar a lista e o programa. Mas o princípio da candidatura depois de Sócrates não lhe ter respondido (como era sua obrigação, e fácil, dada a ideia da «frente» ser inviável), mais a mais sem o alegrismo de se candidatar a dizer mal «dos partidos» mantendo-se no lugar que um deles lhe dá, é sério e merece crédito. Por aí continue, na sua regeneração local tão necessária, os partidos, sobretudo os de poder e não apenas de contestação vácua, demagógica e oportunista, têm muito a ganhar com a concorrência de independentes a sério.
4. Mesmo para quem, como eu fiz no Esplanar, defende que Lisboa requer mudanças que a articulem com as políticas nacionais (coisa em que Roseta parece não acreditar), as notícias que dão António Costa como provável candidato do PS são preocupantes. Como diz Medeiros Ferreira (em grande, uma das raras vozes de Esquerda que deplora a violência ilegal anti-democrática como a que agora se ensaia em França, tal como se tenta em Portugal), o seu lugar no governo é demasiado importante para esta dança de cadeiras. Perdida uma boa candidata (autónoma) como seria Roseta, melhor seria que não se criasse um problema no governo para resolver outro na CML. A ver vamos. Para já, no entanto, o que conta é que, com os partidos responsabilizados e com independentes credíveis, a abstenção passa a ter menos justificação.

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