segunda-feira, 21 de maio de 2007

Uma questão de responsabilidade indivdual

Envolvi-me numa troca de ideias interessante com o António Figueira, na caixa de comentários deste post do próprio. Acabámos por chegar à conclusão que estávamos de acordo, o que é sempre uma chatice. Mas vou fazer de conta que não e arrastar a discussão para outro tema relacionado. Perguntava o post em questão se o princípio do poluidor-pagador se deveria aplicar aos jornais gratuitos, que em Lisboa se transformam rapidamente em alcatifa. Eu sou completamente a favor da aplicação do princípio do poluidor-pagador neste caso. Mas quem é o poluidor neste caso? Ou melhor, de que poluição estamos a falar? Se estivermos a falar do papel que é produzido, e que é preciso reciclar, então o poluidor é o responsável pela produção do papel, ou seja as editoras dos jornais. Deviam pagar uma taxa para subsidiar a reciclagem do papel. Como argumenta e muito bem o António Figueira, o mesmo se aplica aos vendedores de automóveis que contribuem para a recolha e reciclagem de pneus. Aliás essa taxa não devia aplicar-se apenas a jornais gratuitos, mas a todos os jornais, e outros tipos de papel produzidos para "consumo rápido" (por exemplo, os panfletos publicitários).

Agora se estivermos a falar da poluição gerada pelo jornal deitado ao chão, e que é preciso que alguém venha depois limpar, então aí já não me parece que as editoras tenham alguma responsabilidade. Tal como os vendedores de automóveis não podem ser responsabilizados pelos condutores que estacionam os carros em cima do passeio. Continuo a achar que o princípio do poluidor/pagador se aplica, mas nesse caso o poluidor é o leitor que deita o jornal ao chão, e bem pode desenbolsar uma multazinha por andar a poluir.

Apeteceu-me arrastar a discussão para este aspecto porque me parece que há à esquerda um certo pudor em responsabilizar o indivíduo (posso estar completamente enganado, mas é a sensação que tenho). O grande capital pode ser sempre responsabilizado, já o cidadão, nem por isso. Outro exemplo é a televisão. As cadeias de televisão são responsáveis pelos "telelixo" na programação (e são!), se as crianças vêm programas violentos que depois imitam nas suas brincadeiras a culpa é da televisão. Já os pais que deixam as crianças ver televisão sem acompanhamento, esses não são imputáveis. Também me faz uma certa confusão o raciocínio segundo o qual se a culpa é da televisão então não é dos pais (e vice-versa). Como se a responsabilidade de uns ilibasse a irresponsabilidade de outros. Mas não será esta tendência para a desculpabilização do indivíduo desresponsabilizante e paternalista? Não deverá o projecto da esquerda assentar, antes do mais na responsabilidade individual?

3 comments:

vallera disse...

as televisões do Estado também são responsáveis pelo telelixo, apesar de serem os únicos canais que ainda passam séries na 2 e filmes no canal 1 a horas decentes. No entanto, o canal 1 passa lixo diário, desde o telejornal às televendas.
As privadas dão a oportunidade de ver umas séries giras..às 2 da manhã, porque desde as nove da noite às duas da manhã passam 3 telenovelas seguidas.
também não vejo as pessoas a insurgir-se contra isso. Talvez gostem..

Renato Carmo disse...

Caro Zèd, concordo inteiramente contigo (o que é de facto uma chatice:)), a esquerda põe a tónica nos direitos, ou seja,em questões mais fracturantes relacionadas com a liberdade individual (com é o caso do aborto, ou da última proposta do BE sobre o divórcio unilateral), mas normalmente descura os deveres que derivam da responsabilidade individual. O dever em não contribuir para a poluição física, sonóra e atmosférica da cidade é um princípio importante.

Hugo Mendes disse...

Sim...gostava de ver a "responsabilidade individual" defendida na avaliação para professores, médicos, e outros profissionais que prestam serviços públicos, etc...:)