terça-feira, 15 de maio de 2007

Porque a esquerda francesa não se pode pôr com "radicalismos" insensatos

Yves Surel (obrigado Victor pela referência ao blogue), cientista político, explica exemplarmente porquê:

«L'électeur médian est une notion classique de la science politique, qui repose sur l'idée d'une figuration abstraite de l'électorat en un spectre plus ou moins large partagé par un électeur fictif, placé au centre du système. Dans un scrutin majoritaire, pour gagner, il faut donc avoir la capacité à inclure l'électeur médian dans son équation électorale, puisque c'est lui qui fait basculer la majorité. Le plus souvent, l'électeur médian est considéré comme centriste. Mais le centre "idéologique" n'est pas nécessairement le centre "géométrique". Si un électorat partage majoritairement des idées conservatrices, l'électeur médian est à droite du spectre électoral. C'est là que se situent l'analyse et le pari communs à George Bush et Nicolas Sarkozy. Lorsqu'il a été réélu en 2004, Bush a proposé un programme très conservateur, avec des accents tellement radicaux (notamment sur les questions de sécurité et de mœurs), que la plupart des analystes prédisaient une victoire de Kerry, dont l'offre électorale paraissait plus raisonnable et plus centriste. Or, si la stratégie alors déployée s'est avérée payante, c'est parce qu'à cet instant précis, l'opinion publique américaine partageait majoritairement des valeurs néo-conservatrices et/ou se sentait plutôt disposée à entendre cet appel. Même pari réussi chez Sarkozy avec l'idée qu'une offre radicale en apparence rencontrait en fin de compte les sentiments diffus de rénovation, d'ordre et de sécurité partagés par la majorité des Français. L'électeur médian étant idéologiquement à droite, disposer d'une majorité supposait donc de fournir une offre adaptée, ce que Ségolène Royal avait également compris.»

8 comments:

Renato Carmo disse...

Portanto é a direita que constrói o centro. Por isso, o desafio para a esquerda é o de 'redireccionar' o centro de modo a que as suas propostas mais radicais não pareçam insensatas para o eleitor mediano. É um grande desafio!

L. Rodrigues disse...

Precisamente.
O problema é que tem sido a direita a controlar o debate ideológico. E não é por acaso ou por caracteristicas inatas do eleitorado, mas sim por trabalho consistente, que a esquerda pela sua natureza tem muito mais dificuldade em fazer.

Exemplo, e prometo que não volto a incomodar:

http://www.mackinac.org/article.aspx?ID=7504

Hugo Mendes disse...

Renato: o que dizes faz sentido, mas desculpa insistir, continuo sem saber o que são propostas "radicais". Não m leves a mal, mas parece-me que isto já e´ defesa do radicalismo porque "sim", ou do "radicalismo pelo radicalismo".

L.Rodrigues: Volte a incomodar sempre. O texto que cita é interessante, como os anteriores. A questão aqui não me parecem ser as características "inatas" do eleitorado ou a "natureza" da esquerda. A linguagem naturalista aqui não ajuda muito a perceber o que se passou nos últimos 30 anos. Das várias coisas que ocorreram, foi que as sociedades ocidentais enriqueceram. Nas sociedades mais ricas, o eleitor mediano vota mais ao centro (e eventualmente mais ao centro-direita) do que à esquerda, porque são as classes médias que são maioritárias, não as baixas (as que no passado colocavam o eleitor mediano mais à esquerda). E quando não há mecanismos laborais, institucionais e mais genericamente políticos de associar os interesses das classes médias com os mais pobres, estas tendem a fazer uma aliança com os ricos em detrimento de uma aliança com os pobres. E depois inclinam-se para a direita, ajudando os partidos da direita a construirem ideologias mais facilmente coerentes e capazes de agregar o eleitorado.
Outra das coisas que se passou é que a estratégia de protecção privilegiada pela esquerda de tradição estatista - o emprego público - atingiu um tecto. O importante para alguma esquerda - a não-social democrata - se reconstruir e se conciliar com a contemporaneidade é proteger as pessoas através de uma inteligente regulação do mercado sem estratégias excessivamente proteccionistas, porque estas tendem a gerar desemprego e a "partir", do ponto de vista laboral, as classes médias das baixas, criando divisões estruturais sérias entre insiders e outsiders. Numa economia mundializada, são as pessoas que precisam de protecção, não os empregos. O segredo da Suécia há mais de meio século não foi proteger os empregos nao produtivos e subsidia-los até mais não - distribuindo dinheiro sem qualquer efeito de investimento -, mas treinar a sua força de trabalho para se adaptar a empregos mais produtivos e negócios mais lucrativos. Quando os empregos desapareciam, as pessoas não eram deixadas no desemprego, mas eram retreinadas para coisas novas. Não havia uma mentalidade proteccionista, que tende a gerar, a longo prazo, quando essa protecção deixa de ser financeiramente possivel, o eleitorado ressentido que sempre esperou um proteccionismo laboral impossivel hoje e que entretanto se passa para a direita conservadora e autoritária em novos trajes (à la Bush e Sarkozy). Quem perde é a esquerda por ter alimentado mentalidade proteccionistas no passado e inculcou mais medo do que as pessoas tendem a ter do que não controlam (as dinâmicas de mercado internacionais, exponenciadas hoje pela globalização das trocas).

Eu não sei se isto ou radical ou não, e às vezes as etiquetas não ajudam mesmo nada. O objectivo continua o mesmo do passado - distribuir os riscos e os rendimentos protegendo os mais fracos e atacando as múltiplas fontes de desigualdades. Em alguns casos, a esquerda precisa de uma refundação ideológica (como é o caso da francesa, acho); noutros, precisa de mais "policy research" e debate entre cidadãos genuinamente interessados para saber quais os melhores instrumentos para atingir os objectivos. Era isto que eu gostava de ver mais discutido: mais substância e menos etiquetas.

L. Rodrigues disse...

Ainda bem que gostou do texto. Diria que isto então tem que piorar antes de melhorar.
Porque se a Agenda de Lisboa for para a frente, ou variantes dessa mentalidade se forem instalando, brevemente a classe média começará a perder terreno e a voltar a rever-se na esquerda, ou na extrema direita, que tb não hesita em abanar a bandeira nacionalista proteccionista...

Do texto que apresentei aqui, é claro que a introdução de conteudos que puxem o discurso publico para um lado não pode ser feito por políticos com ambições eleitorais. De certa forma, estou a dar-lhe razão.
Mas esse é o papel de coisas como Think Tanks de esquerda (existem? têm voz? financiamento?). OU de partidos como o BE, para certas causas. Admito que para a economia seja mais dificil.

Hugo Mendes disse...

"Diria que isto então tem que piorar antes de melhorar."

Não percebo o que quer dizer com isto.

"Porque se a Agenda de Lisboa for para a frente, ou variantes dessa mentalidade se forem instalando"

Nem com isto.

Tem que explicar melhor :)

Zèd disse...

"Das várias coisas que ocorreram, foi que as sociedades ocidentais enriqueceram."

As sociedades ocidentais estão mais ricas hoje do que nos anos 90? Quando a terceira via ia de vento em popa com Blair, Schroeder, Guterres e outros que tais? (e jà agora Clinton)

Hugo Mendes disse...

Sim, estão mais ricas. Podem é estar é a crescer menos depressa, mas isso é uma coisa muito diferente. Por exemplo, nunca mais foram atingidos os ritmos de crescimento dos anos 19550/60, e todavia somos muito mais ricos hoje do que na altura.

L. Rodrigues disse...

Tentando explicar:
Piorar antes de melhorar: está explicado a seguir, na referencia á perca de rendimentos das classes médias. Só quando estas se virem realmente mal serão sensiveis a outras propostas de contrato social.

Tanto quanto percebo, a agenda de Lisboa preconiza uma aposta estratégica baseada mais no crescimento económico do que na coesão social. Assumindo talvez, como é tipico do pensamento liberal, que havendo crescimento económico haverá mais riqueza para todos, o que não é demonstrado pelos factos.

Peço desculpa se a minha linguagem é por vezes imprecisa. Sou apenas um curioso.