sexta-feira, 11 de maio de 2007

O futuro anunciado da história

Com a devida autorização do autor, nos próximos dias publico excertos de textos cuja versão integral se encontra na secção de crítica da revista Prelo, nº4 (INCM, 3ª série, Lisboa, Janeiro-Abril 2007). Uns aqui, outros no outro lado.
«Francis Fukuyama, Depois dos neoconservadores, Gradiva, Lisoa, 2007 (trad.: Mónica Ferro).
(...)
Desde o seu grande sucesso O Fim da História e o último homem é claro que Fukuyama pressupõe uma Filosofia da História teleológica, herdeira não tanto dos filósofos alemães de que habitualmente se socorre como de um determinismo (mitigado, nas suas obras) comum às ciências sociais mainstream de língua inglesa. Este pressuposto não quadra de todo com o sentido que nos últimos anos, como argumenta Fukuyama, o termo «neoconservador» adquiriu (e que o autor não admite ser, agora, possível alterar para ser melhor compreensível). Tal como hoje é usualmente entendido, o neoconservadorismo pressupõe um voluntarismo que em nome de um bm futuro se move contra o historicamente adquirido (em contraste, como Fukuyama argumenta, com o neoconservadorismo original de há 50 anos, que por isso se articulava melhor com as grandes tendências da política americana).
Insistindo aqui numa linguagem filosófica não muito presente no livro, dir-se-ia que os neocon’s da década de 1950 pensavam a partir de leis estáticas (como o anti-comunismo) atribuídas aos regimes demoliberais; e , para estes, Fukuyama apresentou em O Fim da História e o último homem algo como leis dinâmicas (uma tendência geral para o demoliberalismo, com apoios e resistências, a ver caso a caso e com generalização bastante limitada). Ora, quando o termo neoconservador significa, como hoje sucede, uma imposição voluntarista de regime, estamos nos antípodas das premissas neoconservadoras de há 50 anos e da Filosofia da História do próprio Francis Fukuyama. É apenas natural que a discordância se acentue nas questões concretas e, assim, a confusão de Fukuyama com o pensamento neoconservador como este é geralmente entendido se torne impossível.No geral, é mais um pequeno livro bem feito, como o anterior. Claramente estruturado, várias vezes em remissão directa para vários dos seus trabalhos anteriores, exposição histórica bem informada e análise equilibrada, tudo aspectos a valorizar (e raros) quando o assunto é a política externa norte-americana posterior a 11 de Setembro de 2001. Decerto não interessará anti-americanos militantes, a quem a compreensão das várias Américas presentes nos EUA não importa; e igualmente desiludirá os mais ardentes defensores da presente administração, a quem a crítica é sempre lesa-majestade. Talvez isso explique o fraco acolhimento crítico a este livro (a tradução, aparentemente apressada, em cima de um Inglês já muito coloquial, também não ajuda).
(...)»

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