Depois de meses de suspense, Blair anunciou a sua saída do Governo britânico (e da liderança do Labour) para o próximo dia 27 de Junho. Sobre o legado de Blair, vale a pena ler o artigo de Polly Toynbee no The Guardian de hoje. Um excerto:
Many on the left got their disillusion in long before the 1997 election, refusing to vote for a New Labour they had already decided was betrayal. The left is always destined for betrayal because nothing can be enough.
But imagine if Labour's early disillusionists had been given a crystal ball that day to see what Blair would actually do in the next 10 years. The truth is, they would have been surprised: the Blair era did change the political climate as surely as Thatcher had done before. What better proof than Cameron's strange transmogrification into a caring, green, liberal-minded leader who claims wellbeing trumps wealth? He may be a wolf in sheep's clothing, but he thinks Conservatives can't win unless they look, sound and smell more like progressive social democrats.
P.S.: Toynbee escreve ainda que "In schools results improved, but his legacy will be transforming them all soon into extended schools, with breakfast and tea clubs, after school homework help, aiming to give all children the sport, arts and tutoring that private schools offer the few". Haja alguém que reconheça que isto - algo semelhante ao que o Ministério da Educação actual implantou sob a designação de Actividades de Enriquecimento Curricular no primeiro ciclo do ensino básico - é uma medida de esquerda. É que actividades que dantes eram fornecidas pelo privado e pagas como tal são agora gratuitas e ao alcance de todas as crianças, independentemente da sua origem social e da capacidade económica dos seus pais.
Mas, claro, já sabemos, para muitos isto faz apenas parte da "destruição da escola pública"...Long live the "double speak".
quinta-feira, 10 de maio de 2007
Balanços
Posted by Hugo Mendes at 13:09
Labels: New Labour, Polly Toynbee, Reino Unido, Tony Blair
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12 comments:
E no entanto muito inglês intelectual (sem aspas) despreza Blair. Quando gramarem o Brown ou o Cameron, logo o apreciarão. Atrás de mim virá...
Tens razão, mas apesar de tudo eu nao desgosto do Brown; falta-lhe é o "communicational nerve" do Blair, e nos dias de hoje isso pode ser fatal. Mas do ponto de vista económico, Brown é o responsável das medidas sociais mais à esquerda da "era Blair".
Não chega a ser balanço, convenhamos.
Há uns meses atrás, Hugo, prometeste-nos um balanço (aqui: http://avezdopeao.blogspot.com/2007/01/um-fim-inglrio.html).
Aí eu deixei (a teu pedido, :) os links duma série de 3 textos que dedicara meses antes, no Fuga, à década blairiana.
Mantenho a nota negativa, sobretudo pela questão do processo da invasão do Iraque, que não é só uma questão de política externa, mas também de contrato de confiança para com os eleitores (a questão da mentira sobre as armas de destruição maciça).
Além doutros pontos negativos que aí saliento (e o Hugo também), houve ainda alguns escândalos deprimentes, nomeadamente o do tráfico de títulos/lugares.
Por outro lado, não esqueci aspectos positivos da sua governação: no topo, a paz na Irlanda e a descentralização radical face à Escócia e P. Gales, que permite até a independência política.
De seguida, a política cultural, um feito muito importante, até em termos económicos (turismo cultural) e simbólicos (auto-confiança sobre o próprio património e identidade).
Por fim, os feitos indicados pelo Hugo na política educativa, que desconhecia e que vão no sentido dum reforço da democratização de dimensões relevantes da escola (e com ela, das possibilidades de sucesso educativo, de igualdade de oportunidades e de ascensão social).
A questão do terrorismo intra-muros (ligada à invasão do Iraque) também foi mal gerida, sobretudo o caso do assassinato do imigrante brasileiro em Stockwell, alguns raides nas comunidades muçulmanas (pelo menos em 2006) e a estratégia de monolitizar essas comunidades em torno de certos centros religiosos, esquecendo que o apoio devia antes ter sido diversificado, implicando as restantes associações voluntárias, não só dessas comunidades como as inter-comunitárias.
Pois, o brown faz parte do blairismo, mas o eurocepticismo vai paroquializá-lo muito e quando os problemas surgirem e a opoinião pública nem pensar na UE, vai ser ele a pagar (e logicmante...). Daí o meu comentário
Pois, percebo, mas quanto ao eurocepticismo não há muito a fazer por aqueles lado, acho...De qualquer forma, 10 anos já é muito tempo, vamos ver quanto tempo as pessoas ainda têm paciência para o Labour. David Cameron é bastante mais agil comunicacionalmente do que Brown, e terá tempo para fazer aquilo que Ségolène não teve em França: preparar um programa político coerente que fuja às tradições do seu partido.
Citando: "algo semelhante ao que o Ministério da Educação actual implantou sob a designação de Actividades de Enriquecimento Curricular no primeiro ciclo do ensino básico"...
Caro Hugo, permita que arrefeça o seu entusiasmo com um pedaço da realidade. A disciplina de Inglês, no 1º ciclo, é ministrada por professores em regime de "actividade extra-curricular" que não possuem a necessária formação científicas e pedagógicas exigida aos restantes docentes do 1º ciclo. Abundam as negociatas entre as empresas que prestam estes "serviços" e as autarquias - veja-se o caso recente da "Know How" e da CML. Quem perde são as crianças, que em vez de adquirirem bases sólidas numa língua estrangeira, interiorizam muitas vezes erros que só a custo poderão ser emendados nos ciclos seguintes. E perdem também os professores/monitores, que auferem remunerações baixas, pois que se entende que, não tendo a formação profissional e académica dos restantes docentes, seja natural receberem menos. Enquanto isso, há muitos professores com formação científica e pedagógica no desmeprego. E assim se caminha para uma proletarização da docência, para um nivelar por baixo (em vários sentidos) dessa profissão. Enfim, quem mais perde são as crianças...
Não, meu caro Hugo, não é isto que eu concebo como um ideal de esquerda não totalitária. Mas só quem está por dentro dos problemas, na dupla função de educador e de encarregado de educação, é que sabe como tudo se passa. O resto é propaganda, onde até sábias e serenas pessoas são inadvertidamente embaladas.
Caro Jorge, ninguém disse que a situação é perfeita e que não há anomalias. A iniciativa é recentíssima e se não houvesse situações longe do ideal é que era verdadeiramente de estranhar, sobretudo num país como o nosso, em que as coisas que existem há décadas não funcionam bem.... E vai uma grande diferença entre uma "critica interna" à iniciativa apontando os elementos que, natural e provisoriamente, ainda devem ser melhorados - eu não disse que a medida funcionava na perfeição; disse que era uma medida de esquerda -, e as críticas habituais de quem não está minimamente interessado em reconhecer o esforço político em qualificar e credibilizar a escola pública. Não percebi qual é a sua posição.
O inglês que elas estão a aprender não é perfeito? Talvez não seja (e a matemática? e o português? são perfeitos? se não são, acabamos com o seu ensino?); mas veja a diferença: há 2 anos não aprendiam inglês nenhum. Não percebi o que elas "perdem": pelos vistos ficaram a ganhar.
Quanto aos "muitos professores com formação científica e pedagógica no desmeprego", talvez queira perceber porque motivo eles estão nessas condições. Para além de não ter nada a ver com o inglês (ou o professor que ensina, por exemplo, história, já tem qualificações para ensinar inglês?), pode perguntar o que a FENPROF têm a dizer os professores com horário zero - e se existe interesse em resolver a situação...
Clarifico a minha posição, caro Hugo: a medida seria muito positiva se aproveitasse os docentes com qualificações. Pois no caso das línguas e da matemática, é fundamental uma aprendizagem inicial de qualidade. Como está a ser implementada, não traz grandes vantagens. Não critico por criticar, apenas gosto de fazer as coisas bem feitas e de exigir, enquanto cidadão, que os responsáveis pela política educativa tenham a mesma preocupação. Sou utópico, mas que se há-de fazer? Quanto às estruturas sindicais, nunca como hoje foram tão necessárias e é uma pena que estejam tão anquilosadas nas suas concepções de intervenção, e preocupantemente fechadas sobre si mesmas, afastadas da realidade das escolas e dos docentes. O que só facilita um certo autoritarismo irresponsável, mas não queria estender-me por aí.
Referiu na sua resposta o seguinte, que passo a citar: "(ou o professor que ensina, por exemplo, história, já tem qualificações para ensinar inglês?)". Não tem, obviamente que não tem. Mas com o conceito monodocência a ser implementado no 2º ciclo (e mais tarde, eventualmente estendido ao 3º), passará a «ter». Com todas as aspas. Não creio que isso venha trazer qualidade ao ensino público. Se medidas de esquerda dão nisto, não serei eu a louvá-las.
"Como está a ser implementada, não traz grandes vantagens."
Vantagens traz de certeza: é que antes os alunos não tinham ingles, educação física e musica e agora têm. Parece-me óbvio. Não são optimas? Há que melhorar. É aliás o consenso entre a Comissão de Acomapnhamento das actividades - que envolve pais, autarquias, e os restantes parceiros - que o que se fez em tão pouco tempo foi muito bom, e que falta melhorar em vários aspectos. Não peçamos o céu em ano e meio. É que se é esse o grau de exigência em Portugal, bom, entaõ apliquemo-lo ao resto das instituições e fechemos o país :)
"(ou o professor que ensina, por exemplo, história, já tem qualificações para ensinar inglês?)". Não tem, obviamente que não tem. Mas com o conceito monodocência a ser implementado no 2º ciclo (e mais tarde, eventualmente estendido ao 3º), passará a «ter». Com todas as aspas. Não creio que isso venha trazer qualidade ao ensino público."
É engraçado: isto existe em vários outros países e não parece que o ensino deles seja pior que o nosso. Quanto à preparação dos professores, a sua formação inicial será alterada para acomodar as novas funções.
A escola pública existe para servir os alunos, não os professores...Que estes tenham condições, muito bem, estão todos atentos a isso; agorra, não percamos de vista que são os alunos o público do sistema educativo.
"É engraçado: isto existe em vários outros países e não parece que o ensino deles seja pior que o nosso."
Existe em 5 países somente (Espanha, França, Alemanha, Inglaterra e Finlândia) e mesmo nesses está a ser reavaliado para os anos mais avançados. Só na Finlândia funciona bem - mas aí, doa a quem doer, a realidade sócio-económica é completamente diferente da nossa (p. ex., apenas 2,5% de imigração, na esmagadora maioria de origem russa, o que afasta quaisquer questões de multiculturalidade).
"A escola pública existe para servir os alunos, não os professores..."
Este é um chavão "eduquês" muito repetido e acarinhado por quem está a leste das questões do ensino. Como todos os chavões, é vazio de conteúdo. A escola, pública ou privada, serve para formar futuros cidadãos. Ponto. Os professores e os alunos têm o seu papel definido. Ninguém está ali para servir ou ser servido. São papéis diferenciados.
"Este é um chavão "eduquês" muito repetido e acarinhado por quem está a leste das questões do ensino. Como todos os chavões, é vazio de conteúdo."
Jorge, desculpe, está à vontade para passar atestados de autoridade, mas essa defesa é, essa sim, vazia de conteúdo. É por isso que é tão difícil de mudar o que quer que seja em Portugal - é porque regressa sempre o alibi de que nunca ninguém percebe o suficiente de nada para mudar o que quer que seja; só os próprios, e quando os próprios não estão particularmente interessados em mudar...
E se acha que o que eu disse é um chavão, então olhe, deixe-me dizer que tem sido muito esquecido. É que ele não é vazio: é obvio. E mesmo sendo óbvio...
"Só na Finlândia funciona bem".
Devemos ter acesos a fontes diferentes. E, francamente, não vejo porque razão não pode funcionar bem em Portugal.
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