sexta-feira, 4 de maio de 2007

A globalização esfumada

Por falar em fuminhos e proibições, vem aí a Marcha Global da Marijuana, uma "uma iniciativa internacional, pacífica, que tem lugar em várias cidades do planeta em simultâneo, sempre no primeiro sábado do mês de Maio".
A organização pretende discutir uma questão tabu: "O objectivo desta marcha é chamar a atenção dos governos, dos decisores políticos e das instituições relacionadas com as drogas e a toxicodependência em concreto, e da sociedade civil em geral, para as vantagens da legalização / normalização do cultivo, venda e consumo de canábis planeada e baseada na realidade e em factos científicos; e para a ineficácia e o falhanço da proibição na sua missão de reduzir o consumo, o tráfico de drogas e o crime associado".
Lisboa e Porto aderiram este ano, no que pode ser uma boa ocasião para os peões darem à sola, ou não. É já este sábado, à tardinha, dizem que regressará o tempo soalheiro.
O movimento está organizado (como o Hugo gosta): tem um manifesto, argumentos e propostas. As propostas são boas, excepto a 4.ª (por rebarbativa) e o final da 6.ª (por demasiado vago).
E põe tudo na mesa: "Não sendo inócua, a Canábis é certamente uma das drogas conhecidas mais seguras. Os riscos do seu consumo são mínimos, principalmente quando comparada com outras substâncias largamente consumidas e aceites pela lei e pela sociedade.
Mesmo considerando o seu consumo prejudicial, tal não é razão para a ilegalização da substância e respectiva penalização dos consumidores. É uma questão de direitos humanos. As pessoas devem ter direito de optar consciente e informadamente" (daqui).
A marcha alfacinha é organizada pela COM.Maria (Comissão Organizadora da Marcha Global da Marijuana LISBOA 2007); a portuense é feita pela MGMPorto, que em breve se formalizará como Associação de Defesa do Consumidor de Cânhamo.
E ainda dizem mal da globalização, que gente tão embirrenta, credo!
*
PS: concordo com a Sofia, Bárbara, Shiznogoud e Leone sobre a necessidade de moderar a proibição de fumar em locais públicos (p.e., excluindo espaços abertos), mas tb. tenho dificuldade em perceber a resistência de muitos fumadores em aceitar deixar de fumar em locais públicos fechados quando prejudicando terceiros (exceptua-se os só para fumadores, i.e., quando cessar a actual inexistência de alternativas para os não fumadores...).

6 comments:

CLeone disse...

Claro, os fumadores deem ter de respeitar os outros, isso é certo. Mas devo acrescentar que nunca vi quem o não fizesse, pelo menos que me lembre. É assim uma situação tão frequente que justifique proibições tão radicais? A poluição sonora em Lisboa parece-me muito maior

CLeone disse...

Nota: comentei os teus comentários aos meus posts (aqui e no ladob) e voltei ainda ao teu de Lisboa. Mas essa discussão talvez seja melhor no ladob, não sei o que achas

Hugo Mendes disse...

"Os riscos do seu consumo são mínimos".

Serão mínimos, quando o consumo é continuado ao longo de vários anos?
Não me parece ser o assim tão consensual do ponto de vista médico - há quem diga que as lesões cerebrais podem amplas e por vezes irreversíveis.

Daniel Melo disse...

Hugo, esqueceste-te da restante parte da frase, que é importante:
"Os riscos do seu consumo são mínimos, principalmente quando comparada com outras substâncias largamente consumidas e aceites pela lei e pela sociedade."
Ou seja, ao lado do cigarro, do cachimbo e das bebidas alcoólicas, quando estes consumidos de modo regular ou excessivo (no caso do álcool).

Aditas:
"Serão mínimos, quando o consumo é continuado ao longo de vários anos?"
Não me parece que o hipotético problema seja esse, mas eventualmente o consumo regular em grandes quantidades, para certas pessoas mais susceptíveis ou numa idade em que o cérebro possa ainda não estar totalmente formado.

"Não me parece ser o assim tão consensual do ponto de vista médico".
Não sabia que havia polémica nesta área (conheces estudos credíveis dizendo isso que apontas? são a maioria?), mas não será de admirar: se até sobre as alterações climáticas há políticos e empresas que encomendam e distorcem estudos só para dizer que não há consenso científico, quando ele é esmagador. Tudo é possível.

Ficámos sem saber a tua opinião sobre a questão. Concordas com as propostas, só com algumas? Achas que tem pertinência discutir esta questão?
É que as propostas parecem-me razoáveis, de acordo com a informação de que disponho.

Hugo Mendes disse...

Não acho que a liberalização trouxesse grande mal ao mundo. Pelo menos ela obrigaria pelo menos a colocar em cima da mesa os reais riscos que me parecem menosprezados quando se compara com o álcool ou com o tabaco (é que não é o número de mortes que é relevante aqui: é o número de pessoas que ficam com capacidades cognitivas efectivamente reduzidas).
É preferível ser legal e os riscos serem transparentes e assumidos do que enveredarmos pelo discurso de que "as pessoasm morrem por tantas outras coisas que são legais". E digo isto porque me parece as pessoas, por não "matar", acham que esta droga é inócua, e que por muito que consumam não lhes traz mal nenhum. Não tenho nenhum estudo à mão, tenho apenas o testemunho de inúmeras conversas que tive com médicos que me alertaram para o perigo precisamente das pessoas pensarem que não há "problema especial".
A liberalização podia, por instituir um mercado com regras e informação, acabar com este mito.

CLeone disse...

«é que não é o número de mortes que é relevante aqui: é o número de pessoas que ficam com capacidades cognitivas efectivamente reduzidas» (Hugo)
Bingo, e essa é que e a diferença entre tabaco e copos face a drogas mesmo leves, que se destinam unicamente a alterar estados de consciência, o que inevitavelmente coloca problemas na sua legalização. Se esta ajudará a combater tráfico, afastar mitos terapêuticos, etc., é o que resta ver.