Por falar em fuminhos e proibições, vem aí a Marcha Global da Marijuana, uma "uma iniciativa internacional, pacífica, que tem lugar em várias cidades do planeta em simultâneo, sempre no primeiro sábado do mês de Maio".A organização pretende discutir uma questão tabu: "O objectivo desta marcha é chamar a atenção dos governos, dos decisores políticos e das instituições relacionadas com as drogas e a toxicodependência em concreto, e da sociedade civil em geral, para as vantagens da legalização / normalização do cultivo, venda e consumo de canábis planeada e baseada na realidade e em factos científicos; e para a ineficácia e o falhanço da proibição na sua missão de reduzir o consumo, o tráfico de drogas e o crime associado".
Lisboa e Porto aderiram este ano, no que pode ser uma boa ocasião para os peões darem à sola, ou não. É já este sábado, à tardinha, dizem que regressará o tempo soalheiro.
O movimento está organizado (como o Hugo gosta): tem um manifesto, argumentos e propostas. As propostas são boas, excepto a 4.ª (por rebarbativa) e o final da 6.ª (por demasiado vago).
E põe tudo na mesa: "Não sendo inócua, a Canábis é certamente uma das drogas conhecidas mais seguras. Os riscos do seu consumo são mínimos,
principalmente quando comparada com outras substâncias largamente consumidas e aceites pela lei e pela sociedade.
principalmente quando comparada com outras substâncias largamente consumidas e aceites pela lei e pela sociedade.Mesmo considerando o seu consumo prejudicial, tal não é razão para a ilegalização da substância e respectiva penalização dos consumidores. É uma questão de direitos humanos. As pessoas devem ter direito de optar consciente e informadamente" (daqui).
A marcha alfacinha é organizada pela COM.Maria (Comissão Organizadora da Marcha Global da Marijuana LISBOA 2007); a portuense é feita pela MGMPorto, que em breve se formalizará como Associação de Defesa do Consumidor de Cânhamo.
E ainda dizem mal da globalização, que gente tão embirrenta, credo!
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PS: concordo com a Sofia, Bárbara, Shiznogoud e Leone sobre a necessidade de moderar a proibição de fumar em locais públicos (p.e., excluindo espaços abertos), mas tb. tenho dificuldade em perceber a resistência de muitos fumadores em aceitar deixar de fumar em locais públicos fechados quando prejudicando terceiros (exceptua-se os só para fumadores, i.e., quando cessar a actual inexistência de alternativas para os não fumadores...).


6 comments:
Claro, os fumadores deem ter de respeitar os outros, isso é certo. Mas devo acrescentar que nunca vi quem o não fizesse, pelo menos que me lembre. É assim uma situação tão frequente que justifique proibições tão radicais? A poluição sonora em Lisboa parece-me muito maior
Nota: comentei os teus comentários aos meus posts (aqui e no ladob) e voltei ainda ao teu de Lisboa. Mas essa discussão talvez seja melhor no ladob, não sei o que achas
"Os riscos do seu consumo são mínimos".
Serão mínimos, quando o consumo é continuado ao longo de vários anos?
Não me parece ser o assim tão consensual do ponto de vista médico - há quem diga que as lesões cerebrais podem amplas e por vezes irreversíveis.
Hugo, esqueceste-te da restante parte da frase, que é importante:
"Os riscos do seu consumo são mínimos, principalmente quando comparada com outras substâncias largamente consumidas e aceites pela lei e pela sociedade."
Ou seja, ao lado do cigarro, do cachimbo e das bebidas alcoólicas, quando estes consumidos de modo regular ou excessivo (no caso do álcool).
Aditas:
"Serão mínimos, quando o consumo é continuado ao longo de vários anos?"
Não me parece que o hipotético problema seja esse, mas eventualmente o consumo regular em grandes quantidades, para certas pessoas mais susceptíveis ou numa idade em que o cérebro possa ainda não estar totalmente formado.
"Não me parece ser o assim tão consensual do ponto de vista médico".
Não sabia que havia polémica nesta área (conheces estudos credíveis dizendo isso que apontas? são a maioria?), mas não será de admirar: se até sobre as alterações climáticas há políticos e empresas que encomendam e distorcem estudos só para dizer que não há consenso científico, quando ele é esmagador. Tudo é possível.
Ficámos sem saber a tua opinião sobre a questão. Concordas com as propostas, só com algumas? Achas que tem pertinência discutir esta questão?
É que as propostas parecem-me razoáveis, de acordo com a informação de que disponho.
Não acho que a liberalização trouxesse grande mal ao mundo. Pelo menos ela obrigaria pelo menos a colocar em cima da mesa os reais riscos que me parecem menosprezados quando se compara com o álcool ou com o tabaco (é que não é o número de mortes que é relevante aqui: é o número de pessoas que ficam com capacidades cognitivas efectivamente reduzidas).
É preferível ser legal e os riscos serem transparentes e assumidos do que enveredarmos pelo discurso de que "as pessoasm morrem por tantas outras coisas que são legais". E digo isto porque me parece as pessoas, por não "matar", acham que esta droga é inócua, e que por muito que consumam não lhes traz mal nenhum. Não tenho nenhum estudo à mão, tenho apenas o testemunho de inúmeras conversas que tive com médicos que me alertaram para o perigo precisamente das pessoas pensarem que não há "problema especial".
A liberalização podia, por instituir um mercado com regras e informação, acabar com este mito.
«é que não é o número de mortes que é relevante aqui: é o número de pessoas que ficam com capacidades cognitivas efectivamente reduzidas» (Hugo)
Bingo, e essa é que e a diferença entre tabaco e copos face a drogas mesmo leves, que se destinam unicamente a alterar estados de consciência, o que inevitavelmente coloca problemas na sua legalização. Se esta ajudará a combater tráfico, afastar mitos terapêuticos, etc., é o que resta ver.
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