terça-feira, 1 de maio de 2007

Mayday: rebelião ou organização?

Hoje, no Dia Mundial do Trabalhador, há uma manifestação em Lisboa contra a precariedade, e que se dirige a muitos dos que não encontram empregos à altura das suas qualificações. Já muito se escreveu neste blogue sobre esta questão. A propósito desta concentração, hoje, de pessoas, vontades, ansiedades e energias, deixo umas notas que se pretendem construtivas.

1. "Rebelar-se" (whatever that means) talvez não leve a grande coisa nos tempos que correm. Mais organização e menos rebelião seria mais inteligente e profícuo.

2. Organizar-se significa ter mais ideias claras (e talvez menos slogans razoavelmente vazios ("apenas e só mais uma roda na engrenagem", etc.)). Ter ideias claras significa não querer uma coisa e o seu contrário. Não vale a pena estar-se (legitimamente) preocupado com o desemprego ou o subemprego e ao mesmo tempo bradar contra a "Escola-empresa, a venda do ensino, o comando do mercado nas escolhas da investigação". Quando oiço isto só apetece dizer que se a escola estivesse mais próxima das empresas e o conteúdo e prática do ensino lhes dissesse alguma coisa, e se as instituições não vivessem de costas voltadas (uma atitude que muitos professores universitários gostam de cultivar; quem se lixa, no fim da linha, claro, são os seus alunos) , então muitas pessoas estariam em situações menos complicadas e instáveis. O que não vale é desprezar - qual aristocrata - o discurso da "empregabilidade" e depois queixarem-se - qual proletário - de que não há emprego: entre a aristocracia e o proletariado, um pouco menos de esquizofrenia, por favor! ("aristocrariado" talvez assentasse melhor aos manifestantes do que "precariado" :))

3. Organizar-se significa procurar perceber em que é que a luta se pode ligar à do trabalho não-qualificado - menos no discurso e mais na policy efectiva, que as palavras são fáceis - e às práticas dos sindicatos. Os sindicatos portugueses, por vários motivos institucionais e históricos, têm uma fraca penetração no sector dos serviços, o que deixa as pessoas sozinhas perante as entidades patronais. Era muito importante que isto mudasse - e que isto mudasse também os sindicatos. Boa parte da pressão para essa mudança podia vir das pessoas que se reúnem no dia de hoje; entre o romantismo em relação aos sindicatos que vem dos mitos do passado e a aversão de muitos às suas práticas actuais; entre a lealdade em relação aos "bons velhos tempos" e a distância amarga que marca o presente, haverá um caminho intermédio feito de intervenção no sentido de uma eventual mudança nas instituições e nas práticas sindicais? Temo que a "rebelião" e o discurso "anti-conformista" fiquem sempre à porta das necessárias mudanças institucionais. Depois, claro, toca a culpar exclusivamente o Governo por isto e aquilo.

4. Organizar-se significa pensar com os sindicatos, o patronato e o Governo o que pode ser feito ao nível estrutural e institucional para melhorar a eficácia do sistema de vocational and educational training nacional que permita acomodar os interesses de todos e transformar-se num círculo gagnant-gagnant, como gosta de dizer a nossa Ségolène. Aqui, as alterações trazidas pelo regime de Bolonha fornecem uma oportunidade que não deve ser desperdiçada para aumentar a articulação entre políticas de formação e a coordenação entre parceiros sociais, de forma a criar algo que se assemelhe a encompassing institutions que permitam o diálogo entre todos e institucionalizem práticas que alimentem o investimento sustentado na formação de mão-de-obra qualificada nos sectores certos (nunca ninguém fala nisto, mas será que a pessoas com formação em economia ou engenharia têm tanta dificuldade de inserção no mercado de trabalho como os formados em antropologia ou literatura? pois uma parte do problema pode estar precisamente aqui) e a facilitem sua inserção gradual no mercado de trabalho. Mas para isso é preciso, de forma inteligente e estratégica, querer ser parceiro social - e não agitar a ideia do "conflito" e da "luta social" como a grande arma do precariado. É esta escolha que é imperioso fazer, é a resposta à eterna pergunta "o que fazer?" que estas pessoas precisam saber dar.

Eu sei que isto é mais aborrecido e menos divertido do que a rebelião. É o que se chama política.

13 comments:

Anónimo disse...

Caros amigos,

"José Afonso", figura ímpar da cultura portuguesa, que trilhou, desde sempre, um percurso de coerência na recusa permanente do caminho mais fácil, da acomodação, no combate ao fascismo salazarista e pela liberdade e democracia, é tema de um selo que está em 5º lugar. Precisamos do voto de todos para que se faça um selo em sua memória e em louvor à Liberdade.
Num período de exaltação de valores salazaristas, devemos contrapor com os nossos defensores de Abril!

“Venham mais cinco!!
Traz um amigo também!”


VOTA
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Abril, SEMPRE!!

Davide da Costa

Pedro Nunes disse...

Independentemente do que se possa achar dos Sindicatos e da maneira como lidam com as questões laborais (e eu acho que se asemelham às Misericórdias, que necessitam da pobreza para continuar a ser... misericordiosos) parece-me que a escolha da palavra Precariado é acertada e reveladora de que alguma coisa está a mudar, precisamente nos sindicatos e nas estruturas que apoiam quem trabalha.

É que, por muito que o estudo seja orientado para áreas em que de factos são necessários trabalhadores (e eu partilho da ideia de que isso, em princípio, não tem mal nenhum), nada garante que venha a ter qualquer estabilidade. Tudo é colocado em cima dos trabalhadores: estes é que devem ceder sempre aos interesses dos empregadores. E como se sabe nem aqui, e muito menos na China, estes estão preocupados com outra coisa que não em engordar as suas contas pessoais. Alguma flexibilidade sim, no sentido de nos encaixarmos onde somos mais necessários, mas também onde queremos estar e com estabilidade e dignidade. Uma não pode excluir a outra.

O que se vê é que com estas medidas ultraliberais no emprego, as pessoas podem estar num situação de trabalho precário (mal remuneradas, num ambiente cada vez mais hostil e perigoso) muitíssimo tempo, senão uma vida toda. Mais; como a sua situação é tão específica e tão frágil (eu até acho que gera egoísmo) é impossível ligar-se a outros que não por um mesmo motivo: a precarização. Por isso eu acho a escolha do termo tão acertada.

Já agora viva o 1º Maio e quem tanto lutou para termos uma sociedade mais justa.

Hugo Mendes disse...

Caro Pedro, concordo genericamente consigo. A maioria das pessoas mais novas hoje está divorciada dos sindicatos e esta distância é, creio, péssima para todos; se queremos um mercado de trabalho mais coordenado, com menos assimetrias e dualizaçoes, precisamos de sindicatos activos e resposáveis e pessoas novas que estejam neles filiados. Se o divórcio continuar, nem o sindicalismo sobreviverá por muito tempo nem as pessoas que hoje vivem a precaridade vão conseguir (ou vão-no muito dificilmente) encontrar protecções laborais colectivas.

Quanto ao combate à precarização, ela exige medidas inteligentes e bem calibradas, que não reproduzam as assimetrias já existentes. É por isso que as pessoas se devem organizar, saber o que querem, saber o que é razoável exigir, e saber como a sua situação pode ser melhorada. As reformas dos mercados de trabalho estão cheias de armadilhas e consequências perversas, mesmo quando são encetadas medidas com as melhores das intenções. É preciso capacidade de imaginar esquemas futuros de protecção inteligente sem pensar que podem todos ter um emprego para a vida. Há vários trade-offs que precisam de ser tidos em conta e as decisões devem ter em conta a equidade e a eficiência do mercado de trabalho num contexto de maior exposição ao mercado global. Um exemplo do que quero dizer pode ser encontrado aqui:

http://veu-da-ignorancia.blogspot.com/2006/06/o-trade-off-entre-proteco-do-emprego-e.html

É porque estas coisas exigem muito mais inspiração do que transpiração que é importante ser inteligente e realista nas reivindicações. E é por isso que a rebelião não chega (e, no limite, não leva a lado nenhum); é preciso capacidade de mobilização, organização e negociação. Esse é o desafio desta geração - como foi a das passadas.

Pedro Nunes disse...

Também concordo genericamente consigo. Fui ver o link e percebo o que quer dizer. Contudo infelizmente não estamos na Europa do Norte, onde tanto os trabalhadores como os patrões se entendem e estão preparados para se entender.

Estas coisas fazem-se em tempos longos (recorde-se que as democracias nórdicas e o empenho na educação estão a muitas décadas de nós) e o que se está a assistir em Portugal, simultaneamente, é a destruição de direitos e garantias (qualquer dia não há sequer Segurança Social) e ao mesmo tempo a precarizar. E mais grave, a atomização dos problemas e uma certa inveja do «outro» estão a extinguir qualquer ideia de colectivização e coordenação de lutas.

Não sou economista. Percebo pouco de Economia, mas como cidadão deste país, esta situação preocupa-me, sobretudo porque a esquerda continua a percepcionar estas questões como se fazia há cinquenta anos e a direita alarga as suas políticas liberais com um à-vontade impressionante. Sem reposta.

Hugo Mendes disse...

"é a destruição de direitos e garantias (qualquer dia não há sequer Segurança Social"

Aqui discordamos, Pedro. Os direitos e as garantias não são elementos abstractos que pairam a cima da performance económica do país e que aos quais nos temos que agarrar como se não houvesse consequências. Os direitos custam dinheiro. Isto não é alibi para destruir nada (até porque as coisas não estão a ser destruídas); é um elemento de pedagogia para as pessoas perceberem que a dimensão política e ideológica tem que ter ossos económicos a que se "agarrar". Por exemplo, ss sistemas de segurança social europeus foi construídos noutras eras e noutros contextos; precisam de ser reformados e estão genericamente a sê-lo. Não é a sua reforma que dita a sua destruição; pelo contrário, a sua reforma e recalibragem em funções de parâmtros económicos e demográficos futuros é essencial para que eles sejam sustentáveis. E, repare, que este Governo atribuiu reformas a pessoas idosas que nunca descontaram e que, se a tal "destruição" estivesse em curso, nunca as receberiam. O cobertor é para já curto, mas há um esforço para combater a pobreza de forma cirúrgica.

Agora, tem razão que não somos um país com as instituições típicas do modelo nórdico. Isso é verdade mas não é imutável. As instituições demoram algum tempo a mudar mas podemos ir desenhando políticas no bom sentido. É isso que se pretende, e precisamos saber quais são as políticas que queremos para cumprir o objectivo de reformar o Estado social e torná-lo mais redistributivo: olhe que o nosso está calibrado para proteger mais as classes médias do que as baixas, e é, tal como foi montado, incapaz de reduzir as desigualdades que fazem de Portugal o país mais iníquo da UE. É por isso que precisamos de mudar varias coisas, entre elas a forma de pensar e de agir dos sindicatos (e, já agora, do patronato também).

Anónimo disse...

A “precariedade” (instabilidade, insegurança, incerteza, escassez) representa hoje um fenómeno social que atinge não apenas “os que não encontram empregos à altura das suas qualificações” como defende o Hugo Mendes, mas uma massa heterogénea de trabalhadores. A precariedade no trabalho tanto atinge trabalhadores não qualificados como altamente qualificados, porque este modo de “contratação” não valoriza competências mas o desempenho de tarefas; daí a designação de “tarefeiros”.
Os “trabalhadores precários” afiguram-se como um novo “grupo social” onde não se distinguem sexos, idades, etnias, habilitações académicas ou competências profissionais. Esta construção social, como grupo representativo de um novo sistema de “contratação laboral descartável”, parece servir para legitimar esta nova fase de “capitalismo selvagem”. Os elementos deste “grupo social” partilham a instabilidade, a insegurança e a incerteza quanto à sua sobrevivência económica e quanto ao futuro das suas vidas a prazo. No final de cada “contratação” aguardam ansiosamente uma nova oportunidade, mas sabem que para isso têm de ser submissos, servis, conformistas perante a sua condição de explorados, não lhes sendo permitido o mais pequeno sinal de contestação. A precariedade no trabalho contribui igualmente para uma sociedade mais desumanizada, mais competitiva no pior dos sentidos, mais desprovida de valores de solidariedade. Os “trabalhadores precários” não têm direito a sonhar, nem a planear o futuro, porque o futuro tem os dias contados pelo fim do contrato. Mas podem rebelar-se e também podem organizar-se de forma inteligente, conscientes de que travam uma luta social pelo direito ao trabalho. “ Não agitar a ideia do conflito e da luta social” representa um perverso discurso instrumental capitalista, aniquilador dos sindicatos e potenciador da dominação dos grandes monopólios. Quem ainda acredita nos acordos entre trabalhadores, patronato e Governo não viveu o suficiente para saber como são perigosamente facciosos, e sempre prejudiciais para os primeiros. Os “trabalhadores precários” não são um grupo à parte, são trabalhadores, e por isso devem recusar a construção social da diferença, lutando como todos os trabalhadores pelo legítimo direito ao trabalho. “Proletários de todo o mundo Uni-vos!” faz cada vez mais sentido, deixem-se de modernidades.

Hugo Mendes disse...

"A “precariedade” (instabilidade, insegurança, incerteza, escassez) representa hoje um fenómeno social que atinge não apenas “os que não encontram empregos à altura das suas qualificações” como defende o Hugo Mendes, mas uma massa heterogénea de trabalhadores"

É verdade, não disse o contrário. Mas duvido que iniciativas como esta atriam essas pessoas, que não faze parte do público do Mayday.

"Quem ainda acredita nos acordos entre trabalhadores, patronato e Governo não viveu o suficiente para saber como são perigosamente facciosos, e sempre prejudiciais para os primeiros"

Interessante afirmação: tem alguma prova neste sentido? É que a larga maioria os ganhos para os trabalhadores nos países capitalistas foram garatidos a partir da capacidade de organização e concertação da classe operária, representada pelos sindicatos. Não foi pela "luta pela luta" nem na luta em abstracto contra os "capitalistas". Esse vocabulário e atitude do século XIX não ajuda nada nos tempos que correm.

"Os “trabalhadores precários” não são um grupo à parte, são trabalhadores, e por isso devem recusar a construção social da diferença, lutando como todos os trabalhadores pelo legítimo direito ao trabalho".

Isso é que os "precários", em particular os que fizeram parte do publico do Mayday, têm de saber responder. Convém é não ser ingénuo e achar porque chamamos "trabalhadores" e "proletários" a todos não há conflitos de interesses entre eles.

Quanto ao resto do que escreveu, não discordo, genericamente; aliás, foi por isso que disse que o sindicalismo tem de mudar, porque ele hoje continua a ser indispensável.

Anónimo disse...

A tentativa de substituição de palavras como “luta de classes”, “capitalismo”, “colonialismo” e mesmo “imperialismo” reconhecidas como portadoras de conteúdos ideológicos, por um conjunto de novas categorias, resulta do processo de construção de uma nova linguagem mais conveniente à ideologia dominante e ao controle efectivo que esta exerce sobre as instituições culturais e politicas da sociedade. Quem o diz é István Mészaros, na sua obra O Poder da Ideologia, que aconselho vivamente. Ou de uma maneira mais directa vamos “chamar os bois pelos nomes” em vez de nos deixarmos anestesiar por discursos modernistas. A consciência social das sociedades divididas em classes não pode deixar de ser ideológica, em virtude do carácter antagónico das suas estruturas sociais, e a conflituosidade daí resultante não é absolutamente eliminada pelo discurso pacificador da ideologia dominante. Sempre que trabalhadores, patronato e Governo se sentam à mesa de negociações são os primeiros que cedem em defesa do seu posto de trabalho. Esta cedência pode significar o congelamento de salários, o não pagamento de horas extraordinárias ou a redução de regalias sociais, não impedindo contudo o desmantelamento de grandes empresas como a Siderurgia, a Lisnave, a Setenave, a Sorefame, a Timex, a Renaud e a reestruturação de tantas outras que negociaram com os trabalhadores “rescisões de contrato amigáveis”. Mais uma falácia imposta pelo discurso dominante, porque as rescisões nada têm de amigável… Preferia que o Hugo Mendes, na sua abalável convicção de paz social, não se perdesse com visões abstractas e reflectisse sobre os sucessos laborais dos trabalhadores portugueses nos últimos dois anos.

Hugo Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Mendes disse...

Cara Dulce, cada um que escolhe a linguagem que quer. E cada um escolhe o processo de intenções que quiser mover. Se acha toda a linguagem modernista é uma cedência à ideologia dominante, então eu posso simplesmente inverter o argumento e dizer que toda a reprodução acrítica da linguagem marxista é uma incapacidade e uma falta de vontade de pensar minimamente o que foi a história das economias capitalistas e socialistas do século XX - para não ir mais longe.

Faça a uma consulta das estatísticas sobre as sociedades mais prósperas e igualitárias do planeta e faça uma correlação com os níveis de conflitualidade laboral e o discurso/prática marxista dos sindicatos. Verá que o radicalismo insensato leva o sindicalismo a um beco sem saida, à incapacidade de agregar os trabalhadores (quantas pessoas se revêem nessa linguagem, já pensou?), à sua tomada por minorias sectárias, etc. num ciclo perverso sem fim.

Dou-lhe um exemplo: França, essa grande referência do pensamento político de esquerda, tem a taxa de sindicalização mais baixa da UE. Estranho? Não, é completamente previsível. Os sindicatos não chegam a nem motivam a ninguém, e as pessoas estão-se a borrifar para eles; conseguem, claro, por de vez em quando milhares nas ruas, mas não conseguem ajudar a resolver o problema de 10% de desemprego há mais de um quarto de século. Porquê? Por causa dessa conversa contra a "ideologia dominante" e em nome da "luta de classes" em que mais ninguém na sociedade francesa - tirando 7% ou 8%, talvez - se revê. E quanto ao avanço da precariedade e da pobreza, esses mesmos sindicatos, enfeudados na mesma bolha novecentista, não conseguem fazer quase nada. É triste, mas é a verdade.

Quanto ao exemplo da indústria em Portugal, deixe-me contar uma história. É passada na Suécia, e tem início nos anos 30 do século XX. O sindicato e o partido social-democrata abandonaram o marxismo e decidiram que se queriam melhorar as condições da classe operária tinham que fazer um pacto com o capital. Impensável, não é? Pois foi assim que se passou. Anos depois, dois economistas do maior sindicato (Landsorganisationen/LO) sueco, Gosta Rehn e Rudolf Meidner, desenharam uma estrategia para a economia sueca que se baseava na seguinte ideia: isso de proteger as indústrias fracas e em declinio é uma perda de tempo, pessoas e dinheiro. O que a economia tem de fazer - e para isto precisamos de acordos e colaboração entre o capital e o trabalho - é livrar-se do trabalho não-qualificado, pouco produtivo e sem capacidade de adaptação e passar as mesmas pessoas para sector industriais mais intensivos em tecnologia e mais lucrativos. Ou seja: a indústria em declinio não se protege, aniquila-se; e através de muito dinheiro injectado em políticas de mercado de trabalho activas que ensinam as pessoas a fazer outras coisas (já agora, combatendo a alienação do trabalho repetitivo que tanto afligia, e bem, Marx) e a ganhar mais em indústrias sustentáveis e lucrativas adaptadas ao futuro. Em 3 decadas, a Suécia passou de um país eminentemente agrícola para um dos países mais ricos do mundo, e com níveis de igualdade quase imbatíveis - e com níveis de trabalhadores sindicalizados sempre acima dos 70%. Está a ver condição para operar esta transformação de fundo, não está? Que os sindicatos percebam o que é realmente defender a classe operária, como se melhora a condição de vida dos trabalhadores, e que não se limitem a reproduzir os slogans dos livros marxistas e afins.

É por causa dessa atitude e dessa linguagem que cada vez menos pessoas se reconhecem no discurso sindical. Isto arrisca levar o sindicalismo para um profundo coma ideológico; e arriscamo-nos a que sem sindicatos - inteligentes, responsáveis e REALMENTE defensores dos trabalhadores - as pessoas fiquem entregue à sua luta individual no mercado de trabalho. Numa economia baseada em serviços, essa estocada final não é assim tão difícil. Por isso é preciso mudar de linguagem e de prática.

Senão...senão, Dulce, por favor depois não se queixe do 'individualismo', do 'egoismo', da 'atomização' e da precariedade instalada. É que aqueles que podiam fazer algo para mudar a realidade prefiram ficar a ler os drs.Meszaros deste mundo (eu também os leio, mas sei distinguir o essencial do acessório, o instrumental do documental :)) em vez de mudar a realidade e a vida dos que dizem defender.

Anónimo disse...

Ainda continuo a acreditar que se deve assegurar aos trabalhadores alguns direitos (tem que haver uma rede que não permita o trapezista ir ao chão quando algo corre mal, metaforicamente falando).
Participei no Mayday, por curiosidade e por procurar soluções para contornar aquilo que acho que é a face cruel do capitalismo – o drama social da precariedade do trabalho. E realmente, esta reflexão à esquerda não tem gerado muitas respostas. O Mayday é uma iniciativa que já acontece algum tempo em diversas cidades europeias e tem estado associado a muito "circo" e por isso, não tem sido tão construtivo como se suponha à partida. Todavia, em Portugal achei que a organização conseguiu uma dinâmica que já não encontrava há muito tempo no movimento social (trazendo pessoas com pouca experiência política mas com muita vontade de alterar o rumo das coisas). E acho louvável o papel de algumas organizações que conheci através do Mayday como os “Intermitentes” e a “ABIC”, organizações estas que têm apresentado junto do governo e AR propostas muito interessantes, na defesa dos artistas e dos bolseiros respectivamente.

June

CLeone disse...

ESte último comrnário é valioso, ao contrário da concersa anti-modernidade. Vale a pena pensar pensar nele, ao cntrário dos da lingua de pau anti-imperialista...

Anónimo disse...

Ficar desempregado e mesmo duro ! Indico este site para ajudar a galera que esta desemprega: Empregos, Estágios & Concursos

Abraços.