sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

A minha esfera, a tua esfera

Naquele dia, a porta, por regra aberta, estava fechada. Lá dentro, a um canto, um rapaz ajoelhado com a cabeça em direcção à parede. Ao lado, uma mochila volumosa. Não parece sentir a minha presença, nem quando esboço um, dois, três "excuse me". Calo-me. Percebo que está a orar. A aula começa dentro de instantes e eu preciso de preparar o seu início. Que fazer?

- Esperar que acabe;
- Interferir, lembrando que aquela é uma sala de aulas;
- Fugir. Afinal, dizem-nos quase todos os dias, um muçulmano a rezar ao lado de uma mochila não pode ser um estudante universitário.

Acaba por sentir a minha presença e sai apressado, pedindo desculpa.

7 comments:

Anónimo disse...

Comtemplar guardar na memória, ver alguem a rezar tem algo de mágico. Não se deve importunar alguém em transito afectivo religioso.:-)
maria joão
http://mulheresforadehoras.blogs.sapo.pt/

Anónimo disse...

A diversidade incomoda mesmo.

Anónimo disse...

Se estivesse de headfones virado contra a parede ou a comer batatas fritas não incomodava tanto. Nem dava direito a postagem. Não será isto xenófobo, senhor professor?

Hugo Mendes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Hugo Mendes disse...

Se estivesse de headfones virado contra a parede ou a comer batatas fritas era fácil: ia imediatamente para a rua, não é?
Assim é um bocadinho mais dificil saber o que fazer.
Ou não consegue distinguir aquilo que é respeito (e que gera dúvidas quanto à decisão a tomar) do que é xenofobia?
Em caso de xenofobia não haveria dúvidas: não "era um, dois, três 'excuse me'", mas um "move your ass!!" em voz alta e firme.

Zèd disse...

Caro terceiro anônimo,

Deixe-me ver se eu percebi bem o seu raciocínio. Se eu resolver escrever um post sobre a produção de Rhum nas Caraíbas, no contexto de uma cultura em que a cana do açucar tem uma presença dominante, numa sociedade descendente de escravos, mas não escrever sobre a produção de Bagaço em Portugal estou a ser racista e xenófobo. É isso?

Anónimo disse...

Se não devia estar ali, não devia e ponto final: a abordagem seria, educadamente, o de indicar o caminho da porta. O "move your ass", arrogante e mal educado, não me parece apropriado para nenhum dos casos, a menos que tenha alguma coisa contra o consumo de batatas fritas e louvo-lhe a paranóia.

Quanto ao Rhum VS bagaço, prefiro Rhum. Aceito a sugestão.