sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

O bacalhau está em vias de extinção

A noite de dia 24 de Dezembro foi diferente. Na mesa, um guisado de ostras, receita de família. A milhares de kilómetros de Lisboa, tinhamos aceite o convite. Afinal, este era o primeiro natal com o nosso filho. Na sala, com vista sobre o lago Monona - ainda sem estar gelado, imagine-se! -, partilham-se histórias. O anfitrião, americano do Wisconsin, foi, em tempos, membro do partido comunista. A cunhada, judia, é alérgica ao glúten e trouxe uma salada deliciosa. Nós falamos sobre o nosso filho, claro; ele é a nossa história dos últimos sete meses. Quase a nascer, está a neta do dono da casa. A futura mãe, egípcia, fala de como está preparada para dar à luz sem a ajuda de sedativos - Ui!. O marido, orgulhoso, elabora sobre a origem dos nomes na cultura ocidental e islâmica. Ele, que durante dois anos andou pela américa do norte em vagões de carga na companhia de um cão, converteu-se ao islão quando foi estudar para a American University, no Cairo. Diz-me o pai que é muito ortodoxo; mais do que a mulher, com quem se casou por arranjo. Mesmo assim, são felizes, sublinha. De regresso a casa, comentamos que tivémos muita sorte por ter passado uma noite assim.

Porque conto esta história? Porque segundo alguns leitores deste blogue, eu não teria escrito este post se, nessa noite, tivesse comido bacalhau na companhia de portugueses católicos. O que faz de mim um xenófabo, intolerante e elitista.

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