segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

A vez do táxi

Como contraponto ao racismo ordinário dos taxistas de que se falava há uns dias aqui no peão, eu tinha duas histórias de taxistas portugueses para contar. Um, em Lisboa, onde acabava de aterrar

(esta história de ser peão não podia ser mais contrária à vida real das minhas viagens este ano, em que, num esforço de síntese, já vejo comboios a entrar em autocarros que entram em pistas de aeroporto)

e outro em Massy-TGV (estação de comboios perto do aeroporto de Orly).

Em resumo: eram dois emigrantes portugueses simpáticos; um libertou-me da antipatia de um cliente ordinário, o outro quebrou-me a monotonia do trânsito em Lisboa com uma conversa sobre como tinha emigrado clandestinamente para França em 1967 ou 68.

(Há muitas histórias de imigrantes assim, muitos são taxistas, e eu estou com esta conversa não para dizer bem dos taxistas em geral, mas para dizer bem dos emigrantes portugueses de que nunca ninguém diz bem. Cada vez mais os vejo, àqueles que vieram, à distância destes 30 ou 40 anos, como determinados, valentes, épicos, todos os adjectivos que dariam grandes portugueses. Com o seu lado ordinário, racista, às vezes, certamente.)

Estive entretanto em Itália, onde o governo caiu e entretanto se está a tentar recompor, embora, infelizmente, pareça estar condenado a prazo e com ele a esperança que levantou. Apanhei um táxi na estação de Pisa, porque havia greve de comboios e não havia esperança já de apanhar o comboio que havia de me levar ao avião da easyJet.

(Os tipos da easyJet acham que são espirituosos e mandam o pessoal de bordo dizer umas piadas. Ontem disseram que estávamos a chegar a Paris em inglês e que Paris era uma "city of love, life and glamour". O pessoal parisiense que ia no avião olhou uns para os outros com aquele ar arrogantemente adequado à situação. Não é que não haja love, life e glamour, mas o pessoal vive em Paris como toda a gente, quer dizer, anda de metro, apanha com o patrão chato e a burocracia todos os dias, não sei se estão a ver.)

Em suma: na estação de comboios de Pisa havia um táxi novo modelo. É o carro normal, guiado por um imigrante, que se transforma em táxi quando a bicha para os táxis está demasiado grande e algumas pessoas se arriscam a perder o avião.

Foi caro, não deu para grandes conversas, mas foi muito útil. Uma profissão de futuro, muito europeia dos nossos dias.

(desculpem o desordenado do discurso, mas tenho andado em trânsito e isso afecta-me de uma maneira qualquer)

2 comments:

Cláudia Castelo disse...

A minha ideia não era criar uma rubrica neste blogue contra os taxistas, nem tão pouco chamar-lhes racistas ou fascistas. Não gosto de generalizações. Em todas as profissões haverá de tudo.
Aquelas histórias serviam mais para ilustrar a persistência do racismo e do fascismo no século XXI. No primeiro caso, o que me chocou mais foi a contradição absoluta de criticar o racismo dos franceses e não ter qualquer pudor em revelar-se racista relativamente aos negros.
Quanto ao heroismo dos emigrantes portugueses, partilho a tua admiração pelos emigrantes que partiram a salto durante a ditadura. Em geral tenho simpatia pelos emigrantes e imigrantes, gente que por motivos diversos decidiu mudar de vida.

andre disse...

Cláudia,

eu sei, eu sei. A minha ideia também não era criticar o que tu escreveste. Não sei porquê, a coisa saiu-me um bocado zangada. Mas não era com os posts sobre os taxistas.