terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Peões por Lisboa - Propostas concretas (I)

Respondendo ao repto do Renato neste post, a que se seguiu uma troca de comentários, aqui vão as minha primeiras propostas para um programa por Lisboa. As primeiras ideias que me ocorrem são na área dos Transportes. Há demasiados carros, é preciso melhorar os transportes públicos e desencorajar o uso dos carros.

- Por exemplo, os comboios das linhas de Sintra, Cascais, e da Azambuja deveriam deixar de ser administradas pela CP, e ser administradas conjuntamente com o Metro (e talvez se pudesse juntar ainda a Carris). Uma gestão conjunta seria mais eficaz, e nem que seja só em termos de imagem, fazendo parte da mesma unidade os utentes usam mais facilmente as interfaces metro/comboio. Facilitaria também a construção de novas dessas interfaces no futuro. A rede de metro e comboio passaria a ser verdadeiramente, uma rede, o que incentiva os passageiros a usá-la mais frequentemente. Esta proposta ultrapassa as competências estritas da CML, teria que envolver além da CP e do Metro, o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (MOPTC), a Junta Metropolitana de Lisboa, e provavelmente outras entidades, mas deveria partir de uma iniciativa da CML.

- A linha de Cascais deveria ser ligada à linha da Azambuja em Alcântara Terra, com tantos comboios a fazer Cascais - Cais do Sodré como a fazer Cascais - Azambuja. Assim seria feita uma ligação da linha de Cascais a Entrecampos, sem precisar de usar pela passagem Alcântara-Mar Alcântara-Terra, que não é lá muito conveniente. Isto implicaria fazer alguns túneis na Av. da Índia, mas a linha férrea já existe, simplesmente está reservada para usos excepcionais. Tal como a proposta anterior isto iria envolver outras entidades, mas a iniciativa deveria ser da CML.

- Limitar a entrada de carros particulares em Lisboa. Uma possibilidade é simplesmente a criação de uma portagem em todas as entradas de Lisboa, transportes públicos estariam isentos. Talvez se pudesse limitar aos dias de semana e a determinadas horas, de qualquer modo já existem alternativas de transporte que justifiquem uma medida severa para desencorajar a entrada de carros na cidade.

13 comments:

Hugo Mendes disse...

No que toca ao último ponto, recordo-me que qualquer cidade inglesa de média dimensão tem inúmeros pontos à sua entrada que - os famosos "park & ride" - funcionam como parques de estacionamento e locais onde apanham de imediato os transportes públicos que os levam para dentro da cidade.

Hugo Mendes disse...

Deixo o link de um artigo que li há umas semanas no "The Guardian" sobre os preços dos transportes públicos em Londres, que, fruto das subidas recentes, a transformaram na cidade mais cara do mundo neste capítulo; talvez haja lições úteis a retirar deste caso.

http://www.guardian.co.uk/transport/Story/0,,1981687,00.html

Daniel Melo disse...

Concordo com as propostas do Zèd (sempre valeu a pena desafiá-lo a ser o 1.º, embora secretamente desejasse que avançasse como proto-candidato, fica para a próxima).
Quanto ao que o Hugo disse, ok, faz sentido que seja Londres a cidade mais cara pois é a que tem a melhor rede de transportes públicos (daquilo que eu conheço).
Adito ainda o seguinte: a CARRIS é das piores empresas que conheço de autocarros: atrasos sistemáticos, confusão total dos n.ºs de carreira, falta de interligação, mau serviço, condutores normalmente mal encarados (houve um que levava o ar condicionado desligado num Verão tórrido e se recusou a ligá-lo, dizendo que lhe fazia mal à saúde, pese o autocarro ter parangonas cá fora anunciando ter ar condicionado!!), etc..
Soluções simples: mini-bus em bairros com menor frequência e concentrada (caso de Telheiras, Castelo, Penha de Fr., etc.), reforço dos eléctricos, aumento de faixas bus, PSP dedicada a multas de carros mal estacionados e a vigiar circuitos de transportes públicos (sendo o controlo do estacionamento efectuado pela EMEL e polícia municipal), paragens obrigatoriamente com protector anti-chuva (ide à Alta do Lumiar e nem acreditais no que vedes).
Retirar toda a poluição sonora e visual do Metro, vinda das tvs que custaram uma dinheirama e cuja despesa deve ter ido parar ao bolso dum sobrinho ou amigalhaço qualquer.
Neste momento, em certos sítios da cidade os táxis têm melhores condições que os autocarros!!
Proibir obras megalómanas como as do túnel do Marquês e proibir estaleiros eternos de obras de prédios, que só agravam a circulação.

Daniel Melo disse...

Ah, ia-me esquecendo dos n.ºs de carreira da CARRIS: qual é o sentido de ir desde o 1 dígito a 3 dígitos?! Como se tivesse trezentas e tal carreiras, que não tem!! Nunca entendi esta obsessão do pessoal da CARRIS, uma fixação completamente irracional e que só dificulta a memorização pelas pessoas das carreiras existentes e respectivos percursos.
Simplifiquem, tornem as coisas simples para as pessoas comuns e não para os mangas de alpaca de serviço!!

Hugo Mendes disse...

Daniel, só um reparo: não sei Londres é a que tem a melhor rede de transportes públicos; a de Paris não me parece inferior em absolutamente nada. Mas a questão não é essa, é o aumento de preços absolutamente bizarro nos últimos anos em Londres, quando é altamente improvável que isso tenha correspondido a um aumento da qualidade dos mesmos.

No que toca à "poluição sonora e visual no Metro", suponho que aquilo sirva para angariar dinheiro para o funcionamento do serviço, e isso parece-me nao apenas positivo como indispensável (e se não é, devia ser); o Metro precisa é de ter viagens muito mais frequentes, porque as pessoas não podem ficar entre 10 a 15m à espera do metro, mesmo que não seja a hora de ponta.

Daniel Melo disse...

Quanto ao ponto 1 (grande aumento de tarifa sem contrapartida palpável) concordo contigo, não tinha percebido à primeira que era isso que querias referir.
Quanto ao ponto 2, a coisa é bem bera: eu prefiro pagar um bilhete mais caro do que ter que levar com poluição sonora e visual (já chega o material circulante e os placards cheios de publicidade, olha, ponham publicidade nos bilhetes, aí não me faz espécie). Já os torniquetes foram uma 'invenção' que nos custou (pois é uma empresa pública, atenção) 5 milhões de euros só de entrada (fora as dispendiosas manutenções, basta pensar nas vezes em que aquelas maquinetas já se avariaram!), sem qualquer justificação plausível (continuam passagens abertas, e, ó céus, continuam a existir os fiscais de sempre!!).
Em Roma a experiência tem décadas e foi um fiasco (inclusivamente quando lá vivi, em 1998, os torniquetes já nem funcionavam!!!), há outros metros europeus sem torniquetes e ninguém morre.

Hugo Mendes disse...

Bom, ok, os torniquetes em si não são o problema; o problema é o uso que não lhes dão, isso é que não faz sentido nenhum e demonstra a inexistência de racionalidade económica dessa empresa que, bem relembras, é pública. Se lhe cortassem os subsídios, verias se os torniquetes não passavam a funcionar logo num instante...

Hugo Mendes disse...

"a questão dos torniquetes não me pare ser a mais central:."

Indeed. Mas na medida em que esse detalhe pode prender-se directamente com a propriedade e a gestão das empresas responsáveis pela oferta dos múltiplos serviços aqui em discussão, este é um ponto importante. Não é segredo para ninguém que nesta área reina, ao nível da gestão de bens públicos, a maior das arbitrariedades e impunidades.

"Em termos de tempo-distância não sei se transportes públicos são uma alternativa para a maior parte dos percursos. Falo por mim, moro em Algés e levo mais tempo a chegar a Entre-campos utilizando os tranportes públicos."

Falando em abstracto porque nao tenho a tua experiencia quotidiana: isso acontece porque o mercado não se desenvolveu, dado que não há procura que o justifique; no dia em que as pessoas não tiverem a mesma facilidade para levar o carro p o interior da cidade de Lisboa, essas soluções aparecerão (quase tão depressa como os torniquetes do Metro passariam a funcionar :)). Agora, a observação de que dificultar a entrada de carros em Lisboa poderia entupir as zonas circundantes é relevante; essa é igualmente uma lição que se pode retirar do que se passa em Londres depois da introdução da "congestion charge".

Zèd disse...

Eu concordo com o Hugo, a criação de uma portagem iria desencorajar a entrada de carros em Lisboa o que iria descongestionar o trânsito. Estou convencido que mesmo a entrada na cidade com a portagem seria descongestionada. Os mesmos autocarros que existem hoje iriam circular mais depressa porque haveria menos trânsito (e já agora menos estacionamento selavagem também), os taxis benificiariam da mesma maneira. Além disso, como o Hugo também sugere mais utentes dos transportes públicos e comboio seria uma forma pressionar a melhoria do serviço que estes prestam, e seriam também um aumento das receitas para financiar essas melhorias do serviço. Quanto aos torniquetes, como diz o Daniel, ponham mais fiscais a circular.

Concordo que isto são questões que se vão pôr ao nível da junta metropolitana (talvez não a questão das portagens), mas como são questões fundamentais para Lisboa, a CML deve tomar a iniciativa e assumir um papel de liderança no processo.

Daniel, eu avanço como proto-candidato se o Hugo não quiser avançar :-)

Hugo Mendes disse...

"Daniel, eu avanço como proto-candidato se o Hugo não quiser avançar :-)"

Eu sou a favor de uma proto-proto-negociação dos "tachos"; depois conversamos sobre as proto-candidaturas. First things first.

Zèd disse...

Mas esse o tacho maior...

Hugo Mendes disse...

Tudo bem, estou disposto a mostrar que não estou agarrado ao poder...ao proto-poder, digo.

Filipe Moura disse...

Olá a todos.
Os torniquetes já estão a funcionar (isto idog eu, que ando de bicicleta em Lisboa, mas li no jornal.) O metro pode funcionar bem sem torniquetes em Berlim, mas não dá com povos católicos.
Não adianta dizer mal da Carris ou do Metro; são o melhor que nós temos, prestam um bom serviço (digo eu, que ando de bicicleta) e temos que nos orgulhar deles.
As portagens à entrada da cidade não é mau, mas então e os habitantes de Lisboa que se deslocam de carro dentro da cidade? Isso, para mim, é o mais revoltante de tudo! A solução (a minha solução para tudo) é aumentar o preço da gasolina vendida dentro das cidades. Nos EUA isso é praticamente automático (é o mercado que o decide). Em Portugal pode-se "ajudar o mercado".
Abraços a todos (Hugo, voto em ti).