Lembro-me que pouco tempo depois de abrir com o Pedro Alcântara da Silva o Véu da Ignorância (hoje em hibernação), há cerca de um ano, havia umas discussões interessantes na blogosfera em torno do significado dos comentários anónimos. Como a minha entrada neste mundo virtual era, à altura, recentíssima, só podia ter uma opinião teórica sobre o assunto; uma das teses que mais me ficou na retina (e guardo apenas uma memória vaga da controvérsia, é provável que houvesse outras opiniões interessantes e válidas) foi exposta pelo sociólogo e ex-ministro da Educação, David Justino, que interpretava a prática dos comentários anónimos ocos, insultuosos e sem nenhum outro objectivo que não fosse o do ataque pessoal (que obviamente, e sublinho, não esgota o universo dos comentários anónimos, dado que muitos são razoavelmente inofensivos - embora a sua acumulação possa ser particularmente annoying) como mais um indicador do défice de capital social e de capacidade de discussão de uma sociedade como a portuguesa, mergulhada tanto tempo na censura e no conformismo intelectual, onde muitos se refugiam por detrás do anonimato para simplesmente destruir ou achincalhar as opiniões de poucos - os que, para mal ou para bem, tomam posições em debates públicos, sejam eles mais ou menos sérios.
Obviamente, esta atitude também converge com a opinião de que a política é um mero affair de tachos. Ter uma opinião ou posição política só pode, obviamente, representar uma candidatura a um "tacho" - algo facilmente explicável por outra característica da sociedade portuguesa que os sociólogos gostam de destacar: a enorme distância dos indivíduos em relação ao poder político institucional, que tende a gerar ressentimento e desprezo por quem sobre ela opina ou nela investe profissionalmente (ou gostaria de investir, se houvesse espaço e/ou oportunidade para tal). Como bem saberão, esta atitude encontra-se bem distribuída pela esquerda, seja a "proletária" ou a "caviar", e é facilmente defendida como sinal de "radicalismo" e "purismo".
Escrevo isto para justificar, perante todos, a minha proposta de que, daqui para a frente, os comentários anónimos sejam proibidos neste blogue; apenas aqueles com uma conta no blogger poderiam escrever comentários às postas dos outros.
Assim, passaria a haver apenas tachos para aqueles que metessem as mãos um bocadinho mais perto do fogo. Chamam-lhe a lógica da acção colectiva.
domingo, 18 de fevereiro de 2007
Os anónimos, o capital social, e outros défices
Posted by Hugo Mendes at 21:12
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16 comments:
Estou calmíssimo, Renato, particularmente depois da performance dos "Irmãos Catita" ontem até às tantas :). E os "Ena Pá 2000", qual alter-ego, tocam na noite de segunda para terça no mesmo espaço!
Eu tenho imensa pena de não poder ir mais ao Maxime, mas não me fica muito em caminho.
Quanto aos anónimos, tenho tendência a ser tolerante, apesar de tudo deixá-los comentar é apenas fazer eco de uma realidade que existe na sociedade portuguesa, em particular na discussão política num espaço público. A análise que referes, Hugo, no post é provalvelmente correcta, ou aproxima-se disso, e às vezes (isto tem dias) pergunto-me "porque não dar-lhes voz?". Em democracia, os imbecis também têm direito de expressar a sua opinião, e até de votar. Eu não gosto de citações bíblicas, mas cá vai "bem aventurados os pobres de espírito, deles é o reino dos céus".
Dito isto, se a maioria do peões for pelo fim dos comentários anónimos, eu não me vou opôr, bem pelo contrário (isto tem dias).
Se eu lhe disser que me chamo João Santos, Luís Silva, António Sousa continuo a ser anónimo para si: não me conhece. Não será por isso que a minha opinião será menos válida. E a minha opinião, pelos vistos incomoda-o, por várias razões: primeiro por ser anónimo, depois porque lhe digo que publicam os recadinhos que são convenientes para um certo candidato da vossa preferência e fazem-no debaixo de uma capa da mais pura inocência e desinteressado esgrimir de argumentos políticos. Por fim porque é da mais bossal arrogância que, por mais que o incomode, é a minha opinião sobre si. O Hugo Mendes acha-se o máximo. Eu reconheço-lhe inteligência, mas uma profunda estupidez na sua arrogância, talvez por ser um puto inexperiente (nem sei a sua idade, porta-se como tal). Lembre-se de uma coisa: os génios são humildes, fazem valer as suas ideias pelo que elas são. Não pelo nome, não pelo “eu tenho um blog chamado tal, referenciado por tal e tal VIP” nem sequer por ter a ideia de “proibir” comentários “anónimos”. Anónimos somos todos, caro Hugo, o Hugo para mim também o é.
O meu nome? André Pinto. Diz-lhe alguma coisa? Não me conhece. Como cheguei até si? Através de um blog que nem sequer têm a cortesia de retribuir a linkagem. Não seria da sua cor ou não seria VIP? Talvez de uma esquerda demasiado proletária para o vosso refinado esquerdismo caviar.
Escrevi, por lapso, "bossal". Obviamente que é boçal.
Genial!
Caro André Pinto, se realmente acha que este blogue foi constituído para apoiar um certo candidato da nossa "preferência" e que o fazemos "debaixo de uma capa da mais pura inocência", então tenho a dizer-lhe que não percebeu nada do que este blogue é ou pretende ser. Mesmo nada.
Quanto à sua opinião sobre mim, lamento desiludi-lo, mas não me incomoda absolutamente nada.
Se isto para si é sinal de arrogância, paciência.
Só para alguém fora da realidade é que um blog de simples peões, como os próprios fazem questão de se auto-intitularem, pode influenciar as grandes jogadas políticas.
As ligações a outros blogs estão ainda em construção, mas reservamo-nos o direito de escolher.
Xeque-mate!
"Em democracia, os imbecis também têm direito de expressar a sua opinião, e até de votar." Só um imbecil escreveria isto e só um imbecil escreveria um post destes. Partilho a visão do anónimo, sem que incomode que me diga que não se incomoda. Este blog é PS 100%, desmintam-no.
Vinha aqui regularmente, não volto MESMO. Brinquem sozinhos aos blogs.
Será que as pessoas não conseguem pensar nos blogues como entidades separadas dos partidos, sem qualquer relação de delegação ou representação ou whatever?
E se o blogue fosse "100% PS" - o que não corresponde à realidade e para dizer verdade serei eu o que mais, para não dizer o único (mas não quero falar pelos outros), me aproximo do que o PS hoje defende -, qual era exactamente o problema? Como dizem os americanos: "So what"?
Isso da identidade partidária - algo que não existe de todo neste blogue, e ainda bem - parece incomodar muito mais certos comentadores, que mostram viver obcecados com isso - projectando as suas fantasias líricas sobre o conteúdo do blogue - do que propriamente os bloggers. Isto é realmente a dimensão mais cómica deste episódio.
Quem quiser não voltar, não volte. Nós vamos continuar a escrever independentemente das catalogações partidárias.
YYYYYYYEEEEEEEESSSSSSSS! Chamaram-me imbecil! Há meses que ando à espera deste momento!
OOhhps... Lapso. O que eu queria dizer era que lamento muito, caros amigos peões que por causa da minha imbecilidade e arrogância tenhamos perdido um leitor, mea culpa (schuif, schuif).
E já agora, caros anónimos, uma pergunta: E se este blogue fosse 100% PS (que não é, desminto pela parte que me toca, anda apenas na casa dos 40%, e mesmo assim tem dias), isso é um problema em si mesmo? É proibido apoiar o PS na blogosfera? Deixo-vos aqui uma sugestão: se acham que Ferro Rodrigues não seria um bom candidato à presidência da CML deixem aqui um comentário com uma argumentação lógica a explicar a vossa opinião, em vez de se dedicarem a insultar os membros deste blogue. Se têm argumentos, não se inibam, vamos ao debate, e para esse debate é irrelevante saber quais são as nossas e as vossas motivações, limitêmo-nos aos argumentos. Estou a falar em particular ao André Pinto (que mesmo não conhecendo é muito mais agradável tratá-lo pelo nome, eleva logo o nível do debate), que até escreve bem. Vá lá, usem o vosso direito ao contraditório.
Oh Hugo, estamos a comentar ao mesmo tempo?
Já agora quanto à minha frase:"Em democracia, os imbecis também têm direito de expressar a sua opinião, e até de votar." acreditem ou não é um elogio à democracia. Acredito profundamente que em democracia os imbecis DEVEM ter o direito de se expressar. Todos, imbecis ou não, DEVEM ter o direito de se expressar. É isso que torna a democracia diferente dos sistemas totalitários.
Zéd e restantes peões, o que eu acho é que já deitámos - nós, que temos um blogue capaz de realmente influenciar a opinião publica e de criar plataformas decisivas no apoio a um candidato à mais importante câmara do país - por terra todas todas as hipóteses do Ferro se posicionar como eventual candidato, perante a debandada dos nossos leitores. Temos que apostar noutro cavalo do tabuleiro.
Claro que sim.
Essa de retirar o Ferro do caminho foi um golpe de génio.
Não fui eu...foram os nossos leitores anónimos que fizeram tudo (isto para mostrar que aprendi que os "génios", para recuperar a palavra que usaste e que muito me lisonjeia, Zèd, devem ser "humildes").
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