sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Presidenciais francesas: Queres ser meu padrinho? (I)

No que resta deste mês de Fevereiro a atenção de quem segue as presidenciais aqui em França vai estar voltada para formalização das candidaturas, podem estar guardas algumas surpresas. Isto porque o sistema eleitoral francês tem uma particularidade muito sui generis, para além da recolha de assinaturas de cidadãos, é necessário aos candidatos recolherem 500 parainages - literalmente: apadrinhamentos - ou seja assinaturas 500 eleitos, que são todos os detentores de qualquer cargo político obtido por eleição directa, desde senadores a deputados à assembleia municipal, e existem 48000 em França. Mas não podem ser quaisquer 500 eleitos, têm que estar distribuídos pelo país segundo uma série de regras algo complicadas. Esta exigência favorece, surpresa das surpresas, os candidatos apoiados pelos grandes partidos. Mesmo num universo de 48000 eleitos muito poucos partidos têm 500 distribuídos pelo país segundo as regras. Até hoje este sistema não impediu que se tivessem apresentado às eleições inúmeros candidatos de pequenos partidos (Jospin que o diga), normalmente os candidatos de pequenos partidos socorrem-se de "apadrinhamentos" de eleitos dos grandes partidos que permanecem sob sigilo. Este ano essa prática acabou, para a ajudar à festa a lista de "padrinhos" de cada candidato será tornada pública. No plano dos princípios, esta prática faz todo o sentido, se uma das competências atribuídas aos eleitos pelo quadro legal e constitucional francês é a de apadrinhar candidatos à presidência da república, os eleitores têm o direito de saber quem é que os seus eleitos apadrinham. Mas palpita-em que a principal motivação desta alteração não é uma questão de princípios, mas sim um puro pragmatismo político. A partir do momento em que os eleitos são responsabilizados pelo seu apadrinhamento vão pensar duas vezes antes do fazerem, e acresce ainda que tanto na UMP como no PSF foram dadas instruções pelas direcções dos partidos para que os seus eleitos não apoiassem candidatos de outros partidos. Resumindo e concluindo, para além de Nicolas Sarkozy (UMP), Ségolène Royal (PSF), François Bayrou (UDF) e Marie-George Buffet (PCF, candidata comunista a quem as sondagens não dão mais de 3%) não há certezas sobre quem se vai efectivamente apresentar-se às eleições. Repararam que Le Pen não faz parte da short list? Fica para outro post. Do outro lado do espectro quem está na dúvida quanto à escolha do seu esquerdista favorito também não sabe muito bem com que linhas se vai coser.

curta: Ségolène Royal fez há uma semana uma série de promessas que ninguém sabe muito bem quem as vai pagar caso seja eleita, como vai sendo hábito Sarkozy não se quis ficar atrás.

2 comments:

Hugo Mendes disse...

Isso quer dizer que se sabe/poder saber quem apadrinhou Le Pen em 2002? E há hipótese de alguns desses nomes não o voltarem a fazer agora?

Zèd disse...

Não me parece que seja retroactivo, se bem percebi é válido só para quem o fizer este ano. De qualquer maneira, vendo a dificuldade que o Le Pen tem tido em recolher assinaturas, nem todos os que o apadrinharam antes estão dispostos a fazê-lo agora.