Julgo que a música tem um papel muito importante a desempenhar no combate ao racismo e à xenofobia e na promoção do pluralismo e da inclusão. O último trabalho de Amélia Muge, que sigo com muito prazer há uns doze anos, tem um tema, Não sou daqui, que fala do desejo de ter todos os lugares neste lugar e que este lugar seja o lugar de todos. Diz a cantora: "Aprender no lugar do outro a me encontrar...".
Como colectivo, os portugueses têm ainda muito que aprender nesta matéria. Eles que durante as últimas décadas do Estado Novo foram 'bombardeados' com uma propaganda nacionalista que enaltecia o carácter integrador, universalista e ecuménico do nacionalismo português, em oposição aos 'maus' nacionalismos, fechados, etnocêntricos e xenófobos. Tudo indica que os portugueses apenas interiorizaram a norma anti-racista para efeitos de discurso autojustificativo, não a reproduziram na prática pessoal e social quotidiana.
Como colectivo, os portugueses têm ainda muito que aprender nesta matéria. Eles que durante as últimas décadas do Estado Novo foram 'bombardeados' com uma propaganda nacionalista que enaltecia o carácter integrador, universalista e ecuménico do nacionalismo português, em oposição aos 'maus' nacionalismos, fechados, etnocêntricos e xenófobos. Tudo indica que os portugueses apenas interiorizaram a norma anti-racista para efeitos de discurso autojustificativo, não a reproduziram na prática pessoal e social quotidiana.
Na semana passada, o Público divulgou um estudo sobre as identidades na Europa e os modos como estas influenciam, nomeadamente, a atitude face à imigração. O estudo, elaborado no âmbito do European Social Survey, inquiriu polacos, portugueses e suíços. Em traços largos, relativamente aos portugueses, chegou-se à seguinte conclusão: opõem-se mais à entrada de imigrantes no seu país do que os polacos ou os suíços, embora sejam menos nacionalistas do que aqueles. Como refere Jorge Vala, coordenador do estudo em Portugal, "Quanto maior é a identificação com o país, mais se valoriza a tradição, o conformismo, a segurança. Pelo contrário, quanto maior a identificação com a Europa, mais se está orientado para valores de abertura à mudança, de realização pessoal, com maior capacidade de integrar situações de incerteza e valorizando o prazer e a gratificação". Em Portugal prevalecem os indivíduos que se identificam simultaneamente com o país e com a Europa. Isto significa que a maioria não está muito aberta à mudança, nem essencialmente virada para a tradição. Apesar de serem menos nacionalistas do que os polacos ou os suiços (18% contra 42% na Polónia e 38% na Suíça), os portugueses, devido ao seu perfil de identificação "misto" ou "ambíguo", têm em média uma atitude mais restritiva em relação à imigração.
A 28 deste mês, realiza-se no ICS-UL um Seminário de Apresentação de Resultados - Identidade Nacional 2003, dedicado ao tema «Nação, Nacionalismo e Exclusão». É organizado por Jorge Vala e José Manuel Sobral, coordenadores do módulo sobre Identidade Nacional no projecto «International Social Survey Programme».
Desconheço os resultados relativos a 2003, mas lembro-me que estudos anteriores mostraram que o espaço de afirmação identitária da maioria dos portugueses não se confinava a Portugal e à Europa; estendia-se à África, ao Oriente, ao Brasil… ao mundo, como outrora ao império.
Pensando na letra «Não sou daqui», parece que os portugueses gostam dos lugares dos outros e dos outros noutros lugares distantes, mas têm alguma dificuldade em partilhar o seu lugar com os outros e em reconhecer neste lugar o lugar de todos.
0 comments:
Enviar um comentário