terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

Portugal moderno?

Muitos foram os vitoriosos do referendo. Já ouvi de tudo: foi a vitória da modernidade, da civilização, do povo (desculpem, eu queria dizer da sociedade civil), do Sócrates, do Louçã, do Jerónimo, do Carvalho, etc. Também se apregoa a derrota da Igreja, da direita conservadora, de uma certa direita económica, das tias de cascais, do Prof. Marcelo etc. Afinal, vivemos num país progressista! O 25 de Abril acabou por se cumprir 30 anos depois! A coisa não está assim tão mal como parecia!
Acho que devemos cingir-nos aos dados. Estes resultados foram muitos bons! A diferença de quase 20% até foi uma surpresa. Mas, atenção, o NÃO alcançou mais de 40%. O SIM tinha por detrás 3 partidos, enquanto o NÃO apenas 1. Em termos de mobilização o NÃO dinamizou muitos mais movimentos cívicos. Apesar de tudo, o NÃO alcançou um dos seus objectivos: o referendo não é vinculativo, os que não votaram ultrapassaram em número aqueles que quiseram expressar a sua opinião. A abstenção foi superior à verificada no referendo sobre a regionalização realizado em 1998.
Não estou a querer minimizar a vitória, mas acho que ela não deve ser maximizada. Portugal não está, nem ficou mais moderno. Talvez tenhamos ficado mais aliviados porque tomámos consciência de que afinal não somos assim tão retrógrados. Mas, uma coisa tenho como certa, ontem não houve nenhuma revolução, nem nenhuma ruptura relativamente à dominação de determinada elite ou classe social. O país está o mesmo, apenas um pouco mais desempoeirado. Mudou alguma coisa. Mudou sobretudo a oportunidade de vida para algumas mulheres (o que é muito importante). Mas não mudou mais nada!

4 comments:

vallera disse...

pois não Renato.. foi um bocadinho à la gattopardo - é preciso que as coisas mudem para que tudo fique na mesma..

Zèd disse...

"porque tomámos consciência de que afinal não somos assim tão retrógrados"
Permitam-me um tom ligeiramente mais optimista, termos tomado consciência que não somos assim tão retrógados não é nada pouco. E o NÃO teve de facto uma votação baixíssima tendo em conta os meios financeiros que utilizaram, a tradição católica em portugal, a vitória no referendo de 1998, etc... Terem tido apenas um partido (e por sinal pequenito) por trás é em si muito significativo. É apenas um pequeno passo, é verdade que o país continua o mesmo, mas abriu-se um precedente. É apenas o começo do que está para vir (esta foi mesmo optimista :-).

Anónimo disse...

Eh pá, que grande desmancha-prazeres, este Renato.
Então agora que a coisa estava em clímax crescendo aqui no blogue, zás, um coitus interrompidus.
Caramba!
Não habia nechexidade.

Z disse...

Ó Renato desculpa lá mas acho que temos que ser um pouco mais optimistas....é certo que o país não se transformou no paraiso mas ao menos, no que toca a este assunto, já não somos todos hipócritas (ou pelo menos totalmente)....e acredita que isso faz toda a diferença...